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Padrão para metrópoles mundiais, Estocolmo planeja ter mais pedestres do que carros no futuro

Capital sueca foi pioneira em construir pedágios urbanos para barrar entrada de veículos na zona central durante os horários de pico.

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A concepção de "Visão Zero" da Suécia tem se tornando o padrão para muitas cidades do mundo, como Nova York e Seattle, nos Estados Unidos, e Londres, na Inglaterra. Em sua forma básica, a política é adotar, como objetivo oficial, a redução das mortes no trânsito e os acidentes com feridos ao número zero — combinando engenharia, educação e execução.

Nos Estados Unidos, a campanha "Visão Zero" procurou enfatizar o que acontece nas principais ruas da cidade. No entanto, o que muitos entusiastas do país se surpreendem em descobrir é que em Estocolmo, na capital da Suécia, essa política não é o maior fator para o planejamento urbano.

Ao invés disso, a "Visão Zero" sueca focou, nos últimos 20 anos, em motoristas e em carros, tornando esses percursos mais seguros por meio de estradas maiores e em áreas não-urbanas.

O diálogo internacional entre Estocolmo e cidades como Nova York, com ênfase na proteção do pedestre urbano, é parte da mudança. "Na Suécia nós já estamos na 'Visão Zero 2.0'", contou o ciclista-militante Lars Strömgren ao jornal estadunidense New York Times. "A diferença é que antes o foco era nos motoristas e no uso seguro do carro, tentando minimizar as mortes e os ferimentos no trânsito. Agora nós queremos inserir os benefícios à saúde existentes nas locomoções em bicicleta ou a pé", completou.

Estocolmo já foca em seus pedestres, mesmo que eles não estejam contemplados no projeto original da Visão Zero. O plano-diretor da cidade, para se ter uma ideia, é chamado "The Walkable City" ("A cidade caminhável", em tradução livre). A capital sueca foi um dos primeiros lugares do mundo a implementar pedágios urbanos, e embora tivesse a oposição de 70% dos cidadãos antes da implementação, em 2006, agora a mesma porcentagem apoia a medida, que cobra taxas de motoristas que entram na zona central da metrópole com seus carros privados.

Estocolmo possui uma grande área central que rememora o período medieval da cidade e, por isso, muitas ruas são fechadas para o trânsito de automóveis. Algumas dessas barreiras também eram veementemente resistidas pela população há dez anos atrás, mas hoje são apoiadas pela imensa maioria dos habitantes. Todo veículo de Estocolmo possui um tag pedágio, que dá acesso a determinados lugares mediante pagamento de tarifas — semelhante às praças de cobrança das estradas brasileiras.

Uma das razões para a popularidade da proposta de tornar Estocolmo uma cidade "caminhável" é que ela se provou economicamente benéfica. A consultoria de planejamento urbano Spacescape, por exemplo, explorou esse fator em uma pesquisa publicada neste ano. "Nosso estudo sobre o mercado imobiliário residencial e comercial na cidade mostrou que a acessibilidade explica as diferenças entre preços e aluguéis", diz um trecho do relatório.

"Identificamos o valor monetário específico de distâncias a pé para lojas, restaurantes, pontos culturais, paradas de trânsito, conectividade nas ruas, parques e fontes. Surpreendentemente, a acessibilidade dos carros não tinha um efeito significante nos preços dos apartamentos ou nos aluguéis de escritórios. Estocolmo é uma das cidades que crescem mais rápido na Europa, e seu mercado imobiliário é movido pela acessibilidade. É muito difícil dizer para você não levar esse mercado em conta: o argumento econômico tende a vencer em desenvolvimento urbano", afirma outro.

A qualidade de vida em muitos bairros de Estocolmo é diretamente afetada pela decisão de quase eliminar carros. "É muito bom viver aqui com seus filhos, porque você pode deixá-los brincar na rua sem temer que um carro apareça de repente", disse Linda Kummel, diretora da Spacescape, ao New York Times.

À medida que a Visão Zero se expande, uma nova dimensão está emergindo sobre essa postura. Gradativamente, planejadores e militantes estão conversando sobre criar cidades ricas em interações humanas, que provêm um ambiente saudável que coloca as pessoas acima dos carros em vários sentidos. Esses lugares são, por definição, menos barulhentos, mais limpos e seguros para gente de todas as idades.

Além disso, eles são economicamente sustentáveis: "Se você é pró-crescimento, Estocolmo mostra como a acessibilidade e o projeto urbano podem direcionar o mercado", afirma Strömgren. "O meio ambiente e os benefícios sociais surgem como bônus", finaliza.

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