A Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) sedia nesta quarta e quinta-feira, dias 6 e 7 de novembro, o II Seminário de Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental (PPGECEA), que tem como tema “Inovação Tecnológica e Sustentabilidade na Engenharia”.
O evento bienal reúne acadêmicos, profissionais e representantes do setor produtivo com o objetivo de compartilhar conhecimento, formar parcerias e divulgar resultados de pesquisas que impactam o Semiárido brasileiro e o cenário global. Organizado por professores e estudantes do programa, o seminário também busca atrair novos alunos, fortalecer vínculos com ex-alunos e estabelecer relações entre os setores público e privado.
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Para Fernanda Melo Reis, mestranda do programa, a experiência de participar na organização do evento é fundamental para sua formação acadêmica e profissional. “A experiência de organizar um evento como o Seminário do PPGECEA foi muito significante por conta de procurar parceiros, contactar empresas e levar um pouco do que o programa faz e das intenções do programa para a sociedade. Então há essa união entre a iniciativa privada e o conhecimento científico, e espero que isso seja levado para frente”.
O programa também adota estratégias específicas para consolidar parcerias com o setor produtivo, identificando problemas enfrentados por empresas e trazendo essas questões para o ambiente acadêmico. “As estratégias são na tentativa de ter uma resolutiva para um problema de um setor privado e, nessa, trazer esse problema para a instituição e aqui desenvolver de fato soluções que procurem agregar para esses setores”, explica Fernanda ao Acorda Cidade.
Entre os resultados das pesquisas apresentadas, destaca-se o uso de bambu na construção civil. “As pesquisas apresentadas no seminário dizem respeito à aplicação de bambu na construção civil e ela tem maior potencial de se desenvolver, até porque houve um lançamento de norma recentemente. Para nós, engenheiros, quando uma norma é lançada, já está consolidada e em andamento.” Além disso, foram discutidos materiais de mudança de fase, com planos de realizar experimentos em escalas maiores para avaliar seu potencial de aplicação.
Para a mestranda, a expectativa é que o programa continue crescendo ainda mais. Na primeira edição, participaram em torno de 70 alunos e seis empresas envolvidas. Neste segundo seminário, foram 100 alunos inscritos, com mais de 15 empresas interessadas em fechar parceria. Aumentar a nota do programa na Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) também é almejado, assim como a implementação do doutorado na área.
Em entrevista ao Acorda Cidade, Silas de Andrade Pinto, professor do Departamento de Tecnologia e do PPGECEA, ressaltou a relevância do tema do seminário e sua relação com as demandas ambientais.
“Temos políticas que visam cada vez mais a redução de resíduos e dos impactos ambientais na sociedade. Consequentemente, temas que abordam essas reduções são cada vez mais importantes, uma vez que desenvolver tecnologias e políticas que favoreçam a redução desses impactos são importantes para todo o cenário, tanto local, regional, nacional e até mundial. Trabalhar com sustentabilidade é o que motiva não só o nosso programa, mas todo o desenvolvimento político-econômico existente”.
Segundo o professor, essa sustentabilidade também responde às necessidades específicas do Semiárido brasileiro. “Na nossa região, desenvolvemos sistemas de cooperativas e outros elementos, sempre visando o reaproveitamento de vegetação existente. Esse sistema de cooperativismo, querendo ou não, acaba gerando resíduos, e o programa trabalha no desenvolvimento de novos materiais ou tecnologias que venham a contribuir para a sociedade de Feira de Santana e até mesmo para a Bahia e o Brasil”.
O professor ainda menciona o reaproveitamento de resíduos agroindustriais, um dos avanços mais consolidados pelo programa.
“O que nós temos, principalmente, é a reutilização de resíduos agroindustriais e agrícolas, especialmente oriundos de materiais vegetais, como fibras de sisal e coco. Empregamos esses materiais, que em muitos casos poderiam ser descartados, mas que são reaproveitados em concreto para evitar fissurações ou até mesmo em pavimentação. Esses são os carro-chefes, mas não nos limitamos a isso, desenvolvendo também nanomateriais a partir de materiais vegetais”.
Dentro do programa, as áreas de estudo são divididas em três linhas principais: materiais de construção, modelagem e cálculo estrutural, e saneamento urbano. O professor Silas descreve o foco de cada uma dessas áreas.
“Eu estou vinculado à linha de materiais de construção. Desenvolvemos com foco em matrizes cimentíceas, como pastas, argamassas e concretos, focando sempre na reutilização de um resíduo para melhoria do seu desempenho ou até mesmo durabilidade. Na modelagem e cálculo estrutural, esses produtos são analisados perante a sua capacidade de serem utilizados em uma estrutura de concreto armado, por exemplo. E na área de saneamento urbano, buscamos mitigar os impactos desses materiais no meio ambiente”.
Entre os principais desafios do programa, o professor aponta a dificuldade de atrair profissionais para o mestrado e de estabelecer colaborações com empresas locais. Atualmente, o PPGECEA conta com 17 docentes, entre permanentes e colaboradores.
“O nosso principal problema é a baixa procura de profissionais para se especializarem no mestrado. Talvez por acharem que fazer o mestrado está unicamente atrelado a ser um professor, o que não é verdade, mas é ter mão de obra para que, de fato, essas pesquisas importantes sejam desenvolvidas. Atrelado a isso, temos também a baixa procura, inclusive, das empresas para que a gente possa solucionar problemas reais e necessários na nossa região”, explicou ao Acorda Cidade.
Silas também destacou a importância do envolvimento dos alunos na organização do seminário, ressaltando que essa participação reflete o compromisso do programa com a sustentabilidade e a inovação.
“Os discentes do programa que estão fazendo os seus respectivos mestrados, com temas cada vez mais pertinentes, mostram a importância justamente de se pensar na sustentabilidade. Não achar que sustentabilidade é apenas um ponto a ser dado, um cheque na lista a ser estudado. E isso faz pensar, também, que esses alunos, mesmo dedicados à sua pesquisa, estão desenvolvendo esse trabalho e que empresas da própria região se manifestaram a favor do nosso programa, patrocinando. Então, isso é um ponto importante também a se ressaltar, que não é comum. Eu fiquei surpreso quando houve esse interesse, e espero, obviamente, que nos próximos seminários essas empresas e outras estejam conosco também”.
O programa de pós-graduação do PPGECEA mantém abertas as inscrições para novos alunos regulares até o próximo dia 18 de novembro. Para ingressar, os candidatos devem propor um projeto de pesquisa relevante dentro das linhas de estudo oferecidas que será avaliado pela banca de seleção.
“Aqueles alunos que tenham interesse em alguma linha de pesquisa nossa, seja material de construção, modelagem, estruturas e saneamento, que submetam suas propostas. Estamos aqui de portas abertas, interessados em desenvolvê-las. Nós dependemos, obviamente, da participação de vocês e, até o dia 18, estamos recebendo todo esse processo e, ao longo do final desse ano, estaremos desenvolvendo todo o processo de primeira e segunda etapa do processo de avaliação deles. Então, conto com a presença de todo mundo”, finalizou professor Silas.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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