Feira de Santana

Psicóloga fala sobre impactos psicológicos de mães solo e analisa situação de mulher que cuida sozinha de seis crianças

Segundo a profissional, lidar com todas as responsabilidades da maternidade sozinha é uma situação difícil, que gera sobrecarga para a mulher.

Maria do Amparo - família em situação de vulnerabilidade social na Conceição
Foto: Ed Santos/Acord Cidade

Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados no último dia 25 de outubro, quase metade dos lares brasileiros são liderados por mulheres. Na Bahia, o percentual chega a 51%. Os dados mostram ainda que 16,5% dos domicílios brasileiros são liderados por um responsável sem cônjuge e com filho ou enteado, sendo a maioria dos lares com uma mulher à frente.

Esse é um cenário que, para uma família de Feira de Santana que o Acorda Cidade mostrou a situação, ganha muitos outros desafios. Além de cuidar dos filhos, a dona de casa Maria do Amparo da Silva, de 39 anos, também é responsável por criar dois netos após a recente perda de sua filha. Ela ainda está desempregada e vive em uma situação de vulnerabilidade social.

O Acorda Cidade conversou com a psicóloga Gabriela Borges para entender como essas situações enfrentadas por esta família impactam no psicológico dessa família. Segundo a profissional, lidar com todas as responsabilidades da maternidade sozinha é uma situação muito difícil e que gera uma sobrecarga para qualquer mulher.

psicologa Gabriela borges
Psicóloga Gabriela borges | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“A mãe tem que lidar com a parte financeira, arrumação da casa, estudo dos filhos e ela começa a ter falta de tempo para cuidar de si, o que impacta negativamente na autoestima, na exaustão emocional. A mãe também fica com sentimento de solidão, de não poder contar com ninguém, então ela fica muito tempo na função de mãe, de dona de casa e essa sobrecarga pode gerar sentimentos como fracasso, frustração e culpa”.

De acordo com ela, esses sentimentos podem levar a problemas psicológicos como transtornos de ansiedade e síndrome do pânico, o que impacta negativamente o emocional dessa mãe, que não tem ajuda nenhuma para lidar com todas as responsabilidades exigidas.

Falando especificamente do caso da mãe-avó que teve a história relatada no Acorda Cidade, a psicóloga destaca ainda outros agravantes, como a perda recente de uma filha e falta de oportunidade para vivenciar o luto, além da responsabilidade de cuidar de uma criança atípica.

“Se a gente parar pra pensar, essa mãe-avó não teve nem a oportunidade de ressignificar esse luto, essa perda. Assim que ela perdeu um ente querido, ela já precisou assumir outras responsabilidades. O luto é um processo que precisa ser vivido, ele tem fases dolorosas, ela precisa lidar com o luto dela, com o luto das outras crianças e adolescentes e ainda, com uma criança atípica, isso agrava, pois aumenta as responsabilidades, os cuidados são maiores”, observou.  

Gabriela Borges destaca que essa mãe precisa receber ajuda, precisa de uma rede de apoio, além da necessidade de um acompanhamento com um psicólogo. Ela afirma que quando se fala em ambiente de vulnerabilidade, as coisas agravam, tanto para a mãe, quanto para as crianças.

“Essa mãe precisa de um apoio e não estou falando somente do pai das crianças, mas de um amigo, de outras mães que passam pela mesma situação. A gente consegue criar essa rede de apoio entre as mães. Também é importante ter ajuda psicológica, porque a gente não dá conta de tudo sozinho, não somos máquinas. Sempre que a gente fala em famílias que estão em situações de vulnerabilidade, isso já traz prejuízos emocionais. Essas crianças não têm diversão, não têm contato com pessoas que podem ajudar, não tem uma alimentação tão legal e tudo isso influencia negativamente. As crianças também precisam de apoio psicológico. É importante, pois essas crianças também estão passando por um luto, por uma perda de uma pessoa importante. Então esse apoio é muito importante para que eles ressignifiquem essa perda”, afirmou.

Ajuda

Após a divulgação da situação da família no Acorda Cidade, muitas pessoas se mobilizaram e ajudaram com cestas básicas, dinheiro, além de outros materiais. A psicóloga ainda falou sobre a importância dos atos de solidariedade, que beneficiam não somente quem os recebe, mas também quem se disponibiliza a ajudar.

Maria do Amparo - família em situação de vulnerabilidade social na Conceição
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Quando a gente ajuda alguém, a gente está se ajudando também. Fazer o bem é muito importante, então a sociedade que pode ajudar com cesta básica, com apoio psicológico, um acolhimento, tudo isso é muito importante”, frisou.

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 Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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