Laiane Cruz e Daniela Cardoso
Atualizada às 20:01
Foi realizada na manhã desta sexta-feira (17), na Câmara de Vereadores de Feira de Santana, uma audiência pública, conduzida pelo vereador Roberto Tourinho, para tratar da crise financeira enfrentada pelas empresas de ônibus Rosa e São João e o processo de recuperação judicial, além do sistema BRT. Os secretários de Administração, João Marinho, de Planejamento, Carlos Brito e de Transportes e Trânsito, Saulo Figueiredo, também participaram dos debates.
Apenas oito dos 21 vereadores participaram da audiência pública. São eles: Carlito do Peixe, José Carneiro, Roberto Tourinho, Edvaldo Lima, Lulinha, Cadimiel, Eremita Mota e Isaías de Diogo.
O advogado e consultor técnico da empresa Rosa, Claudinei Castanha, informou, em entrevista ao Acorda Cidade, que a prefeitura contratou uma empresa de auditoria internacional para medir o nível de desequilíbrio do sistema de transporte em Feira de Santana e apontar as medidas necessárias. De acordo com ele, entre as medidas que poderiam ser adotadas, está o subsídio, e que muitos municípios no país estão recorrendo a essa opção para salvar o sistema.
“De todas as cidades do Brasil, entre os 100 maiores municípios do país, eu diria que 70% dos municípios hoje optaram por subsídios, com recursos orçamentários, porque nos últimos anos houve uma queda significativa de passageiros por causa de vários setores, como o clandestino, o transporte individual, moto, bicicleta, a crise econômica, os custos do setor que subiram acima da inflação, diesel que subiu 60% nos últimos dez meses, isso tudo afetou o custo e com isso houve uma necessidade de várias cidades optarem por subsídio. A prefeitura vai ver qual a melhor proposta a ser implantada”, disse.
Ônibus com wi-fi a partir da próxima semana
Com relação ao cumprimento do contrato com a prefeitura, Claudinei Castanha afirmou que as empresas estão cumprindo tudo que foi previsto no contrato, a exemplo da idade média da frota.
“Nós temos a questão da idade da frota, que o contrato falava de 10 anos e 5 anos e nós temos hoje de três anos e meio. Além disso, o vereador Alberto Nery, presidente do Sindicato dos Rodoviários, afirmou que dentro da proposta econômica só 30% da frota teria cobrador e hoje 80% tem. Só os micro-ônibus que operam nas linhas que eram operadas pelas vans, na gestão anterior, é que hoje operam sem cobrador. Estamos cumprindo a biometria facial para controle das gratuidades, vamos implantar a partir da semana que vem wi-fi com aplicativo para o usuário, e isso não vai ser repassado para a tarifa”, disse.
Ônibus articulados
O advogado e consultor garantiu ainda que as empresas vão comprar os ônibus articulados, com ar-condicionado, pois se está no contrato, as empresas são obrigadas a cumprir.
“Se elas não cumprirem vão ser penalizadas e podem até ser cassadas. A previsão para os ônibus rodarem vai depender da prefeitura. Mas antes disso será necessário um grande estudo pra readequação da rede para o atendimento ao BRT, então vai ter linha que vai ser diminuída, outras extintas, algumas que serão criadas. Vai ser feito um grande estudo na cidade para rever toda a rede”, informou.
Racionalização
Ele reiterou também que as empresas estão enfrentando dificuldades e por isso houve uma racionalização.
“Estamos apostando no projeto das vans da zona rural, porque aí as empresas vão deixar de operar lá, e vai acabar com a clandestinidade do sistema intermunicipal. Quando foi feito o estudo econômico de viabilidade da licitação, previa-se que deveriam ser transportados mensalmente 2 milhões 432 mil passageiros pagantes, esse número hoje está em 2 milhões e 100 mil, portanto tem uma diferença de mais de 300 mil, esse aí é o desequilíbrio. Só que já houve algumas mudanças para minimizar isso, além da medida das vans, a auditoria vai apontar alguma outra medida necessária.”
