Reginaldo Lima
A vida do meio campista Anderson Talisca, ou Doda, como era conhecido pelos moradores e amigos do conjunto Paulo Souto, no bairro Aviário, antes de chegar ao Esporte Clube Bahia, não foi fácil. O menino pobre era proibido pela mãe, dona Ivone, de sair para jogar bola, coisa que mais gostava de fazer. Ele sempre arrumava uma forma de fugir e correr para os campinhos próximos da casa simples onde morava no bairro da periferia de Feira de Santana, interior da Bahia. Talista também morou com o pai no bairro Rua Nova, no período de um ano, dos 5 aos 6 anos de idade.
Dona Ivone conseguiu dar um jeito de segurar o garoto em casa, colocando-o nas aulas de reforço escolar com a professora Jéssica Vasconcelos, que na verdade se tornou uma aliada de Doda, ou Dodinha, o menino comprido do Aviário.
“Ele chegava para fazer os deveres de casa apressado, então, eu o ajudava e depois o liberava pra ele ir para os treinos do time do Astro, na Fazenda do Menor (projeto que tirava os meninos das ruas)”, contou a professora.
A vizinha da família, Célia Araújo dos Santos, também conta que a mãe de Talisca se preocupava muito com os estudos do filho e por isso o proibia de jogar bola.
“A mãe queria que ele estudasse muito, mas ele era louco por bola. Ele saía e tomava banho na casa da minha amiga, depois pedia a professora para deixá-lo ir treinar. A pró deixava escondido da mãe, que tinha medo de deixar ele sair, pois a gente mora num bairro violento. Ela tinha medo, mesmo assim ele ia”, contou.
Jorginho, filho de Célia, era um dos melhores amigos de Talisca, que sempre ia até a casa da vizinha chamar o garoto para jogar bola. “Não queria que Jorginho saísse para brincar de bola com ele, pois eu tinha medo que ele aprendesse coisas erradas, o bairro é muito perigoso”, afirma dona Célia.
(Dana Célia e o filho Jorginho, amigo de infância de Talisca)
Jogar bola sempre foi um sonho do garoto Talisca. Quando estava nas divisões de base do Bahia, ele gostava de trabalhar como gandula nas partidas do time profissional, no estádio Metropolitano de Pituaçu, talvez para aprender, ou por “fome de bola”. Em 2012, Talisca foi vice-campeão da Copa São Paulo de Futebol Júnior pelo Bahia na decisão com o Flamengo. Logo depois, ele chegou ao time principal, onde neste ano foi escolhido o craque do Campeonato Baiano.
Ainda em 2014, no meio do Brasileirão, Talisca foi vendido para o Benfica de Portugal, e logo no início no time português, o menino de Feira de Santana já é o artilheiro da Liga Portuguesa, desempenho que chamou a atenção dos milionários ingleses Arsenal, Chelsea, do técnico José Mourinho, que elogiou muito o brasileiro, e também do Manchester United, além de alguns gigantes italianos.
O início empolgante na Europa fez com que o técnico Dunga convocasse o menino do bairro Aviário para a Seleção Brasileira. Mas para quem pensa que essa será a primeira vez que Talisca, apelido que ganhou na base do Bahia, vai vestir a camisa amarelinha, está enganado! A primeira amarelinha que Talisca vestiu foi a da Associação Unidos Venceremos, equipe amadora do Aviário, motivo de orgulho para Evandro Oliveira da Silva, que foi o primeiro técnico do jogador e com muita alegria nos mostrou o registro desse momento.
Hoje, ver Talisca na Seleção Brasileira é motivo de muito orgulho e alegria para os moradores do bairro Aviário. “Estamos doidos para ele jogar na terça-feira. Ele sempre foi um menino muito bom. Quando ele estava no Bahia sempre vinha aqui no bairro e jogava bola no campo do lado do presídio com meu filho e os outros meninos. Eu fico muito feliz pelo sucesso dele” disse dona Célia, emocionada.
Colaboraram José Ricardo Santos e Daniela Cardoso/Acorda Cidade
Fotos: José Ricardo Santos