Ao lado do território, tanques de Israel posicionados e o Exército prestes a iniciar uma operação por terra, mar e ar. Dentro dele, bombardeios e carência de alimentos, energia, água e outros insumos em decorrência de um bloqueio. E a única saída possível – via Egito, fechada.
Esse é o cenário para os moradores da Faixa de Gaza, onde a situação – segundo a agência da Organização das Nações Unidas (ONU) e a Médicos Sem Fronteiras – é catastrófica.
Desde o início do conflito, iniciado após o ataque terrorista do Hamas a Israel, mais de um milhão de pessoas – entre elas centenas de estrangeiros, inclusive um grupo de brasileiros – fugiram para cidades do Sul de Gaza, onde esperam que a abertura da fronteira os permita deixar o território antes que Israel inicie uma incursão por terra.
Há dias, Israel e Egito travam negociações mediadas pelos Estados Unidos para criar um corredor humanitário de saída de estrangeiros pela fronteira do sul de Gaza com o Egito. Neste domingo, os Estados Unidos acusaram o Hamas de travar esse acordo.
Segundo o conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, entretanto, o Hamas travou o acordo.
“Os egípcios concordaram em permitir que os americanos cruzassem a fronteira por Rafah (a cidade fronteiriça). Os israelenses garantiram que tentariam, no que cabe a eles, manter a área segura. Ontem (14) tentamos retirar um grupo (de cidadãos norte-americanos), mas a questão foi que o Hamas impediu que isso acontecesse”, disse o conselheiro, em entrevista à rede norte-americana CBS.
E, mesmo que as negociações venham a ser destravadas, elas não ncluirão os palestinos. Tanto o Hamas como o presidente do Egito já disseram que não permitirão a saída de moradores de Gaza por Hafa.
Única saída por terra
Rafah, onde estão milhares de palestinos e centenas de estrangeiros – incluídos os brasileiros que o Itamaraty tenta resgatar – é a única saída da Faixa de Gaza fora das fronteiras com Israel. É também a última esperança para quem tenta deixar Gaza.
Normalmente, os postos de controle de Rafah ficam fechados. Nenhum morador da Faixa Gaza pode cruzar essa fronteira, salvo casos excepcionais como, emergências de saúde previamente autorizadas.
Em tempos normais, os palestinos que vivem ali também não podem sair do território pela outra fronteira, a de Israel, a não ser em casos autorizados pelo governo israelense – uma autorização que, além de pouco provável, pode demorar anos para sair.
Por isso, há moradores de Gaza que nunca na vida puderam sair do território, que tem 2 milhões de habitantes e cerca de 1/4 do tamanho da cidade de São Paulo.
Com a guerra, a ONU e a comunidade internacional, no entanto, começaram a pressionar para que a fronteira sul fosse aberta – os postos são controlados por oficiais de fronteira tanto do governo egípcio quanto do Hamas, que governa a Faixa de Gaza (o grupo terrorista também tem um braço político, que venceu as últimas eleições no território).
Mas Israel também tem ingerência nesses postos de controle, e, na semana passada, iniciou conversas com o Egito, que vinha resistindo a liberar as fronteiras – o país teme uma enxurrada de refugiados e a transferência do conflito para seu território.
Neste domingo (15), o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, foi ao Cairo, no Egito, onde se reuniu com o presidente do país, Abdel Fattah al-Sisi, para pressioná-lo a abrir os postos de controle.
No sábado (14), membros do governo egípcio que participam das negociações afirmaram à agência de notícias norte-americana Associated Press e à rede de TV Al-Jazeera que as duas partes haviam chegado a um acordo, mas não especificaram quando a fronteira seria aberta.
De qualquer maneira, há um grande entrave: o acordo prevê apenas a saída de estrangeiros, e o Hamas e o próprio Al-Sisi já afirmaram que cidadãos palestinos não serão permitidos nessa passagem.
A não ser que a decisão seja revertida, os cerca de dois milhões de palestinos que vivem em Gaza estão literalmente em um beco sem saída.
Mais da metade deles, segundo a ONU, se deslocou ao sul do território depois de Israel pedir que moradores do norte da Faixa de Gaza – incluindo a Cidade de Gaza – deixassem suas casas, indicando a iminência de uma invasão inédita por terra.
‘Sentença de morte’
Nas principais cidades do sul, como Khan Younes e Rafah, a ONU disse que a situação beira o insustentável.
Não há comida nem água para todos, e o fornecimento de energia elétrica foi cortado por Israel no início da semana, na tentativa de pressionar o Hamas a entregar os mais de cem reféns que foram sequestrados pelo grupo terrorista na invasão a Israel na semana passada.
O governo de Israel pediu ainda que hospitais no norte fossem esvaziados, uma ordem que o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, chamou de “sentença de morte” e exigiu que fosse revertida.
“Essa ordem é praticamente impossível de ser implementada, e é uma sentença de morte para os doentes e feridos. Os profissionais da saúde permanecerão ao lado de seus pacientes”, disse.
Fonte: G1
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