Diversos produtos podem ser encontrados na 2ª edição da Feira da Agricultura Familiar, Economia Criativa, Solidária e Popular, que está sendo realizada na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs). Parte do evento “Março Mulher: Raízes de Empoderamento e Conexão Solidária”, a feira reúne artesanato, produtos da agricultura familiar e debates sobre temas fundamentais para o fortalecimento da economia solidária e do protagonismo feminino.

Promovido pelo Movimento de Organização Comunitária (MOC) e pela União Nacional das Cooperativas de Agricultura Familiar e Economia Solidária do Estado da Bahia (Unicafes-BA), a Feira da Agricultura Familiar começou no último dia 26 com um show especial da Banda Quixabeira da Matinha e segue até esta sexta-feira, 28 de março, com a presença de agricultoras, artesãs e representantes de diversas comunidades de várias partes do estado.

“O objetivo é trazer toda essa riqueza que a gente tem aqui, todos esses grupos de empreendimento de todas as regiões da Bahia, para mostrar quanta coisa se tem. Ainda se ouve muito dizer que não existe mais agricultura familiar, e isso aqui faz quem pensa dessa forma cair por terra esse pensamento. Tudo que a gente está vendo aqui, seja artesanato, sejam os derivados, os beneficiados, é produto da agricultura familiar, inclusive, vem da mão de obra feminina”, afirmou Conceição Borges, presidente do MOC.

Em entrevista ao Acorda Cidade, a presidente também falou sobre a realização da feira na Uefs como um espaço importante a ser ocupado pelos agricultores, que é a academia. No ano passado, o evento foi realizado no centro da cidade, na Praça Bernardino Bahia.
“Dentro da universidade, também é simbólico, que é um lugar que se constrói conhecimento, tem toda a estrutura e é um lugar também dos empreendimentos da economia popular e solidária ocupar esse espaço aqui.”

Além da exposição e comercialização de produtos, o evento também promove debates sobre temas essenciais, como o programa Desenrola para quitação de dívidas, previdência social, acesso ao crédito e a situação climática. A presidente ainda destacou a importância do reconhecimento dos agricultores dentro do evento, assim como dos artistas da terra.
“Trazemos nossos artistas da terra para abrilhantar e para animar a nossa feira. Nós tivemos, desde a abertura até o encerramento, artista da terra, inclusive, com a abertura triunfal de Quixabeira da Matinha. Isso também é comercializar, isso também é empreender, é dar para os nossos artistas, principalmente porque a maioria dessas são mulheres, o empoderamento de ter o seu reconhecimento dentro de um evento como esse”, reforçou.

Entre as muitas histórias que atravessam a feira, o Acorda Cidade encontrou a de Áurea Aires. Da Comunidade de Cacimbinha, em Formosa do Rio Preto, extremo oeste da Bahia, ela viajou quase mil quilômetros para participar do evento em Feira de Santana, trazendo consigo o artesanato dos povos geraizeiros, uma expressão cultural e econômica que resiste e se fortalece na economia solidária.

Para as mulheres geraizeiras, o artesanato se tornou não apenas uma fonte de renda, mas também uma ferramenta de empoderamento e resistência. Entre os materiais utilizados na produção artesanal, destaca-se o capim-dourado, originário das veredas do Alto Rio Preto.

“Das mulheres, principalmente, vem o artesanato, que é a economia solidária. A gente traz também a cultura familiar e o extrativismo. Por exemplo, o buriti e o pequi, que são extraídos da natureza na nossa região geraizeira. O que me motiva mesmo é a luta. Esse trabalho das mulheres, além de ser empoderamento feminino e também uma renda, também é um instrumento de luta contra o agronegócio que invade o território, que encurrala, invade e que viola muitos direitos dos povos tradicionais”, contou a agricultora.
Movimento de Organização Comunitária
O MOC existe há 57 anos e tem uma atuação fundamental no fortalecimento da luta pelos direitos das comunidades rurais na Bahia, em mais de 50 municípios. Fundado pelo padre Albertino Kock, o movimento surgiu com a missão de transformar a realidade de pequenos agricultores e agricultoras, promovendo desenvolvimento sustentável e autonomia financeira para as famílias do campo.

Com projetos voltados para a segurança alimentar, geração de renda, acesso à água e educação no campo, o MOC desempenha um papel estratégico na articulação de políticas públicas e no apoio a comunidades tradicionais, especialmente às mulheres trabalhadoras rurais. A atuação da entidade também se conecta com o programa Bahia Sem Fome, garantindo acesso à alimentação para milhares de famílias que enfrentam vulnerabilidade extrema, que dormem e acordam sem ter o que comer.

Bahia Sem Fome
Muitas dessas organizações, como o MOC, participaram de editais, como o de Cozinhas Comunitárias e Solidárias, o de Assistência Técnica e o de Acesso à Água. Com essa parceria, além de promover a agricultura familiar, também estão sendo oferecidos serviços essenciais, como a emissão de documentos para beneficiários do programa.
Durante os três dias de evento, uma carreta do SAC, em parceria com a Saeb e o Bahia Sem Fome, esteve no local para emitir cerca de 600 documentos para a população. O Acorda Cidade mostrou longas filas na Uefs de pessoas que buscavam o atendimento. (Relembre aqui).

“Em Feira de Santana, nós temos mais de 10 cozinhas comunitárias solidárias, executadas pelas organizações da sociedade civil. São mais de 5 milhões de reais que o Estado está investindo aqui com essa ação. Nós temos um alcance também aqui de oferta de alimentação escolar com produtos da agricultura familiar, que é uma agenda também do Bahia Sem Fome”, disse Tiago Pereira, coordenador-geral do programa.
Tiago lembrou que, após o Brasil retornar ao mapa da fome da Organização das Nações Unidas, a meta agora é sair. Segundo ele, ainda restam 833 mil pessoas no mapa da fome.
“Por isso, estamos fazendo busca ativa, identificação social, firmando parcerias com a sociedade civil, para que possamos chegar aos rincões da pobreza, da fome e da miséria, e o Estado ajudar de fato quem mais precisa”, disse em entrevista ao Acorda Cidade.

O coordenador também destacou a importância das mulheres no combate à fome. Mulheres negras, mães solo e trabalhadoras da economia solidária são as mais afetadas pela insegurança alimentar.
“Estamos, no âmbito do Bahia Sem Fome, elaborando uma minuta para regulamentar as compras públicas da agricultura familiar e da economia solidária. Então, queremos estimular o trabalho, a renda, para que o Estado possa comprar produtos e serviços da economia solidária, principalmente das mulheres”, completou.

O atendimento prioritário para as pessoas do programa Bahia sem Fome segue até sexta-feira, dia 28, das 9h às 17h, no Sac Móvel na Uefs.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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