Laiane Cruz
Moradores da Rua Bom Jesus, no Conjunto João Paulo II, em Feira de Santana, convivem diariamente com o medo e o risco de contrair as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti. Segundo os proprietários das casas ouvidos pelo Acorda Cidade, quase todas as pessoas que residem no local já tiveram dengue, zika ou chikungunya.
O que vem provocando tanto transtorno é a água que se acumula no final da Rua Bom Jesus, que é uma via sem saída e fica em uma baixada. Com as chuvas, as águas não têm para onde escoar, transformando o lugar em um verdadeiro rio. Outro problema apontado pelos moradores é a presença de uma fábrica de reciclagem que está em estado de abandono, com muita água acumulada no terreno e materiais expostos, que são criadouros de mosquitos e outros animais.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
A idosa Maria Inês, 72 anos, relatou que não suporta mais viver nessa situação. Ela reside na rua há muito tempo e já foi acometida pela dengue e a zika.
“Aqui é lama, rato, muriçoca, cobra, tudo que é ruim aparece aqui. Já capinei muito essa rua, desde que me mudei para cá, vivo com a enxada na mão. Aqui ninguém para de ter dengue e zika. Minha filha grávida veio me trazer em casa um dia e pegou zika, ainda bem que a criança não nasceu com sequelas. Ela tem agora 40 anos, mas quando, teve tinha 38 anos”, relatou a moradora.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Ela contou ainda que não há ninguém que tome providências em relação à fábrica, e por conta do medo de animais peçonhentos, evita até sair de casa. “Já matei cinco cobras aqui, e só saio com medo.”
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Morador há 15 anos da Rua Bom Jesus, Lindomar Paixão revelou que as chuvas prejudicam a rua de tal forma, que os moradores não conseguem sair de casa.
Foto: Enviada por Whatsapp
“É uma bacia essa rua sem saída. A queda ficou toda para o final da rua e vira um rio. E tem a fábrica de reciclagem, que acumula todo tipo de inseto e aparecem ratos, cobras. Vários moradores já tiveram a dengue. Quero que a prefeitura veja o que pode fazer, porque a água que acumula no final da rua nos prejudica. Se a gente tomar uma atitude por conta própria, eles podem até nos multar.”
Outro residente da rua, Lucas Santos informou que a as águas que se acumulam dentro da fábrica abandonada escoam pelo portão do imóvel e descem pela rua. “São vários problemas. Vem dengue, chikungunya, ratos, cobras. Entrou uma serpente na minha casa semana passada. Parece que não somos moradores da cidade, e isso me entristece muito”, lamentou.
Foto: Enviada por Whatsapp
Uma moradora que não quis se identificar contou que uma cobra também entrou na casa dela. Outra dificuldade relatada por ela é que motoristas de aplicativo não querem entrar na rua, por medo de atolar o veículo. “Pagamos vários impostos e vivemos uma situação delicada. O maior foco de dengue está nessa fábrica, porque acumula água.”
Proliferação da dengue
Até o dia 1º de novembro deste ano em Feira de Santana 541 casos suspeitos de dengue foram notificados pela Vigilância Epidemiológica, e desses 126 foram confirmados. E dos 155 casos de chikungunya notificados, 55 foram positivos para a doença.
Os bairros com maior número de casos de dengue notificados foram Parque Ipê (28) Rua Nova (26), Campo Limpo (21), Papagaio (21), Asa Branca (21). Já o distrito com maior número de casos foi o distrito de Humildes, com 61 notificações.
Os números, no entanto, podem estar abaixo da real situação enfrentada pela cidade. Visto que a pandemia dificultou o trabalho dos agentes de endemias e as pessoas também deixaram de procurar por ajuda nos postos de saúde.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“Com a pandemia os moradores estão deixando de ir aos postos, e isso está dificultando o nosso trabalho, porque não temos a real situação da dengue em Feira de Santana. Nós não estávamos adentrando as casas, mas agora com a nova diretriz do Ministério da Saúde, já podemos entrar nas casas para fazer o trabalho educativo”, informou o coordenador de endemias do município, Edilson Matos.
Apesar das dificuldades encontradas pelos agentes, ele afirmou que o trabalho continua sendo feito de domingo a domingo nos bairros.
“Nossas ações não param, trabalhamos de domingo a domingo. Temos uma equipe fazendo o recolhimento de pneus, e vamos casa a casa. A Viep também vem fazendo o seu trabalho e a Sesp também tem limpado os terrenos baldios. Os agentes comunitários fazem o trabalho de divulgação. E com a chegada do verão os cuidados têm que ser redobrados.”
Questionado sobre a situação da Rua Bom Jesus, onde praticamente todos os moradores já foram picados pelo mosquito transmissor da dengue, zika e chukungunya, Edilson Matos afirmou que ao tomar conhecido do caso, enviou uma equipe ao local e que irá providenciar uma bomba para realizar a sucção da água acumulada.
Com a chegada do verão, os cuidados devem ser redobrados. A população deve manter os quintais limpos e evitar deixar garrafas pets, e outros recipientes em locais onde possam acumular água. Além disso, não devem deixar tanques abertos e pneus em locais abertos.
As denúncias sobre possíveis focos do mosquito podem ser feitas através do telefone 0800-286-5646.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.