Visibilidade

Representatividade importa: crianças e racismo

As crianças costumam internalizar o que ouvem e o que observam em seu cotidiano. Por isso, a família tem um papel fundamental na construção de novas perspectivas.

Foto: Freepik
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O primeiro ambiente de socialização das crianças é a família, e esse ambiente se difunde com o ingresso da criança no contexto escolar, por exemplo. Estudos na área de educação infantil revelam que, ainda na primeira infância, a criança já percebe diferenças na aparência das pessoas. A responsabilidade dos adultos é muito importante nesse momento, evitando explicações ou orientações preconceituosas.

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Compreendendo o racismo

Segundo o artigo “Racismo em três dimensões: uma abordagem realista-crítica” do autor, Luiz Augusto Campos, vivemos um momento em que quase todos reconhecem que o racismo permanece operando de forma efetiva no mundo, mas poucos são capazes de identificar claramente suas dinâmicas. Então o autor nos apresenta três dimensões classificatórias do racismo:

“A primeira delas entende o racismo como um fenômeno enraizado em ideologias, doutrinas ou conjuntos de ideias que atribuem uma inferioridade natural a determinados grupos. Por essa perspectiva, o adjetivo “racista” só pode ser atrelado a práticas que decorrem de concepções ideológicas do que é raça. A segunda abordagem, considera que, as práticas racistas prescindem de ideologias articuladas e, portanto, as ideias deixam de ser o elemento definidor do racismo. Já a terceira abordagem crê que o racismo teria assumido características institucionais ou estruturais nos dias atuais. E embora práticas e ideologias sejam dimensões importantes do fenômeno, são as estruturas racistas os princípios causais fundamentais que devem ser investigados”.

Compreender o racismo, portanto, é indispensável para compreender a modernidade, pois o preconceito racial, abordado também pelo filósofo Alberto Burgio, não é apenas um dos efeitos perversos da globalização, mas “elemento central da modernidade ocidental”.

Isso traz como resultado, relações sociais entre grupos nas quais a imagem do negro foi construída a partir de um imaginário que o tornou alvo de referências negativas, com isso, é esperado que o efeito psíquico sobre esse sujeito afete diretamente sua identidade. Logo, sua autoestima é prejudicada devido às autopercepções e conceitos construídos.

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Representatividade como regaste da autoestima

Seja diante da TV, nas escolas, ou em histórias infantis, as crianças vão se desenvolvendo com imagens retorcidas de papéis e lugares segundo cor de pele ou aparências. Por essa razão, uma criança pode achar “desvantajoso” ter nascido negra ou pertencer a um grupo étnico-racial mais discriminado só pelo fato de encontrar nas suas representações, personalidades totalmente diferentes de si. E os efeitos disso são a negação e o esquecimento de suas histórias e culturas.

Isso acontece por que, segundo a autora Djamila Ribeiro, em seu livro “O pequeno Manual Antirracista”, não existiam tantas escolhas, o mundo apresentado na escola era dos brancos no qual as culturas vistas como superiores eram de origem europeia, e isso era um ideal a ser seguido. Segundo a autora, “crianças negras não podem ignorar as violências cotidianas, enquanto as brancas, ao enxergarem o mundo a partir de seus lugares sociais – que é um lugar de privilégio – acabam acreditando que esse é o único mundo possível”.

É importante deixar claro que, a autoestima da criança se baseia na avaliação do adulto que aprova ou reprova essas singularidades. E a partir disso, as crianças costumam internalizar o que ouvem e o que observam em seu cotidiano.

Segundo Djamila Ribeiro, para que a pessoas criem soluções, a fim de repensarem a realidade na qual vivemos é necessário tirar esses aspectos opressores da invisibilidade.

Quando uma criança não-negra é elogiada, pela cor da sua pele, ou cabelos por exemplo, isso cria uma autoestima elevada nessa criança e constrói-se padrões estéticos do que é belo e agradável. E quando uma criança negra presencia isso, é internalizado em sua mente que, qualquer beleza diferente da que é aplaudida socialmente é tida como errada, ou feia. E isso pode contribuir para uma anulação ou distanciamento dos traços naturais.

Como foi observado no artigo “Infância, Raça e Paparicação“: “as crianças negras revelaram, muitas vezes, o desejo de serem brancas, de cabelo liso, querendo se comparar com os personagens das histórias infantis, evidenciando a negação de sua condição racial.”

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Importância dos pais e educadores

As crianças ainda não têm discernimento diante do que lhes são apresentadas e não conseguem por si sós refletirem sobre informações, ou conteúdos que chegam a elas. Por isso é necessário o auxílio de adultos e educadores, que os façam perguntas e os levem a refletir. Pois, na maioria das vezes a conduta de maior impacto e contribuinte ao racismo vem dos próprios pais e familiares. A partir disso, se uma criança sempre se alimenta de livros ou programas em que um padrão de comportamento ou de imagem se repete, aquela mensagem será captada como uma verdade para ela. E é aqui que entra a importância da família e professores, para construir novos olhares diante do que é passado as essas crianças e promoverem novos ambientes em que elas se encontrem e se sintam representadas.

E com as mudanças constantes desse mundo pós-moderno, torna-se necessário termos, nos diferentes cenários, a representatividade aflorada. Seja para trazer mais igualdade ou pertencimento, seja para trazer repostas às lutas negras, e mais oportunidades às novas gerações.

De acordo com dados da Unicef de 2010, no Brasil vivem 31 milhões de meninas e meninos negros. Esses meninos e meninas precisam compreender, desde pequenos, que estão rodeados pela diversidade, e que isso é muito positivo. Pois, só entendendo que ninguém vale mais ou menos em função de suas características físicas que exercerão o respeito e saberão reagir quando não o recebem.

Quando as crianças negras têm o entendimento de que a beleza se expressa unicamente, de formas distintas em cada ser, elas podem crescer munidas, mais fortes e mais preparadas para lidar com os diferentes contextos e práticas preconceituosas ou desmotivantes.

Contudo, o discurso antirracista precisa ser entonado também pelas pessoas brancas. Pois, com o conhecimento é possível entender que os privilégios e oportunidades são dados a determinada pessoa a partir do momento que se tira de outra. Para saber mais, como contribuir nesse processo, baixe este material.

Para construir as bases de uma autoestima fortalecida nas crianças, baixe este infográfico e incentive novos comportamentos.

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