Andrea Trindade
Vanessa Sena Alves, 33 anos, mãe biológica do recém-nascido que foi entregue de maneira irregular a um casal na última quinta-feira (29), compareceu na tarde desta segunda-feira (2) no Complexo de Delegacias, no bairro Sobradinho, em Feira de Santana, para prestar depoimento sobre a entrega de sua filha recém-nascida ao casal Hailton Cerqueira Chagas, 39 anos, e a esposa Nocilia de Souza Rocha, 40 anos.
Vanessa esteve na delegacia na sexta-feira (30), após a prisão em flagrante do casal, mas foi orientada a se apresentar nesta segunda. Ela afirmou que não recebeu dinheiro nenhum pela entrega do bebê. Segundo a denúncia, o casal, que já foi liberado do Conjunto Penal de Feira de Santana desde domingo (1), pagaria R$ 5 mil pela criança, uma menina de uma semana de vida.
"Dei porque eu quis e não tinha condições nenhuma de cuidar da criança. Eu não joguei no lixo, não fiz nada demais. Eu preferi dar para uma pessoa que tinha condições melhores que eu. Agora me diga onde foi que eu errei em dar essa criança. Eu estou aqui (na delegacia) porque não tenho nada a esconder. Não matei, nem maltratei. Agora muitas mães que não podem criar não vão dar porque ficarão com receio. Agora estão fazendo um abismo com isso", declarou Vanessa informando que o bebê foi entregue a um parente de Hailton através de duas irmãs dela.
A menina está internada no berçário do Hospital Estadual da Criança (HEC). Segundo o hospital, o quadro dela é estável, e ainda não tem previsão de alta. Ainda segundo o hospital, ela passa por um tratamento para icterícia (popularmente conhecida como amarelão), sem maiores complicações.
Vanessa tem outros filhos e é de Feira de Santana, mas deu à luz ao bebê prematuro no estado do Ceará. De acordo com a delegada Klaudine Passos, a denúncia foi feita pela Polícia Federal, e a Polícia Civil recebeu a determinação do coordenador regional para que fosse feita uma investigação, de imediato, acerca de um casal que estaria com um recém-nascido da cidade de Fortaleza e que teria sido retirado da cidade após ser comprado por 5 mil reais.
A delegada afirma que o Conselho Tutelar também já tinha recebido a denúncia e que quando a polícia chegou à casa do casal, o Conselho já tinha retirado o bebê, minutos antes.
Durante o interrogatório, Vanessa disse que o pai da menina não sabia da gravidez. “Ela engravidou em maio, soube da gravidez em outubro e, escondendo a gravidez dos familiares, teria ido para a cidade de Fortaleza (CE) para visitar os outros filhos que tem, um de 2 anos, um de 1 e outro de três, que moram com o pai. Lá ela permaneceu e mantinha contato com uma colega dela que era diarista da intermediadora. Enquanto mantinha esse contato, esboçou o desejo de passar a criança para outra família e a intermediadora providenciou o transporte para que ela voltasse para Feira. Teve a criança em Fortaleza, segundo ela, e no dia 30 de janeiro ele chega e concretiza as tentativas com a intermediadora que entregou a criança para o casal adotar”, disse a delegada.
Crime
A delegada disse que o casal será indiciado pelo artigo 242, do Código Penal mas que a autoridade policial não vai representar pela prisão preventiva.
“O casal teve liberdade provisória porque tinha requisitos para isso. Tem residência fixa, emprego e não tinha antecedentes criminais. Todavia a prisão naquele momento (sexta-feira) era necessária. O casal pode retornar para a prisão se no curso do processo o juiz entender que é necessário, mas a autoridade policial não vai representar pela prisão preventiva deles”, disse.
“Analisamos aqui a existência de abandono de incapaz e vamos verificar que ela citou algumas pessoas que a acompanharam. Temos aqui a situação do pai da menina que diz que quer cuidar da criança e a gente ainda está avaliando a existência ou não do dolo da mãe neste caso. O que temos de concreto é que existia uma adoção que iria ser feita de maneira irregular porque houve a incidência do estado com a prisão em flagrante do casal. Temos também a situação da intermediadora, que nós temos uma denúncia de que havia tráfico de crianças, tráfico de órgãos e até mesmo de magia negra referente à criança e a gente não descarta a possibilidade de ter havido um tráfico de criança. Há também a situação da mãe que diz que não recebeu nenhuma forma de pagamento, mas que também não queria ficar com a criança”, continuou a delegada.
Em depoimento, Hailton informou que pagou a passagem de ônibus e mandou mais R$ 150, para o deslocamento do local onde a mãe estava até a rodoviária. A mãe, segundo a delegada, estava com o documento de nascimento e carteira de identidade. Ao chegar em Feira passou o bebê para a intermediadora, que teria cobrado R$ 2 mil para quitar despesas da viagem.
As informações são do repórter Aldo Matos do Acorda Cidade