Conquista

Professor quilombola, ex-aluno de escola pública, ressalta o peso do Enem no acesso à Educação

O professor Tamerson, por meio do Enem, conseguiu realizar sua graduação na UFRB.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

O professor de biologia, Tamerson Bispo Santos, 24 anos, contou em reportagem do Acorda Cidade como foi a sua jornada para acessar à universidade pública sendo um aluno de escola pública. Tamerson concluiu seus estudos no Centro Integrado De Educacao Assis Chateaubriand, no bairro Sobradinho. E foi o Exame Nacional do Ensino Médio que possibilitou que ele conquistasse o seu espaço na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Primeiramente, é importante destacar que o apoio da família nesse processo foi e é muito importante. Felizmente na minha família tive pessoas com quem contar em questão de suporte, orientação e para que eu pudesse ao máximo aproveitar as oportunidades. Iniciei os meus estudos em escola pública ainda em uma pré-escola, no ensino fundamental continuei em escola pública, mas desde sempre me esforçando, lutando para valorizar o que a escola pública oferecia e também contei com suportes de tias, irmãs, primas que já tinham algum conhecimento, e que me auxiliaram na escrita e nas dificuldades que eu tinha logo no início. Quando eu cheguei no nono ano, teve uma reviravolta, eu percebi que eu precisava trabalhar como menor aprendiz para eu conseguir algum dinheirinho, para comprar algumas coisas que eu precisava para suprir as minhas necessidades, como todo adolescente. Meu pai sempre foi pedreiro e minha mãe dona de casa, e quando foi chegando a adolescencia chegou algumas vontades e também responsabilidades de ajudar em casa. E passei então a estudar e trabalhar como menor aprendiz,” relembrou.

O professor contou ao Acorda Cidade que fez o Enem pela primeira vez no segundo ano do Ensino Médio.

“No segundo ano do Ensino Médio fiz o Enem pela primeira vez, mas como teste, mas fui com toda a minha vontade tentando dá o meu melhor. Mas ali eu já senti que era uma prova complicada e que exigia muito de um estudante de escola pública e que de fato seria por meio dele que eu teria a maior oportunidade de entrar na universidade. Por isso, que sugiro aos alunos de escola pública fazerem o Enem antes mesmo do último ano do Ensino Médio, porque os teste são muito importantes para você ter uma noção de corrigir erros, e na próxima tentiva conseguir, assim como eu. Na próxima tentativa eu já fui melhor em mais disicplinas, já tinha um certo macete na redação e consegui uma nota razoável que me permitiu acessar à universidade pública através das políticas públicas,” enfatizou.

O professor disse que o tema da redação deste ano ‘Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil’ foi fantástico.

“É de extrema necessidade debater esses temas atualmente e também para a valorização dos nossos povos e da identidade cultural do nosso país. Chega a ser inacreditável que muitas instituições educacionais, infelizmente, não debatam esses temas em sala de aula, mas que de fato é essencial para entendermos a conjuntura do nosso país atualmente, entender as relações étnico-raciais e aprender a valorizar também as origens e as raízes que o país se moldou. Foi um tema muito positivo, porque debater os povos originários, a sua construção no nosso país, a sua influência, suas diásporas são essenciais para a gente se entender como brasileiro, este país é diverso e também rico de povos que lutam e resistem pelo seu espaço até hoje,” explicitou.

Tamerson destacou ao Acorda Cidade a importância que a universidade teve em sua vida.

“Eu tive essa oportunidade, e eu costumo dizer que foi uma opotunidade que eu abracei ao máximo. Foi uma das melhores decisões que eu tomei na minha vida. Lá eu tive um grande apoio de muito colegas, tive opotunidades de participar de projetos que eu pude retornar à escola pública e também desenvolver atividades de apoio pedagógico e disciplinar, para que eu pudesse de certa forma, levar esse reconhecimento e conhecimento para a escola pública como professor de biologia,” contou.

O professor tem muito sonhos, mas a educação está em muitos deles.

“Eu pretendo continuar minha vida acadêmica, focar na pós-graduação, que é um sonho meu, mas também continuar prestando concurso para atuar como professor de Educação Básica pública, afinal de contas, acredito em uma educação básica pública de qualidade tem o poder de fazer com que outros,  assim como eu, tenham a oportunidade de chegar até aqui, e que só precisam de um empurrãozinho para alcançar esses espaços também,” concluiu.  

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Em reportagem ao Acorda Cidade, Renilda Cruz dos Santos, presidente da Associação Quilombola de Maria Quitéria, compartilhou o seu empenho em contruir nos quilombolas o senso de pertencimento.

“Temos em média mil pessoas na comunidade quilombola. A nossa rotina não se difere tanto da dos demais. Temos a nossa cultura, as nossas vivências. O que a gente cultiva são produtos da agricultura familiar, a gente trabalha com a questão da nossa ancestralidade, de cuidar dos nossos idosos, saber de onde viemos, e que temos pessoas que nos antecederam e que hoje seguimos os seus passos. A gente tem tentado contruir nos nossos moradores da comunidade o pertencimento do que é ser Quilomola, que é ter esse respeito pela terra, pelo meio ambiente, é saber que a gente tem uma história, um passado, e a gente precisa honrar hoje, no presente a vida daqueles que nos antecederam,” salientou.

Renilda ressaltou também importância do Novembro Negro.

“A nossa comunidade tá vivendo o Novembro Negro, que está na sua 10ª edição. O Novembro Negro é um evento em que tentamos construir na nossa comunidade esse pertencimento. Nesta edição vamos trabalhar a ancestralidade com a juventude, para ensinarmos aos nossos jovens que se eles seguirem os passos dos mais velhos eles vão saber onde chegar,” frisou.

As informações são do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.

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