Daniela Cardoso
Uma rotina corrida, se dividindo entre cuidar da casa, estudos e trabalho e ainda encontrando tempo para se cuidar. Analisando de longe, parece a descrição de qualquer mulher moderna, a mulher multifacetada, que preenche o dia com diversas atividades. Mas a rotina de Edilene dos Anjos, tenente da Polícia Militar, que comanda a Ronda Maria da Penha em Feira de Santana, tem seu diferencial. Entre os diversos afazeres, o trabalho da PM incluiu mais que o cumprimento de obrigações. Ela ajuda outras mulheres a superaram dores e saírem do ciclo de violência.
Apaixonada pela função que exerce, Edilene dos Anjos sabe reconhecer os desafios e encara todos eles com bastante firmeza e determinação. Lidar com o sofrimento de outras mulheres de perto não é fácil e pode até ser doloroso em muitos momentos, mas ela enfrenta e faz dos desafios uma escada de auxílio para ajudar. Faz da dor uma fortaleza de apoio e de solidariedade.
“Quando eu visto minha farda o meu marido diz que eu mudo. Consigo separar bem as coisas, mas nem sempre o trabalho me deixa. Mesmo fora da hora de trabalho respondo a mensagens de quem me solicita. Sou uma mulher normal, como qualquer outra, com os resquícios de ser dona de casa e gosto disso. É um trabalho satisfatório, a gente sofre com o sofrimento da mulher e eu digo que bom seria se não precisasse ter Ronda Maria da Penha, bom seria que esses homens se conscientizassem para tratar com respeito a mulher que ele tem ao lado. Mas é um trabalho satisfatório, pois temos ferramentas para ajudar a mulher que está precisando”, destacou.
Como funciona a Ronda Maria da Penha
A tenente Edilene está a frente da Ronda Maria da Penha desde quando ela foi implantada em Feira de Santana, em setembro do ano de 2016. Esse é um projeto instalado na Bahia desde o dia 8 de março de 2015, com início em Salvador. O modelo da Ronda foi imitado do Rio Grande do Sul. Em Feira de Santana a ronda conta com 15 policiais militares, tendo homens e mulheres, sendo que uma mulher sempre está presente nas guarnições.
“É um projeto muito bem sucedido aqui na Bahia, nas cidades pequenas que não tem rede de proteção como a delegacia da Mulher, as pessoas querem muito que tenha a Ronda Maria da Penha, mas infelizmente a ronda só é instalada em locais que tenham o serviço completo. Quando a mulher presta a queixa e sabe que a Ronda Maria da Penha vai fiscalizar e que ela pode confiar no serviço da Polícia Militar, ela se sente mais segura", afirmou.
A tenente Edilene dos Anjos explicou que no primeiro momento as mulheres vítimas de violência devem fazer a denúncia da Delegacia de Atendimento a Mulher (Deam) e solicitar a medida protetiva. O juiz deferindo, passa a medida protetiva para Polícia Militar e quando o agressor é notificado, a Ronda da Penha começa a acompanhar.
Aumento de denúncias
A tenente avalia que o aumento no número de denúncias registradas de violência contra a mulher, não significa que houve de fato o aumento de casos, mas que as mulheres estão denunciando mais. Segundo ela, no ano passado, nos meses de janeiro e fevereiro, na Ronda Maria da Penha foram oito medidas protetivas e esse ano até o dia 3 de fevereiro, foram 127.
“Um número muito grande e isso quer dizer que a mulher está se pronunciando mais e acreditando mais nessa rede de proteção. Ela não está aceitando mais que o homem massacre a vida dela. A mulher está denunciando mais, os casos estão repercutindo mais na mídia. A violência doméstica sempre aconteceu e está acontecendo e não vai ser fácil de acabar, mas já conseguimos esse instrumento jurídico fantástico que é a Lei Maria da Penha. Basta termos pessoas preparadas para se efetivar essa lei. Pelo número que temos, percebemos que as mulheres estão tendo mais coragem para denunciar, antes se matava mulher e não tinha repercussão”, lembrou.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade