Feira de Santana

Órgãos de jovem assassinado por engano serão doados; data do velório ainda está indefinida

Renério afirmou que a decisão foi tomada pela mãe de Kauan, que enfrenta esse momento de dor buscando forças em Deus.

kauan e a mãe
Foto: Arquivo pessoal

A família de Kauan Gomes Araújo de Souza, de 20 anos, que foi morto com um tiro por engano enquanto seguia para uma academia, decidiu doar os órgãos da vítima. Segundo Renério Alves Ribeiro Neto, primo do jovem, esse é um gesto de solidariedade e amor que trará um pouco de conforto neste momento de luto e tristeza.

“A gente lamenta muito tudo que aconteceu, mas desse acontecimento trágico vai ser tirado vida. São pais que vão poder voltar para suas famílias, vão poder abraçar seus filhos, filhos que vão poder voltar a respirar. Kauan tem a chance de ser o primeiro doador de pulmão da Bahia. Saber que parte dele vai viver um pouquinho na oportunidade de outras pessoas viverem é um pouco de conforto em meio a essa tristeza”, afirmou.

Kauan Gomes
Foto: Redes Sociais

Renério afirmou que essa decisão foi tomada pela mãe de Kauan, que enfrenta esse momento de dor buscando forças em Deus para se manter serena. Ele disse ainda que a decisão pela doação não é fácil, já que isso prolonga o luto e o sofrimento da família, que só poderá realizar o velório, quando o corpo for liberado.

“Quando a gente soube da morte dele, minha tia optou por fazer a doação de todos os órgãos. Ela é uma guerreira, está tirando forças de Deus, continua sóbria e entende que é uma forma de dar sentido a esse momento de dor que estamos passando. Ela permanece de pé, forte, resolvendo o que precisa resolver. Nesse período em que ele estava internado, minha tia esteve em oração e está lutando para guardar as boas recordações. Não é fácil, a gente soube da morte dele na terça pela manhã e o corpo só vai poder ser liberado para o velório na quinta ou na sexta. Estamos vivendo um processo de luto que foi postergado, mas o preço é válido. O preço que a gente está pagando é justo. São pessoas que vão poder viver, vão poder ser felizes e a gente se reconforta nessa felicidade. Inclusive, é um desejo da minha avó, de repente, conhecer essas pessoas que serão abençoadas por esses órgãos”.

Jovem tímido e amado por todos

Renério ainda lembrou dos últimos momentos em que viveu com o primo Kauan junto à família. “Meu último contato foi numa confraternização de aniversário que fizemos para ele. A gente juntou familiares e foi o último grande momento. Depois disso, a gente se viu, mas de forma mais corriqueira. Ele era um jovem um pouco tímido, mas nas oportunidades que tinha sempre estava expressando seu amor pela família. Eu resgatei um vídeo dele falando para a avó no aniversário dela o tanto que ele amava a família. Era um jovem de poucas palavras, mas que tinha algo singelo dentro dele e isso foi tirado da gente”, disse.

primos de kauan
Primos de Kauan, Renério (camisa beje) e Reinaldo (camisa azul) | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Kauan era filho único e sempre foi rodeado de cuidados pela família. O primo lembra que a mãe sempre tentou proteger o filho. “Um jovem de 20 anos super saudável, era um atleta, que cuidava da saúde, não tinha vícios, não bebia, não usava nenhum tipo de droga, foi super cuidado pela família. Ele cresceu com os primos, os tios, a mãe dele superprotetora, sempre procurando saber onde ele estava. Se saísse com os colegas, tinha que ter horário de chegar. Ele, com 20 anos, ainda era assim, tanto que ele estava indo com ela para o trabalho. Ela treinava no mesmo horário que ele ia para o trabalho para poderem ir juntos e a gente sente que anos foram tirados de nós”, lamentou.

Kauan estava estudando educação física e já vinha atuando na área em um estágio supervisionado. “Ele queria dar prosseguimento a esse trabalho. Ele trabalhava ajudando pessoas a cuidarem da saúde e, infelizmente, a gente não vai entender por que isso foi tirado da gente e a gente não vai poder ver onde ele iria chegar com os sonhos que tinha e com tudo que ele plantava”.

Pedido por justiça

Diante do que aconteceu, a família agora só deseja justiça. “Agora a gente quer que seja feita a justiça, que outra família não sofra, que outra mãe não tenha que chorar, que outra família não chore o que a gente está chorando hoje. Por isso a gente pede empenho da polícia em colocar as pessoas que fizeram isso atrás das grades. A gente não quer vingança do homem. A gente serve a Deus e pede justiça”, pediu Renério.

Além disso, ele pediu atenção para a Avenida Fraga Maia, local próximo de onde ocorreu o crime e onde estão localizados vários bares. “Ali é um local onde as pessoas saem alcoolizadas, espero que seja feito algo para reprimir. A dor da gente ninguém vai tirar, mas nossa luta agora é para que seja feita a justiça. Estamos vivendo um luto extremo, sensação de que ele foi tirado da gente”, declarou.

Pedido de empatia e amor ao próximo

O primo de Kauan também falou sobre os julgamentos que a vítima sofreu depois que recebeu o tiro que causou a morte dele. Renério afirma que os julgamentos geram mais sofrimento para a família e pede mais empatia e amor.

“As pessoas têm que ter mais um pouco de empatia. Evitei olhar os comentários, mas algumas coisas que chegaram até mim eram de pessoas falando que ele estava envolvido com coisas erradas, que estava envolvido com mulher casada. Depois a verdade veio à tona. Se você não sabe, não viu e nem ouviu, não fale. Para quem está passando pelo processo, é mais uma dor, é pesado”.

Ele também agradeceu aquelas pessoas que prestaram solidariedade e ajudaram a cuidar da família durante os dias em que o jovem esteve internado no Hospital Geral Clériston Andrade, e ainda agradeceu à equipe da unidade hospitalar.

“Felizmente, nesse processo fomos tratados com muito amor por amigos, familiares, vizinhos, que cuidaram da gente, que têm orado por nós. Quero agradecer aos amigos de Kauan. Ele era introspectivo, mas vi tantos amigos no hospital, com carinho, com amor. Agradeço também à equipe do Clériston. A gente sempre faz críticas, mas ali tivemos um tratamento excepcional, humano, então temos que ser gratos”.

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Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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