“Com pouco tempo que cheguei em Feira, senti a África dentro do Brasil, e o Brasil dentro da África”, contou o príncipe africano Rasheed Adewale Adefioye, de 53 anos, também conhecido como Babá Adimula.
Ele reside em São Paulo há mais de 20 anos, e está na Bahia desde o dia 20 de janeiro, onde visitou algumas cidades. Em Feira de Santana, o príncipe nascido na cidade de Ilê Ifé, na Nigéria, conheceu as ações desenvolvidas pelo projeto Moviafro.
Adimula é comerciante, babalorixá, ex-candidato a vereador por Itaquaquecetuba, em São Paulo, e professor de ioruba.
Em entrevista ao Acorda Cidade, o príncipe nigeriano contou algumas curiosidade sobre a família real de origem e como chegou ao Brasil há 23 anos.
“Esse Adimula é o nome da família real da minha cidade, que eu carrego, e por todo lugar aonde vou, carrego minha família junto comigo. Eu já estou morando no Brasil vai fazer 23 anos, em São Paulo, viajo muito, mas este país é como minha segunda casa. Posso ficar um mês fora, sempre volto para o Brasil.”
Segundo Baba Adimula, logo que chegou ao Brasil, tinha o sonho de conhecer a Bahia, mas nunca teve oportunidade.
“Viajo muito, já fui para Teresina, no Piauí, e esse ano falei que iria conhecer a Bahia. Tenho uma amiga que se chama Edivânia Vitória e tenho um amigo que fiquei na casa dele.”
Sobre a Nigéria, ele informou que o país é uma democracia, mas em cada cidade existem as famílias reais, que são ligadas aos seus ancestrais no candomblé.
“Lá existem os políticos e os comandantes de famílias reais, cada cidade tem seu rei. Na minha cidade tem quatro famílias reais. Para ser príncipe tem que nascer da família real. Todas têm ligação com seus ancestrais, que colocou a todos nós no mundo, como um pai que tem quatro filhos, e cada ano uma recebe uma herança. Todas vêm de Odudua”, contou.
Admula revelou que não tinha a intenção de morar no Brasil, mas após ser convidado por um amigo, resolveu que aqui seria sua segunda casa.
“Eu morava na Nigéria e não era minha intenção vir para o Brasil, mas tinha um amigo que mora aqui e vende bijuterias. Ele levava as bijuterias para a Nigéria, ficava um mês, e teve um dia que ele demorou muito para voltar, então eu falei para ele que não queria que ele sofresse mais e disse: ‘Próxima viagem, assim que você voltar, eu vou comprar sua mercadoria para você voltar para o Brasil logo. Ele me convidou para conhecer o Brasil.”
Segundo o príncipe, a rotina dele em São Paulo é fazer negócios e ajudar a quem precisa. Para aprender a língua portuguesa, ele revelou que contou com a ajuda das novelas.
“A língua aqui é muito difícil, mas escolhi aprender com determinação e concentração, levou quatro meses para eu aprender e até hoje me considero um aluno.”
A visita a Feira de Santana e cidades próximas na região rendeu boas memórias, ele destacou que pretende retornar à cidade.
“Feira de Santana vai ficar na minha mente. Não conheci muito da política, mas espero que futuramente eu saiba. Cheguei aqui dia 20 e conheci uma cachoeira e um rio, onde tirei fotos, e muita coisa na cidade eu gostei muito.”
A produtora cultural e coordenadora do núcleo Moviafro de Pedagogia, Edivania Vitória Moreira, foi responsável pela visita do príncipe africano à Bahia. Em entrevista ao site, ela contou como surgiu o convite e a importância que a presença de Adimula tem para os seguidores das religiões de matriz africana na Bahia.
“Eu sou feirense e Omo Ifá, através da religião tradicional, que cuida de Ifá, desde 2015. Também sou iniciada no candomblé, mas isso já foi em 2017, e nós estamos conversando desde 2014. E sempre houve essa vontade do príncipe de conhecer a Bahia, porque eu mandava fotos, vídeos, então esse ano surgiu essa oportunidade e desde o ano passado que iniciamos essa vinda dele. Algumas pessoas aqui de Feira, em conversa comigo, concordaram em trazer o príncipe, como o coordenador do Moviafro, Val Conceição, que disse para trazer na época do concurso Miss Afro”, afirmou.
Ela observou que a visita de Baba Adimula é muito significativa para o povo preto da Bahia.
“Todos os lugares onde ele passa, sente algo que remete à Nigéria, à África, e a Ilê Ife, que é a cidade dele. Então estamos aí com essa grande visita, significativa. Quando ele desembarcou na Bahia todos se arrepiaram, estamos cumprindo agendas cheias, em várias cidades do interior, em Salvador, em uma caravana. O primeiro contato com ele pessoalmente foi ancestral, de energia positiva e cuidado.”
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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