Ney Silva e Rachel Pinto
Oferecido este ano através de quentinhas por causa da pandemia da covid-19, para evitar aglomerações, o tradicional caruru de Santa Bárbara foi distribuído por volta do meio-dia desta sexta-feira (4) no Restaurante Popular no Centro de Abastecimento em Feira de Santana. O evento faz parte dos festejos de Santa Bárbara, padroeira do entreposto comercial que, embora tenha passado por mudanças na programação, não deixou de homenagear a santa que é tão querida pelos feirantes.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
Rita Caribé, agente de portaria, foi prestigiar a comemoração de Santa Bárbara, como sempre faz e relatou que sentiu falta do samba de roda, da missa campal e das apresentações dos grupos de folclore de Feira e região.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
“Temos que manter o distanciamento e esse ano infelizmente não temos o que o baiano mais gosta que é samba”, disse.
David Dias, gerente do Restaurante Popular, onde foram servidas 1.500 quentinhas, relatou que o todo o caruru foi feito no restaurante e cerca de 25 pessoas participaram da produção. Segundo ele, foram utilizados quatro sacos de quiabo, 600kg de frango e grande quantidade de camarão seco, castanha e amendoim.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
“Esse ano não servimos o caruru no salão. As pessoas pegaram a suas quentinhas e saíram para evitar aglomeração. O caruru tem um custo alto, mas vale a pena organizar e servir a todos. Nosso caruru está muito gostoso”, garantiu.
O diácono Gilberto Santana que todos os anos participa da festa e também estuda e pesquisa sobre as festividades alusivas à Santa Bárbara, contou que o caruru teve início no governo de João Durval Carneiro em 1967, através do padre Aderbal Saback Miranda, que assumiu a paróquia de Senhor dos Passos de 1964 a 1968. Figuras da cidade como Miguel das Ervas, Idalício do Supermercado do Lar e Juquinha ajudavam a organizar os festejos e e eles faziam a missa e um caruru para cem pessoas. Depois, em 1973 o prefeito Zé Falcão fez o maior caruru da história. Empossou como diretor do Mercado Popular, Francisco Marques e fizeram o caruru para 500 pessoas.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade
“Aí foi se expandindo e em 1976, quando transferiu para o Centro de Abastecimento, avançou muito. Em 2013, começamos a ampliar e tivemos 3 mil pessoas. Este ano devido a pandemia e os cuidados, o município distribuiu as quentinhas”, comentou.
Ele explicou também que há um misticismo relacionado ao caruru de Santa Bárbara e esclareceu que o caruru do Centro de Abastecimento, diferente do que muitas pessoas pensam, não tem nada a ver com oferenda. É um alimento que é distribuído para todas as pessoas de todas as crenças.
“Santa Barbara é uma santa mártir católica e que no Brasil através da escravidão, fizeram a junção de Santa Bárbara com uma entidade religiosa do candomblé. Mas, esse caruru não tem nada a ver com o candomblé. É uma festa popular e que se dá o caruru para as pessoas. O caruru é uma comida da cultura negra que é deliciosa, não tem nada a ver com oferenda. No candomblé usa-se o caruru para ofertar aos deuses. Mas, o caruru do Centro de Abastecimento não é oferecido nem aos santos católicos e nem as entidades do candomblé. É para o povo e podem vir comer católicos, evangélicos, espiritas, todos podem vir, sem nenhum problema”, concluiu.
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade