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'Vai muito além da pele, dói na alma', diz feirense que denunciou ser vítima de racismo em hotel no RS

De acordo com o consultor, os funcionários do hotel demonstravam que se sentiam incomodados com sua presença e passaram a revirar suas coisas, enquanto ele estava fora.

Laiane Cruz

O feirense Nefferson Martins dos Santos usou a sua conta no Instagram nesta quarta-feira (28) para denunciar o caso de racismo que sofreu em um hotel da cidade de Caxias do Sul, município do Rio Grande do Sul.

O vídeo causou grande comoção e repercutiu nas redes sociais, sendo visto por quase 80 mil pessoas em apenas um dia (Assista ao vídeo no final da matéria).

Em entrevista ao Acorda Cidade, Nefferson dos Santos revelou que mora em São Paulo, onde trabalha como consultor comercial para uma empresa e que foi mandado para a cidade de Caxias do Sul para um trabalho temporário. Ele se hospedou em um hotel e pagou as diárias referente aos dias em que iria permanecer no estabelecimento.

“Fiquei hospedado num hotel de grande porte e visibilidade na cidade, frequentado por executivos e empresários de clube de futebol da cidade, e infelizmente a minha estadia incomodou a recepção do hotel, a governanta, que sempre me olhava feio e eu sentia a diferença no cuidado dentro do quarto. Eu não tinha serviço de quarto e precisava ligar todos os dias para a recepção para pedir coisas, que eram de direito. E eu precisei guardar as coisas, pra ninguém tirar de lá e eu não sentir falta, como sabonete, toalha, cobertores, e infelizmente eu reclamava todos os dias”, relatou ao site.

De acordo com o consultor, os funcionários do hotel demonstravam que se sentiam incomodados com sua presença e passaram a revirar suas coisas, enquanto ele estava fora.

“De tanto eu reclamar, eles se sentiam incomodados, entravam no meu quarto e eu sentia que as coisas estavam diferentes, fora do lugar. Mexeram na minha bolsa e pegaram as coisas que estavam no quarto e que eu estava guardando justamente para eles não pegarem, como toalha e cobertor. Fui reclamar na recepção, porque simplesmente o chefe de segurança não gostou da minha cara, começou a rir e pediu para eu sair do hotel, que se eu não saísse, ele mesmo iria subir e iria pegar minhas coisas lá em cima”, afirmou.

Nefferson dos Santos se dirigiu então a uma delegacia da cidade, onde prestou queixa contra o racismo sofrido dentro do hotel. Ao retornar, se deparou com seus pertences já na recepção.

“Eu falei que iria na delegacia e que iria pegar minhas coisas no meu quarto. A diária estava paga, porque eu entrei dia 8 e sairia dia 1º de novembro. Fui na delegacia fazer o boletim de ocorrência, e quando eu voltei, simplesmente a minha mala já estava na recepção. Eles já tinham pegado minha roupa e arrumado minhas coisas sem a minha presença, assim como eles entraram sem a minha presença quando eu estava trabalhando fora. Fui abrir a minha bolsa para ver se eles não tinham colocado nada e me deparei com um saco de lixo com minhas coisas dentro.”

Para o feirense, a situação foi desumana e doeu na alma. Ele decidiu trazer a história a público e contratou um advogado para acionar a empresa judicialmente.

“É como se eu fosse um cachorro, como se eu não fosse ninguém. Por que esse destrato comigo? Eles jamais entrariam no quarto de um cara branco, no quarto de um executivo ou dos jogadores que frequentavam lá. Jamais iriam fazer isso, mas por que comigo agiram dessa forma? Não desejo isso pra ninguém. A dor que eu passei vai muito além da pele, dói na alma, no espírito e vou procurar os meus direitos. Já estou com advogado, movendo uma ação contra esse hotel, não vamos deixar isso barato. Porque, infelizmente, em pleno século XXVI, somos tratados dessa forma. O meu lugar é onde eu quiser estar, é em todos os lugares e eu exijo respeito, cuidado, assim como foram pagas todas as estadias, então eu tinha direito a tudo que estava proposto, de acordo com as diárias”, desabafou.

O que diz o hotel

Foto: Reprodução/Instagram
 

O hotel nde Nefferson ficou hospedado, se pronunciou através de um comunicado em sua página oficial no Instagram, sobre o ocorrido.

No comunicado, o hotel afirmou que, em seus procedimentos internos de controle, não constatou a prática de discriminação em suas dependências, de sorte que levou o fato ao conhecimento das autoridades públicas por meio de registro de ocorrência policial e seguirá colaborando para a correta elucidação do episódio.

A nota diz ainda que a empresa repudia e não autoriza a prática de qualquer tipo de discriminação, trabalha com a inclusão social e o respeito à diversidade.

 

Nota de Repúdio


A Rede Travel Inn Hotels, administradora do Axten Caxias do Sul, repudia de forma veemente e convicta do esclarecimento dos fatos, a inadequada e improcedente acusação da prática de discriminação racial contra um hóspede da unidade localizada na Serra Gaúcha, supostamente ocorrida na tarde do dia 26 de outubro. A acusação de racismo é, na verdade, como demostram vídeos do circuito interno de vigilância, registros fotográficos, documentos e correspondência online, uma tentativa do hóspede de ocultar uma série de condutas que atentam contra a legislação brasileira, regras sanitárias e normas internas do hotel.

Certos de que a atitude do hóspede que ganhou fôlego em noticiários e perfis em redes sociais não irá manchar uma história de cordialidade e bons serviços oferecidos com padrão internacional desde 1987. Temos a convicção de que nossos colaboradores seguiram protocolarmente todas as tratativas para evitar o fim do contrato de hospedagem da suposta vítima, notificando sua empresa, seu supervisor imediato e ele mesmo sobre a inadmissibilidade de reiteradas práticas. As condutas reprovadas incluíam o uso de cigarros nas dependências do hotel, danos ao patrimônio e a circulação em áreas comuns sem o devido respeito às regras sanitárias impostas pelo governo do Estado para o combate ao Covid-19.

Cabe ressaltar que o hóspede não foi impedido de acessar as dependências do hotel e que seus objetos pessoais foram acondicionados em suas malas de acordo com procedimentos que seguem um protocolo para casos como este. A Rede teve a preocupação de acionar a Brigada Militar para que acompanhasse o check out do cliente como forma de garantir a transparência na restituição dos bens e assegurar a integridade de todos os envolvidos no episódio.

Em face às acusações, a Rede instaurou uma sindicância que será remetida à Polícia Civil, bem como todo material multimídia que evidenciam a idoneidade dos colaboradores e aos subterfúgios usados pela suposta vítima. Cabe ressaltar que a Rede não compactua com práticas discriminatórias e irá buscar reparação judicial por eventuais danos a sua imagem, bem como de seus funcionários.

 

 

 

 

 

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