Um artigo publicado na Revista Brasileira de Climatologia revelou que o modelo de expansão urbana, adotado desde a década de 1960, contribuiu para diversos episódios de alagamentos que Feira de Santana enfrentou nos últimos 30 anos. O trabalho aponta que quatro pessoas morreram vítima dos alagamentos no mesmo período.
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Escrito pelo professor doutor em geografia, Laerte Freitas Dias, o artigo é fruto de uma pesquisa baseada em 62 reportagens sobre inundações e alagamentos, publicadas entre 1990 e 2020. O pesquisador aponta, no artigo, os principais riscos socioambientais enfrentados por Feira de Santana.
Escolha do tema
Laerte revelou, em entrevista ao Acorda Cidade, que desde o período da graduação em geografia, na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), ele trabalha temas como poluição da água e do solo na cidade. No entanto, o grande número de alagamentos, frente a posição geográfica do município, chamou a atenção.
“Quando você fala que Feira de Santana está numa região de semiárido, a primeira coisa que você pensa são em longos períodos de estiagem. No entanto, nos últimos anos, temos enfrentado diversas questões relacionadas às inundações e alagamentos na cidade”, comentou o professor.
Plano equivocado
Segundo Laerte, o planejamento urbano em Feira de Santana foi conduzido por um modelo excludente. As políticas públicas, desde a década de 1960, não consideraram os corpos hídricos do município, transformando riachos e lagoas em locais para despejo de lixo doméstico. O professor reafirmou a importância de considerar a natureza uma parceira no processo de urbanização.
“Feira de Santana ainda está em processo de expansão e crescimento. Devemos ter um olhar muito cuidadoso para essas áreas, para que não aconteça o que já ocorre no centro da cidade. É necessário pensar em um projeto que marque o avanço urbano, respeitando as ruas e lagoas. Precisamos entender que a natureza não é nossa inimiga”.
Mortes em enchentes
Segundo o artigo, em dezembro de 1996, duas pessoas morreram após o desabamento de uma casa durante as chuvas. Em abril de 2010, mês de transição entre as chuvas fortes e as de menor intensidade, uma pessoa morreu após cair em um riacho e ser arrastada pela força da água. Em janeiro de 2020, uma pessoa morreu após ser arrastada por um riacho no conjunto Feira X.
Não é culpa da natureza
Fenômenos naturais como tempestades, inundações e incêndios são frequentemente classificados, de forma equivocada, como processos de responsabilidade exclusiva da natureza. No entanto, Laerte afirma que as inundações em Feira de Santana são resultado de um plano de urbanização fracassado.
“A desconsideração da natureza como um elemento essencial para a sobrevivência da cidade fez parte dos processos de urbanização em Feira de Santana. A ideia que se deve ter hoje é que as lagoas do município devem ser utilizadas como receptoras naturais das águas pluviais. O diálogo com a natureza pode fortalecer ainda mais a construção de uma cidade, até mesmo com a ausência de inundações e alagamentos”, disse.
Modelo para o futuro
Feira de Santana integra a lista das cinco mil cidades que elegeram, no último domingo (6), o prefeito que irá comandar o município a partir de janeiro de 2025. O professor Laerte afirmou que espera que a próxima gestão classifique a questão das inundações e alagamentos em Feira de Santana como uma prioridade.
“O plano de drenagem deve ser implementado, levando em consideração que a natureza deve dialogar com o avanço da cidade, e não com uma ocupação desigual e desordenada, como tem ocorrido. Deve-se fazer a recuperação dos mananciais hídricos. A nova gestão deve entender que muitas das áreas de lagoas são ocupadas por pessoas que não tiveram acesso ao solo urbano”, finalizou.
Reportagens do Acorda Cidade citadas no artigo
- Chuva invade casas e alaga ruas de Feira de Santana; moradores pedem providências
- Homem é levado por águas de canal de drenagem no Conjunto Feira X
- Após chuvas, rua fica coberta de lama e moradores cobram solução
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
Reportagem escrita pelo estagiário de jornalismo Jefferson Araújo sob supervisão da jornalista Andrea Trindade
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