Laiane Cruz
Manifestantes foram às ruas do centro de Feira de Santana neste sábado (20) em comemoração ao Dia da Consciência Negra e contra o governo Bolsonaro. Os atos contaram com a participação de vários representantes de movimentos sindicais, partidos de oposição, trabalhadores rurais, bancários, rodoviários e da população em geral.
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade
Militante do movimento negro, Elisio Santa Cruz, que participa da Frente Brasil Popular em Feira de Santana, informou que a manifestação aderiu à pauta nacional.
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade
“Esse ato a gente já veio construindo há meses. Uma continuidade também do Grito dos Excluídos. A gente chegou com força também na praça da Matriz, depois da manifestação pelo centro da cidade. Foi um dia de luta e resistência pelo povo negro, que são mais de 400 anos de escravidão. Em Feira de Santana, por exemplo, 77% da população é negra e vejam as condições de vida dos trabalhadores dos bairros. Por isso a gente veio para a rua, em um ato simbólico para marcar a luta de Zumbi dos Palmares, a luta de Dandara, da comunidade negra brasileira. E a gente veio às ruas também para fazer as atividades do Movimento Fora Bolsonaro, com igrejas presentes, o movimento popular, o movimento operário, as mulheres negras. Essa é a resistência que nos interessa: a defesa das classes trabalhadoras”, salientou Santa Cruz.
A diretoria do Sindicato dos Rodoviários de Feira de Santana e integrante da executiva municipal do PT,Lorena Margarida de Menezes, ressaltou que esse foi um ato também de unificação inter-religiosa.
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade
“Hoje tivemos esse primeiro encontro das entidades inter-religiosas. Que hoje a gente tem que proclamar a paz, independente da religião. E eu avalio que o movimento hoje teve muita representatividade. E estamos aqui também pelo Fora Bolsonaro, que é isso que a gente deseja para 2022.”
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade
Ela declarou que mesmo após a abolição da escravatura, o povo negro continua escravizado e vivencia um racismo velado na sociedade brasileira. “Combatemos o racismo estrutural que vem nos acompanhando há anos. Tem mais de 200 anos essa proclamação e mesmo assim continua sendo escravizado o povo negro.”
O padre moçambicano Leandro Chequela, vigário da Paróquia Santíssima Trindade do Conjunto Feira X, está há nove anos no Brasil e atuando em Feira de Santana. Ele também participou da mobilização e avaliou a crise econômica atual.
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade
“Com essa situação da crise, vemos muita separação. Os ricos se tornando mais ricos, e os pobres se tornando mais pobres, a ponto de serem chutados para a rua. Isso que entristece no momento. Vejo que a crise está se tornando pior, e o governo não está dando atenção às camadas mais vulneráveis. Temos que ver que a pandemia contribuiu muito também para essa crise, e a administração das políticas públicas não estão sendo orientadas de uma forma que promovam a igualdade e ajuda do povo. A situação em geral no mundo inteiro vemos isso.”
A historiadora Karine Damasceno destacou que hoje se completam 50 anos que o Movimento Negro brasileiro instituiu o Dia da Consciência Negra, data símbolo de reflexão da situação da população negra no Brasil.
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade
“O racismo é algo estrutural na sociedade brasileira. Isso virou senso comum, mas na prática, muita coisa precisa ser modificada. Nós temos avançado, mas o racismo ainda é muito forte. Hoje nós temos como representante do racismo o presidente da República, é fato. Ele contempla uma parcela da população que acha que a população negra deve morrer, que essas vidas não importam. Existe uma campanha, inclusive, chamada ‘Vidas Negras Importam’, mas infelizmente a gente ainda precisa avançar muito”, afirmou.
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade
De acordo com ela, a população negra está exposta ao genocídio, ao feminicídio, que mata principalmente as mulheres negras e ao desemprego, que tem levado ao desespero a população.
“Temos os piores índices, então a sociedade brasileira precisa abraçar essa causa. Não basta reconhecer que o racismo existe, precisamos nos posicionar contrários e contrárias às pessoas que adotam políticas que prolongam o racismo nas nossas vidas. Por isso que várias entidades negras de Feira de Santana se juntam ao movimento Fora Bolsonaro. Estamos lutando contra uma pauta que é estruturante. Somos 56% da população brasileira, estamos no lugar de quem constrói esse país, do pior lugar. Sempre foi assim.”