Rachel Pinto
O psicólogo feirense Alfredo de Morais Neto (CRP 03/6915) é um dos finalistas do prêmio “Viva – Pela vida de todas as mulheres”, na categoria Eles por elas. Ele é criador do projeto Refletir para Acordar que é desenvolvido pelo Centro de Referência Maria Quitéria em Feira de Santana e trabalha com a reeducação de homens que praticaram violência contra a mulher. O projeto já contribuiu para que 160 homens agressores não mais praticassem atos de violência. Alfredo que além de psicólogo, é professor universitário e policial militar, conversou com a reportagem do Acorda Cidade e contou em detalhes como é atuação do projeto e a sua expectativa em concorrer ao prêmio que conta com outros finalistas e trabalhos de grande relevância social.
Para ele, ser classificado como finalista foi uma grande surpresa e uma honra está entre pessoas de grande nome do cenário nacional e que trabalham com projetos sociais.
Rachel Pinto/Acorda Cidade
“É um prêmio nacional e existem vários projetos no Brasil. São projetos sociais que atendem essa manifestação da violência, do enfrentamento contra a mulher porque o foco desse prêmio são a mulheres e ele é capitaneado pela ONU Mulher. Então isso dá um respaldo muito grande para o Instituto Avon e a Marie Claire. Esse prêmio traz para Feira de Santana a visualização de um trabalho que não é feito por mim tão somente, é feito por uma equipe, pela coordenação do Centro de Referência Maria Quitéria, pela presidência do Conselho de Enfrentamento à Violência contra à Mulher da Ronda Maria da Penha e dessa equipe maravilhosa que está por trás de todo esse trabalho. É uma premiação significativa para Feira de Santana”, comentou.
Projeto Refletir para Acordar
Alfredo de Morais Neto explicou que o projeto Refletir para Acordar trabalha com os homens agressores com o objetivo de ressignificar comportamentos e valores . Para ele, o ciclo de violência é cultural e se perpetra como os homens entendem a violência contra a mulher, na infância e na adolescência e como promovem essa violência ao longo da vida.
“O projeto versa sobre os autores de violência e a grande surpresa dentro do aparelhamento é porque pouco se fala sobre o cuidado desse homem agressor. A gente faz uma reorganização psíquica fazendo com que esse homem entenda esse processo de violência, ciente de que ele cometeu esse erro e que ele tem que ressignificar para que não o cometa novamente Então o trabalho é todo voltado nesse sentido e pra mim ser indicado ao prêmio foi uma surpresa porque eu sou apenas uma gota nesse oceano e eu penso em fazer o bem”, acrescentou.
O Projeto Refletir para Acordar, de acordo com o psicólogo ainda é embrionário e precisa de várias mãos para que aconteça a todo vapor. Ele contou que espera que o destaque para a premiação faça com que ele seja impulsionado ainda mais e que as autoridades reflitam sobre a sua importância.
Cultura Humanista
Alfredo disse ainda que a inspiração e referência para o Projeto Refletir para Acordar vieram do projeto Tempo de Despertar da promotora de justiça do estado de São Paulo, Gabriela Mansur. Ele remontou a ideia com a ressignificação do método da cognição, a partir de suas pesquisas e vivências inclusive como policial militar.
“Nós somos impelidos em uma cultura machista que vem das famílias patriarcais que acreditam que o menino pode tudo e que a menina não pode nada. Essa igualdade não existe na criação e com isso esse menino na sua primeira infância passa a acreditar que ele pode tudo, inclusive cometer violência. Então a reestruturação desse pensamento faz com que esse projeto ganhe um grande pulso, fomentador de uma mudança de cultura na sociedade. A cultura machista tem que ser dissociada para que surja uma cultura humanista. Que nós todos somos iguais e que a violência não faça mais parte disso. Principalmente a violência contra a mulher e isso realmente não pode acontecer e não é só a violência física, estamos falando da violência patrimonial, psicológica, moral… Esses tipos de ações precisam ser remodeladas para que o homem entenda que o seu papel na sociedade não é de agressor e sim de co-autor na historicidade de uma cultura sem violência”, salientou.
Mudança de comportamento dos homens agressores
De acordo com Alfredo, a mudança de comportamento dos homens agressores acontece quando eles adotam uma cultura humanista e ressignificam a violência. Passam a entender que o processo cultural do machismo é prejudicial. Param de praticar a violência e começam a entender que qualquer atitude que faça com que ele use a força física ou psíquica é uma grande violência que desestrutura não só a vida da mulher como toda a sociedade.
A experiência na Polícia Militar trouxe esse olhar mais atento do psicólogo em relação aos homens agressores e a sensibilidade para colocar o projeto em prática.
“Eu sou psicólogo da Polícia Militar e sou subtenente da PM. Tive a oportunidade há 11 anos de poder colocar a minha ciência a serviço da corporação e antes disso, quando eu trabalhava em área por muitas vezes eu via esses homens agressores sendo alcançados pela polícia a pedido das esposas, das companheiras, que pediam o aconselhamento da polícia. A polícia não tem no seu escopo a responsabilidade de aconselhamento, a responsabilidade da PM é fazer a condução desse autor de violência para as delegacias. À época eraM delegacias comuns, mas agora são delegacias especializas, o papel da PM é dar esse direcionamento. Eu não via uma forma de ajudar aquelas mulheres e a partir disso eu entendia que eu precisava fazer psicologia. Eu fazia engenharia civil e eu fui fazer psicologia. Estudei, me formei e decidi trabalhar com ações sociais, principalmente relacionadas a ressignificação”, disse.
O Projeto Refletir para Acordar finalista do prêmio “Viva – Pela vida de todas as mulheres”, na categoria Eles por elas já alcançou 20% dos homens que estão em medida protetiva dos 40% de casos que são acompanhados pelo Centro de Referência Maria Quitéria.
A coordenadora do centro Josailma Ferreira ressaltou a importância das ações junto aos homens agressores e para ela, o trabalho em conjunto de fortalecimento das mulheres e acompanhamento dos homens agressores faz com que haja o fim do ciclo de violência.
Rachel Pinto/Acorda Cidade
“Esses homens são atendidos pelo Instituto Dia com o professor Alfredo Neto e quipe. Quando trabalhamos com as mulheres, nas nossas escutas percebemos o quanto é importante trabalhar com o homem agressor. O projeto acontece nessa perspectiva para que haja a mudança de comportamento”, declarou.
Votação
A votação para o Prêmio Viva Eles por Elas acontece até o dia 18 de novembro pela internet através do link: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSek–0Q2ECA74-wSv7fl21qn0wRRHMdBMJ2PaIMqSzvxQ6_GA/viewform
Os vencedores serão apresentados no dia 22 de novembro na cerimônia de premiação no Parque Tangará em São Paulo.