Feira de Santana

No dia do garçom, profissionais contam suas histórias e como o amor só cresce pela profissão

No manual destes profissionais, regras como um bom atendimento, alegria e simpatia nunca devem ser quebradas.

Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

Com origem na segunda metade do século 18, na França, a profissão de garçom, comemorada nesta quinta-feira, dia 11 de agosto, em todo o Brasil, relembra a época em que os profissionais da área exerciam sua função de terno e gravata borboleta, com um lenço branco estendido no braço e a bandeja à mão, sempre pronto para servir. Aos poucos, as exigências foram se modernizando, mas as regras de ouro do bom atendimento e da simpatia, essas nunca devem ser quebradas.

E no caso do garçom Francisco Holanda da Silva, elas foram sempre seguidas à risca. “Comecei o trabalho como garçom há mais de 40 anos, em 1980, quando fui com 18 anos para a Marinha do Brasil, mas meu primeiro contato com a gastronomia foi quando eu ainda era adolescente, em uma lanchonete no centro de Fortaleza. Agora, para eu me tornar o garçom que eu sou hoje, comecei em 2007, quando resolvi colocar toda a minha energia, pressão e dedicação a esse trabalho. Eu estava morando em Fortaleza nesta época e resolvi me concentrar e não aceitava oferta para trabalhar com mais nada. Comecei a estudar, fazer cursos e me dedicar ao estabelecimento, aos clientes, colegas, aos patrões, uma dedicação em todos os sentidos, trabalhando com muita alegria no rosto, satisfação, prazer de receber os clientes, eu estava vivendo e dando o meu melhor. E foi nos últimos dez anos que eu me tornei fruto do que sou hoje. Nada acontece por acaso”, revelou Holanda.

Foto: Arquivo Pessoal

Com a chegada da pandemia, em 2020, o cearense, hoje com 61 anos, viu quase meio século de muito trabalho ruir como um castelo de cartas. Sem emprego formal na época, ele fazia pequenos serviços como garçom, servia em alguns eventos, para tentar tirar um extra dentro da profissão que sempre se dedicou a exercer e buscou se tornar um diferencial.

Ouvia falar que alguns colegas também haviam perdido seus empregos, com o fechamento dos restaurantes. Os eventos foram cancelados e as contas começaram a se acumular em cima da mesa.

“Fui vendo o fechamento de tudo, e isso foi difícil. Tive que abrir um pequeno comércio e empreender em outra área. Foi aí que veio a reinvenção, pois um período que a gente achava que seria rápido acabou não sendo. E abri uma pequena vendinha dentro de casa”, lembra o garçom, ainda com saudade de retornar às mesas, de reencontrar os velhos amigos.

Foto: Arquivo Pessoal

O amor pela profissão de garçom parecia mesmo não ter fim na vida de Holanda. Enquanto via alguns colegas caírem em estado de desânimo, ele corria atrás de cursos e especializações em suas horas de folga. Adquiriu expertise em vinhos, cachaças, bebidas quentes, pratos variados, e pouco a pouco foi se tornando referência entre os clientes por causa do seu conhecimento.

Atualmente, diante da rotina pesada do mercadinho aberto na pandemia, ele afirmou que está buscando se reorganizar para voltar a atender a sua clientela, afinal sente que não pode deixar para trás o sonho de toda uma vida.

“Ao longo de todo esse tempo trabalhando, a gente acaba adquirindo esse orgulho, aquele empoderamento dentro da profissão e perde o medo de fazer o que tem que ser feito, de enfrentar problemas no salão do restaurante. E trabalho em um lugar como se fosse meu, zelando ali de todo o material, do nome da empresa, se o patrão estava ausente, minha dedicação era a mesma, não tem diferença. Trato o cliente como uma pérola preciosa do estabelecimento, e isso faz uma diferença muito grande, porque o cliente já chega procurando por você.”

No período em que trabalhou em um restaurante respeitado da cidade, teve a chance de conhecer também muitos políticos, autoridades importantes, e fazer grandes amigos. Sempre com o sorriso no rosto, gentileza como premissa e paixão pela profissão.

Foto: Arquivo Pessoal

“Quando as pessoas perguntam qual o segredo para ser um garçom com essa felicidade, diferente, digo que não é fácil, mas basicamente são três coisas: atenção, educação e discrição. Você tem que estar atento desde a hora que o cliente chega até a saída dele. Não recebê-lo sem uma saudação, sem um cuidado, não pode deixar faltar nada, tem que ter honestidade e simplicidade. E quanto à discrição, é preciso saber o seu lugar, saber o que pode falar e não pode, ser discreto, porque ali ao lado da mesa, a gente ouve muitas coisas e precisa ser discreto e nem dar a entender que você está ouvindo, para que a sua presença não seja desagradável”, observou.

Está no sangue

Também aos 61 anos, o cearense José Feitosa da Silva, mais conhecido como ‘Baixinho’, continua atuando na área da gastronomia como garçom, em um restaurante localizado no bairro SIM. Mas, a história dele servindo as mesas começou quando ainda era adolescente e pouco a pouco percebeu que estava mesmo era no sangue. “Isso já vem dos meus pais. O meu pai trabalhou muito na Estação Rodoviária, com um restaurante”, contou.

Baixinho, como é carinhosamente chamado por colegas, amigos e clientes também tem uma longa trajetória em Feira de Santana trabalhando em bares e restaurantes, tanto como funcionário quanto seu próprio patrão.

Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade

“Eu comecei na Pousada da Feira, da Rede Lux, que foi desativada. Um pessoal conseguiu essa vaga lá e dali por diante vim trabalhar no Feira Palace, durante um ano, saí de lá para o antigo Cabaré, que fechou também. Fui para o Acapulco, onde trabalhei 12 anos, e de lá botei o meu, o Baixinho Drinks, na Ari Barroso, onde tive alguns problemas na vida pessoal. Trabalhei um tempo em Porto Seguro, e agora estou trabalhando como garçom em um estabelecimento no SIM.”

Questionado sobre o amor que tem pela profissão, ele respondeu com um sonoro ‘sim’. O orgulho que sente em servir aos clientes se tornou seu principal projeto de vida, se dedicando ao máximo pelo trabalho, a fim de alcançar a satisfação da clientela e o reconhecimento pessoal.

“Tudo o que eu faço na minha vida é um projeto, que é trabalhar com orgulho, me dedicar ao meu trabalho o máximo possível, me dedicar aos meus clientes, meus amigos, e o atendimento é fundamental. Tudo na vida eu faço com dedicação e todos os dias eu aprendo algo em minha vida, porque cada dia que passa é diferente. Então tenho orgulho demais”, se emocionou.

Quem frequenta o local de trabalho de Baixinho pode comprovar que é verdade. Ele corre de um lado para outro, apressado, para não deixar ninguém sair insatisfeito, sem seus pedidos atendidos. Até dança para os clientes no salão e faz questão de manter um sorriso alegre e sempre amigo, pronto para ouvir.

“Aprendi várias coisas, como procurar ver o atendimento, a qualidade da comida, ter um pouco mais de atenção na praça, a qualidade da cerveja gelada, ver as mesas sempre limpas. Gosto de trabalhar em um ambiente limpo e atendo bem os meus clientes, que muitos hoje são meus amigos. Aonde eu trabalho, me comunico com eles.”

O segredo da felicidade, ele também sabe de cor: “É brincar com o cliente, respeitar sempre o próximo. Manter o respeito a todas as mulheres, sejam elas casadas, solteiras ou senhoras. Tenho muitos relacionamentos em meu trabalho, e sempre encontro pessoas que me apoiam, conversam comigo, a gente brinca. É isso que me atrai. É bonito chegar em uma mesa e dizerem: ‘Hoje eu quero ser atendido por aquele garçom. Não me leve a mal’. Todos são iguais, mas isso está no meu perfil. Já tentei mudar, mas pessoas me dizem para não mudar, que este é o meu perfil”, garantiu.

Para Baixinho, oferecer um bom atendimento todos os dias é um grande desafio, e apesar da rotina árdua, ele busca entregar tudo de corpo e alma.

“Tento trabalhar da melhor forma possível, limpar as mesas. E sempre às quartas-feiras é a minha folga, então me dedico aos meus amigos, saio para tomar uma cervejinha e vou ao futebol. E a vida é isso aí: a quarta-feira de folga”, brincou.

Com informações do repórter Ed Santos e da jornalista Maylla Nunes do Acorda Cidade.

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