Abandono

Se arrastando há 20 anos, obra do Centro de Convenções é tomada pelo matagal

Já são 20 anos que a obra foi anunciada e nunca foi concluída.

Laiane Cruz

Anunciado desde 2003, o terreno e o prédio onde deveria estar funcionando o Centro de Convenções de Feira de Santana, localizado no bairro São João, estão em completo estado de abandono. Não é a primeira vez que o Acorda Cidade denuncia essa situação e cobra do poder público uma solução para a obra, que atualmente é cercada por um verdadeiro matagal e muros prestes a desabar. Tudo isso pago com o dinheiro do contribuinte.

Foto: Glêdson dos Santos/ Acorda Cidade

O comerciante Diógene Matos, que tem uma loja de material de construção próximo ao local e reside na parte superior do imóvel, disse que, da casa dele, consegue visualizar o terreno do Centro de Convenções por dentro. Para ele, o lugar se parece mais com uma floresta.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Esse Centro de Convenções está abandonado. A gente só queria que acabassem a obra, para ter uma movimentação mais ampla na cidade. Mas são mais de 20 anos aí de atraso. O pior de tudo é a marginalidade aqui ao lado, é muito perigoso nessa região. Entra deputado, sai deputado, governo, e nada de investimento para terminar a obra”, comentou.

Aos 23 anos, João Vitor disse acompanha desde novo essa situação, pois também mora próximo ao local e também já realizou pesquisas para entender o desenrolar da obra.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Esse Centro de Convenções nada mais é que um elefante branco. Mesmo sendo novo, acompanhei desde o início. Entra governo e sai governo, modificam algumas coisinhas, mas continua isso aí que todos vêem. Em 2003 foi quando anunciou, e em 2010 foi quando iniciou de fato a construção”, afirmou.

O representante comercial Rogério Freitas afirmou que sempre passa próximo ao local e reside em Feira de Santana, mas confessou no momento da reportagem que sequer sabia que aquele espaço se tratava de um Centro de Convenções.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Eu nem sabia o que era isso aí. Estou sabendo agora. Não fazia ideia que nosso dinheiro estava encostado aí nessa floresta abandonada. Moro em Feira de Santana, sou representante comercial e acho que isso aqui é uma coisa que iria valorizar muito não só o bairro, mas a cidade em geral”, opinou.

Para recordar

Apenas para recordar alguns fatos, em dezembro de 2018, após anos de abandono e obras paradas, a prefeitura de Feira de Santana anunciou que iria assumir a obra do Centro de Convenções, com a reformulação do projeto original e a construção do Teatro do Futuro. Naquele ano, o investimento foi estimado em 33 milhões de reais.

Em julho de 2019, questionado novamente sobre o andamento do projeto, que até àquela altura ainda não tinha saído do papel, o prefeito Colbert Martins informou que, na verdade, o governo municipal havia feito um convênio com o governo do estado, que teria repassado somente R$ 30 mil e depois nem mais um centavo.

Em 2021, o gestor municipal voltou a repetir que a obra é de responsabilidade do governo do estado, que teria abandonado o empreendimento. Além disso, a prefeitura teria cumprido sua parte do acordo, investindo R$ 300 mil para pagamento da empresa que refez o projeto.

O que diz a prefeitura hoje

Questionado acerca do assunto, o secretário de Planejamento da prefeitura, Carlos Brito, confirmou que a prefeitura firmou um convênio com o governo do estado, que teria repassado somente o valor de R$ 30 mil do acordo, mas posteriormente solicitou a devolução dos recursos.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Na realidade, aquilo é mais uma obra abandonada pelo governo do estado da Bahia. O Centro de Convenções foi concebido em 2003 e foi feito em uma área do município, que pagou pelo projeto e assim começou essa obra, como começou o de Itabuna. Foram idas e vindas, e de quatro em quatros anos, se fala em revitalizar, retomar o Centro de Convenções. Para nossa surpresa, nos foi proposta uma atualização de orçamento, anterior à eleição para governador do estado, e o município fez um convênio e demos uma alternativa. Iria ser um convênio para atualização do projeto, o município iria licitar, porque quem fez o projeto foi a prefeitura, e os mesmos profissionais que fizeram o projeto iriam atualizá-lo. Na hora de passar o recurso, o estado usou alguns argumentos pífios para não fazer a sua parte. O recurso foi de R$ 300 mil, e o estado tinha repassado R$ 30 mil, mas tivemos que devolver esse recurso. O município devolveu e o projeto está aí”, justificou Brito.

Ele ainda criticou a falta de empenho por parte do governo do estado e declarou que faltou também interesse político para concluir a obra.

Foto: Glêdson dos Santos/ Acorda Cidade

“O que me estranha é o desamor com Feira de Santana. O teatro de Itabuna estava muito atrás em termos construtivos que o de Feira. Foram repassados para Itabuna R$ 20 milhões e foi terminado o teatro de lá. Mas para Feira de Santana, absolutamente nada. Não havia interesse político. Em Itabuna tinha mais, porque o prefeito na época era aliado do governo do estado e foi feito. Aqui o pessoal tomou de volta o que tinha dado. E não existe qualquer tipo de alegação do governo do estado, a não ser não querer fazer. O governo não quer fazer a obra, e seria mais decente devolver a área à prefeitura”, salientou o secretário.

Perguntado se o município teria interesse em concluir a obra com recursos próprios, o secretário Carlos Brito opinou que haveria essa possibilidade, porém a decisão caberia ao prefeito, que teria que buscar recursos fora.

“Eu acho que há interesse do município e seria uma decisão do prefeito, mas teríamos que buscar recursos fora para terminar porque nosso orçamento não tem estrutura financeira para um desembolso desse tamanho. Nesse momento, não teríamos condição de fazer. Numa altura dessa, com o boom que teve na pandemia, não sei precisar o valor. Mas há três anos, antes da pandemia, seriam necessários, acredito que R$ 50 milhões para terminar e fazer também um balcão de negócios ao lado, para que pudéssemos incentivar o comércio dessa cidade tão pujante”, avaliou.

Foto: Glêdson dos Santos/ Acorda Cidade

Brito disse ainda que, quando à limpeza do local, a responsabilidade também é do governo do estado, assim como o muro, que desabou em uma parte. “Uma vez tentamos limpar, e vieram com muitas críticas imaginando coisas diferentes, que estávamos querendo fazer política, em véspera de campanha, mas são críticas que a gente entende o calor da eleição, e que agora devem voltar à tona, com este imóvel que está abandonado há mais de 20 anos.”

O Acorda Cidade entrou em contato com a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Bahia (Conder) e aguarda retorno.

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.  

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