No Dia Internacional da Mulher, 8 de março, a reflexão sobre a presença feminina na política se torna ainda mais pertinente. Em Feira de Santana, onde 55% dos mais de 426 mil eleitores são mulheres, a representação no Legislativo ainda é escassa: apenas duas vereadoras ocupam cadeiras na Câmara Municipal, em um total de 21 parlamentares.
A outra vereadora eleita, Gerusa Sampaio, se licenciou do cargo para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Social.
A professora e ex-presidente da Câmara, Eremita Mota (PP), e a enfermeira Lú de Ronny (PV) são as vozes femininas em um espaço predominantemente masculino. Ambas atuam na defesa dos direitos das mulheres e em diversas pautas sociais, enfrentando desafios para ampliar a participação feminina na política da cidade.
“Lamento a gente saber, a gente ver, detectar que realmente a maioria dos eleitores são mulheres e tem apenas duas na Câmara. Sinceramente, tem horas que eu fico triste com essa situação. E é necessário muita raça, muita disposição para ter voz. Eu me considero uma guerreira porque estou no sexto mandato, e eu sei como é como mulher chegar em um parlamento quase 100% masculino”, desabafou Eremita Mota.
A vereadora fez uma provocação à população: Por que a maioria dos eleitores no interior não elegem mulheres? Essa é uma pergunta fácil de responder quando se compara com a falta de direitos que as mulheres, ainda mais mulheres negras, passam na sociedade.
Segundo o 18ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública e do Núcleo de Estudos Raciais do Insper 1.238.208 delas já sofreram algum tipo de violência. Nessa conta, mulheres negras representam mais da metade, 63,6% das vítimas de feminicídio.
O Brasil já alcançou a terrível marca de 1 estupro contra a mulher, a cada 6 minutos. A cada 10 vítimas dessa violência 4 são crianças ou adolescentes negras. Elas também não são reconhecidas nem valorizadas no mercado de trabalho, quando recebem 47% a menos do que a média nacional.
Desde a luta pelo voto feminino, conquistado há 93 anos, nem todas as mulheres foram contempladas. Boa parte das mulheres negras eram analfabetas recém escravizadas e não recebiam o acesso à educação para ter o direito ao voto, portanto, que democracia é essa que ainda insiste em se impor sem a presença das mulheres, ainda mais, das mulheres negras?
Seja na política, na cultura, na educação, em todos os espaços, é preciso reafirmar o papel delas na sociedade com igualdade de direitos. Mulheres não são menos seres humanos do que homens.
Na política, além do incentivo à participação feminina, Eremita afirma que é necessário maior apoio dos partidos políticos e gestores públicos para fortalecer a presença das mulheres nos espaços de decisão.
A Lei das Eleições (Lei 9.504/97), onde todos os partidos devem ter ao menos 30% de candidaturas femininas é um avanço para mudar essa realidade na política, mas ainda é preciso muito chão para fazer essa luta ser efetivada com verdade.
“Os dirigentes, diretores, gestores, precisam apoiar mais as mulheres. Isso não acontece. Colocam como uma cobertura de cotas, mas não há incentivo real, inclusive financeiro, para que haja uma participação efetiva. Sem ajuda fica difícil”, revelou Eremita Mota ao Acorda Cidade.
Para Lú de Ronny, a representação feminina na Câmara ainda é uma vergonha mediante o eleitorado feirense.
“Isso mostra que as mulheres precisam estar mais engajadas na política, porque é necessário aumentar essa representatividade feminina e eu aproveito o momento para convidar as mulheres a se unirem a essas duas vereadoras para que a gente possa fazer um excelente pleito na cidade, ouvir as mulheres e que elas venham conversar com a gente para a gente poder estar orientando as mesmas porque a representatividade de mulher, politicamente falando, dentro da Câmara, realmente precisa melhorar bastante”, afirmou.
Combate à violência contra a mulher
A parlamentar também chamou a atenção para a necessidade do combate à violência contra a mulher e do fortalecimento das políticas públicas nessa área. Lú criou um projeto de lei para pagar o aluguel para mulheres que sofreram violência doméstica e foram expulsas de suas casas pelos maridos.
“Esse projeto visa abraçar essas mulheres que foram violentadas e a prefeitura pagaria um ano de aluguel até essas mulheres se reestabelecerem. Mas até o momento não vi, essa lei não foi sancionada pelo prefeito anterior, o prefeito Colbert. Voltou para casa, nós promulgamos a lei, porém ela ainda não está vigente. Inclusive, pedi até para o legislativo trazer novamente essa lei aqui para a gente, para a gente poder começar a fazer uma fiscalização das leis que foram promulgadas aqui nesta casa e ainda não está sendo vigente”, alertou Lú de Ronny.
Lú e Eremita, sem partidarismos ou escolha de lados, são políticas que chegaram nesse espaço de poder, mas ainda encontram dificuldades para colocar em pauta e em aprovação políticas públicas que desestruturam a violência do patriarcado. Elas chegam nesses espaços com demandas reais das mulheres, mas ainda são pouco ouvidas e acatadas.
Neste 8 de março, às parlamentares reforçam a importância da luta feminina por espaço, direitos e dignidade.
“Eu costumo dizer que a Rosa tem espinhos, é linda ter espinhos, mas esses espinhos não fazem com que ela se torne feia. Pelo contrário, é uma defesa. Mas a gente precisa ver esses espinhos como um esmeril, não como um obstáculo, para que a gente venha a estar driblando cada vez mais qualquer problema que venha a acontecer em nossas vidas, a gente está driblando com sabedoria, com maestria, acima de tudo resiliência e humildade. Porque precisamos sim estar conquistando nossos espaços e desistir nunca que a mulher é bênção do Senhor”, completou Lú de Ronny.
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade
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