Neste dia 12 de abril, é comemorado o Dia do Obstetra. Em Feira de Santana, vários profissionais se destacam na profissão e têm o reconhecimento dos seus pacientes, como também da comunidade. Uma dessas profissionais, é a médica ginecologista e obstetra Iracema Brandão.
Há 50 anos na profissão, ela foi entrevistada pelo Acorda Cidade para marcar a data e contou um pouco da sua trajetória que sempre foi marcada por muita dedicação, estudos e atenção às pessoas. Com uma carreira muito consolidada, ela é referência para muitos colegas, um grande exemplo para ser seguido, especialmente pela interação que tem com suas pacientes e familiares. Nesta entrevista ela relembrou momentos importantes de sua trajetória e destacou que já participa do nascimento da segunda geração de bebês de muitas famílias.
Iracema Brandão é natural de Feira de Santana e se formou em medicina na Escola Baiana de Medicina, em Salvador. Depois foi fazer especialização em ginecologia e obstetrícia em Brasília e quando concluiu retornou para Feira de Santana. Na cidade, ela ingressou no serviço de obstetrícia do Hospital Emec e do Hospital Dom Pedro de Alcântara (HDPA). Ela também passou por vários outros hospitais em Salvador.
O desejo de ser ginecologista e obstetra, segundo ela, começou desde o primeiro ano da faculdade de medicina. Muito enturmada com os colegas, ela era uma aluna muito dedicada que já se destacava no curso.
Ao longo dos seus 50 anos de profissão que ela completa neste ano de 2024, Iracema Brandão, comentou que não sabe o número exato de partos que já fez, porém acredita que já passe de 30 mil.
“Já tive períodos em um plantão de 24 horas de realizar 30, 40 partos. A mesma coisa quando eu fazia residência. E continuo fazendo parto normal, cesáreas e cirurgias ginecológicas”, afirmou.
Para a médica, completar 50 anos de profissão é um grande marco, que está sendo coroado com êxito. Parar de trabalhar, nem cogita o assunto no momento e enquanto isso, ela vai participando da vida de muitas mulheres, famílias e sendo instrumento para que a vida possa vir ao mundo.
“Eu sempre fui muito empenhada e obstinada por aquilo que faço. A minha jornada profissional foi e está sendo coroada de êxito. Continuo atuando, trabalhando e com a consideração e respeito dos colegas. Tenho privilégio de conviver com muitos colegas de várias especialidades que vieram ao mundo pelas minhas mãos”, relatou.
O nascimento é um momento sublime
Sobre o dia a dia de uma obstetra, Iracema Brandão, contou ainda que o momento de um parto é imprevisto e que isso exige muita renúncia do profissional. No entanto, ela observa que nunca se sentiu constrangida por isso e que fica muito alegre ao fazer os partos.
“Outro dia eu fui 3h30 da manhã para fazer um parto. Vou alegre e satisfeita e nunca me senti constrangida por isso. Obstetrícia exige muito do profissional, inclusive uma vida de renúncias. Muitas vezes deixei de tirar férias, ir para festas. Até já arrumada para sair, fui atender uma paciente que estava em trabalho de parto. Houve dois casos no dia do meu aniversário, quando eu estava com a casa cheia de amigos que foram me abraçar. Eu saí, deixei os amigos e fui fazer os partos”, relembrou.
A médica disse que quando precisa viajar tem uma equipe que trabalha com ela e uma colega que fica à disposição das pacientes e que quando esta colega viaja é ela que lhe substitui.
Há meio século fazendo partos, presenciando o momento da vida se apresentar o mundo, o sentimento de emoção, de acordo com ela, permanece e o nascimento é um momento de vibração.
“Obstetrícia é sempre marcante e todos os partos que eu faço eu ainda vibro e tenho o mesmo entusiasmo do início da carreira. O nascimento é um momento sublime. Eu me sinto grávida quando as pacientes ficam grávidas. Eu vibro e fico muito feliz. Esse parto que eu saí às 3h30 da manhã do dia 2 de abril, o pai desse bebê veio ao mundo também pelas minhas mãos. Eu já estou na segunda geração de partos das famílias e isso é muito gratificante”, celebrou.
A obstetra comentou também que ao longo de cinco décadas de trabalho vem presenciando a evolução da sua especialidade e principalmente da tecnologia que é uma grande aliada nos diagnósticos e prognósticos dos pacientes. Ela salientou que os aparelhos estão cada vez mais modernos, assim como há exames de ultrassonografia e laboratoriais, que ajudam muito no dia a dia dos médicos.
Mas, embora toda tecnologia seja muito bem-vinda, para ela, a experiência clínica, jamais vai desaparecer e é ela que ao longo do tempo faz com que o trabalho se aperfeiçoe ainda mais. Iracema Brandão destacou alguns pontos que são fundamentais na prática da obstetrícia.
“Primeiro não ficar aderido só a tecnologia. Olhar, conversar olho no olho com o paciente, examiná-lo fisicamente. O ser humano está muito carente desse toque, desse afago. A interação entre o médico e o paciente, infelizmente a tecnologia, está deixando muito de lado. Mas, é muito importante o médico ouvir, respeitar o seu paciente, a sua vontade e se tornar disponível para ele”, acrescentou.
Iracema Brandão disse que o amor ao que faz lhe movimenta, lhe mantém em plena atividade e a fez se sentir muito útil na profissão.
“Um dia desse chegou um rapaz acompanhando a esposa gestante e disse que eu tinha feito o parto da mãe dele. E disse que eu ainda estou na moda. Achei interessante. Isso é retorno do quanto você deixou naquela pessoa, e quando você passa pela vida das pessoas tem que deixar alguma história, algum momento que faça lembrar positivamente. É o retorno do quanto vibrou e afagou aquela criança”, afirmou.
Com tantas histórias vividas, a participação em tantos partos, tantas chegadas de bebês, são muitas as lembranças e memórias que somam-se na construção da carreira profissional da médica Iracema Brandão. Uma dessas que ela também apresentou à reportagem foi a história de uma paciente que já tinha dois filhos meninos e desejava muito ter uma menina. Então a gestação da menina chegou e ao realizar a ultrassom, somente a paciente e ela sabiam o sexo da criança.
A curiosidade atingiu toda a família, mas as duas mantiveram segredo até o momento do parto e quando a bebê nasceu, mesmo sabendo o sexo, ela contou que a mãe se emocionou muito ao ter a filha nos braços e ela também.
“Essa criança dessa história hoje é médica e mora em São Paulo. A sogra da paciente que era minha amiga e a mãe dela, ficaram me assediando para saber o sexo. Mas só foi revelado na sala de parto. A mãe ficou muito emocionada e eu também”, contou.
Dar boas vindas àqueles que chegam ao mundo e acolher suas famílias, é uma missão que envolve o amor ao que se faz, a humanidade e a sensibilidade de perceber a beleza sobrenatural que surge desde a concepção, a gestação, formação, desenvolvimento e o nascimento. O nascimento de um ser humano que não é somente mais um número de parto no currículo, mas o nascimento de alguém que se revela ao mundo diante das melhores experiências e possibilidades a serem alcançadas.
E isso a obstetra Iracema Brandão, faz com excelência. Perceber o encantamento em cada vida que chega e a sua responsabilidade sobre cada momento que é único e que fica marcado para sempre na vida das famílias.
Com todo esse amor, ela encerrou a entrevista destacando que um bom obstetra deve gostar do que faz, ter tempo e disponibilidade para a especialidade e acolher a paciente durante o período do pré-natal que é uma fase onde muitas mulheres ficam mais fragilizadas.
“A gente tem que ser médico, psicólogo, companheiro e algumas pacientes mais jovens até confundem com o papel de mãe. Temos que ter intimidade e confiança retribuída por esse paciente. Espero continuar aqui por muito tempo, esse é o meu desejo”, concluiu.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.
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