Motoristas e cobradores acompanharam a audiência com protestos
Ônibus retirados da frota
Acerca da retirada de alguns ônibus 0Km da frota, Castanha explicou que o edital previa ônibus com idade média de 5 a 10 anos, e a compra de ônibus novos foi um financiamento, que precisou ser renegociado.
“Trouxemos frota 0 km por causa de uma oportunidade de mercado, que conseguimos financiamento. Em função do desequilíbrio, foi necessária uma renegociação com alguns bancos e alguns carros tiveram que sair, cerca de 50 carros no total, mas esses carros foram substituídos por carros seminovos com 4 ou 5 anos de idade, e hoje a nossa idade média é de 3 anos e meio”, afirmou.
Cronograma sobre fim da obra do BRT na terça (21)
O secretário municipal de Planejamento, Carlos Brito, informou que houve uma reunião ontem (16) e que na próxima terça-feira (21) o município terá um cronograma efetivo do BRT, com a previsão de término das obras.
“A empresa encaminhou um ofício argumentando que o período chuvoso, que teve nesses meses de julho a agosto, atrasou as obras e que vai apresentar um novo cronograma. Acredito que vamos estabelecer mais um ou dois meses para que a construção seja toda concretizada”, afirmou.
‘Audiência sem produtividade’, diz Alberto Nery
O vereador Alberto Nery, que é presidente do sindicado dos Rodoviários de Feira de Santana, afirmou que a audiência pública não teve produtividade nenhuma. Ele acredita que a comunidade deveria ser convidada a participar para expor os problemas no sistema de transportes da cidade.
“Teve uma apresentação superficial da realidade do sistema de transporte. Na minha fala inicial lamentei a não participação da comunidade. Acredito que se o transporte coletivo tem sido um problema no nosso município, as associações e a comunidade deveriam participar. Há muita reclamação com relação ao valor da tarifa, do cumprimento de horário, com relação aos corredores de tráfego, então as pessoas não participam para fazer os seus reclames e nós temos uma audiência pública onde o poder público vem e apresenta uma situação superficial”, afirmou.
Alberto Nery destacou ainda a grande participação dos rodoviários. Segundo ele, isso é importante já que a cada dia é retirado da frota uma certa quantidade de carros, o que, conforme afirmou, está afetando os funcionários com demissões.
“Os empresários assumiram que foram retirados 18 veículos, que representa 36 motoristas e 36 cobradores. Mas eu tenho no quadro de demissões, mais de 100 funcionários do sistema e isso não foi reposto. Precisamos debater a manutenção dos cobradores, a questão do BRT que precisamos saber se vai ser operado ou não com ônibus articulado. A gente quer saber a operacionalidade do BRT, se vai atender a comunidade, como vai ser realmente esse funcionamento, se com o BRT vai ter reajuste de tarifa. O povo não tem a clareza disso e muitas coisas não foram levadas ao debate”, destacou.
BRT: obra de mais de 97 milhões de reais
O vereador Roberto Tourinho, que preside a comissão de Obras, Urbanismo, Infraestrutura Municipal, Agricultura e Meio Ambiente da Câmara Municipal, que solicitou a audiência, chamou atenção para o valor da obra do BRT. Segundo ele, são 97 milhões de reais que foi o empréstimo e mais alguns aditivos que o secretário de planejamento ficou de enviar para a comissão. “Pedimos os valores exatos para que tenhamos uma ideia exata do quanto está custando a obra do BRT em Feira de Santana”, informou.
Aparato tecnológico
O secretário municipal de Transportes e Trânsito Saulo Figueiredo, disse que a obrigação do município é informar bem a população, com números oficiais.
“Desde que eu cheguei aqui sempre prezei por trazer uma linguagem técnica. Então em toda a minha carreira tento prezar pelos dados fidedignos, pesquisar. Temos na secretaria uma equipe muito pró-ativa, que busca diariamente todo tipo de pesquisa, principalmente se tratando de transporte público. Nos dias de hoje existe um aparato tecnológico muito grande pra que se melhore a vida das pessoas. Temos uma equipe jovem mesclada com profissionais experientes que estão sempre buscando novas informações”.
Com fotos e informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade