A tarde deste sábado no Museu de Arte Contemporânea Raimundo de Oliveira foi dedicada a temas relevantes para as mulheres. Em meio a Exposição Femininus, o projeto Fala Fêra abriu a palavra para elas, verdadeiras potências no cenário cultural e educacional de Feira de Santana, falar sobre assuntos que trazem o autocuidado, o bem-estar e empoderamento, além de discussões sobre o papel das mulheres nas cidades contemporâneas.
Participaram da roda de conversa “Mulheres e Cidades: saúde mental, cuidado e autocuidado”, a professora e militante do movimento de mulheres, Sidinea Pedreira, a fisioterapeuta e arte educadora, Josane Miranda e Natalie Rose, Licenciada em Psicologia, Especialista em Psicologia Social e Comunidades.
Em sua segunda edição, o projeto trouxe a necessidade de promover os assuntos que dialogam com as relações sociais e educacionais construídas na cidade, como explicou ao Acorda Cidade, Sidinea Pedreira.
“O projeto surgiu de algumas inquietações coletivas com outras mulheres nas andanças pela cidade, pelas escolas. A gente ouvia muito as pessoas falarem sobre a importância do cuidado, mas contraditoriamente, tem a falta de tempo para parar, para se olhar, para se cuidar, para se ver. E dentro das rodas de conversa com mulheres, com adolescentes, com juventude, a gente vê essa necessidade”.
Há 25 anos lidando com a endometriose, a professora luta pela conscientização desse transtorno que afeta mais de 26 mil ‘endomulheres’ no país. A escolha do MAC para falar sobre essas e tantas outras questões que afetam a vida das mulheres foi pensada justamente por ser em um espaço que, neste momento, incentiva o trabalho realizado por elas.
“O MAC que é um espaço aberto para várias pessoas, a juventude, mulheres, a cidade toda pode estar nesse lugar, e é um lugar propício principalmente nesse momento, porque está acontecendo essa exposição, onde a sensibilidade e a arte de mais de 20 mulheres está aqui. Estamos muito acolhidas neste espaço”, destacou Sidinea.
Além disso, Sidinea ressaltou Feira de Santana como uma cidade que não acolhe as suas mulheres, levando em consideração que elas fazem parte da história da cidade, da construção dos principais espaços como feiras livres, dos lugares de arte, inclusive, em diversos lugares de trabalhos, numericamente, elas também são a maioria.
“É uma presença própria, e as mulheres trazem a sua leitura da cidade, traz a sua sensibilidade, a sua ancestralidade, o acúmulo ancestral de conhecimentos e práticas que devem ser respeitadas pela cidade. Esses conhecimentos, esse saber ancestral, tem ficado muito invisibilizado, então eu acho que é uma tentativa, assim como a exposição de Simone, que é curadora aqui, como o próprio trabalho que a Geórgia faz aqui no museu, com vários artistas que têm passado por aqui. É esse trabalho de trazer à tona a visibilidade, mostrar a potência do trabalho das mulheres, a capacidade que as mulheres têm de construção e de criatividade”, acrescentou a professora.
A Exposição Femininus, reúne 20 artistas feirenses e da região trazendo obras que exploram diferentes perspectivas do protagonismo e da representatividade feminina. A curadora do projeto, Simone Rasslan, falou sobre a importância desse espaço para reconhecer o legado dessas artistas.
“Cada mulher trouxe a sua vivência, sua experiência, dentro do feminino. Seus medos, seus bloqueios, suas esperanças, seus desejos. Tudo aquilo que envolve o mundo feminino. Então, tem várias visões de mulheres, vários sentimentos, várias idades. Tem mulheres muito jovens, mulheres bem mais maduras. Tudo tem essa mistura. O Fala Fêra traz essa visão para o autocuidado e as mulheres de todas essas idades elas precisam desse autocuidado. Outro ponto também que a gente traz nesta exposição são homenagens a mulheres artistas de Feira de Santana mais antigas que não estão mais presentes entre nós ou que já não estão expondo, que não tiveram visibilidade”, relatou.
Enfatizando o autocuidado de diversas maneiras, Josane Miranda, que também é terapeuta integrativa, falou sobre as ferramentas para o cuidado do universo feminino.
“Tudo começa quando a gente se cuida bem, quando a gente se preserva, quando a gente sabe regular o nosso sistema para saber os nossos limites, para poder cuidar com integridade. Então, essa vai ser a pauta para a gente refletir o que é, como a gente tem dedicado a nossa atenção, o nosso cuidado para si e para o outro, para as outras pessoas, para o ambiente, como a gente se relaciona com esse território”, explicou.
Dentro desses processos de cuidar, Josane reforça que é fundamental criar estratégias para contar com uma rede de apoio para se fortalecer, podendo estar presentes, vivas e atuantes na sociedade.
“Nosso corpo é atravessado por muitas informações de ordem emocional, psicológica e espiritual. A gente é um ser social, político e tudo isso afeta a nossa condição de saúde. Compreender isso é importante para saber como se regular diante de tantas questões, inclusive, porque é muito difícil a nossa existência nesse plano aqui, nesse contexto de cidade, nesse território. Então, compreender isso e saber que recursos a gente pode lançar à mão”, pontuou Josane.
Natalie Rose, que participou da roda de conversa, falou ao Acorda Cidade, a partir da sua abordagem enquanto especialista em psicologia, a importância de promover ações como o Fala Fêra.
“Esse espaço para a gente se relembrar desses processos, entender a importância de nos fortalecermos e de acreditar que, para além das dificuldades comuns a todos nós, também é possível encontrar as forças e potências dentro de nós e a partir também das outras pessoas ao nosso redor. Então, acho que vai ser meio que um lembrete nesse sentido, um reforço para que a gente se acolha, saia daqui mais forte, mais animada, mais disposta para viver a vida e enfrentar os desafios de uma forma mais completa e concreta”, declarou.
Além da Exposição Femininus, o MAC está com um programação especial durante todo o mês de abril. Confira na página do Instagram.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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