Nesta quarta-feira (23), mães de crianças com deficiência reuniram-se na Câmara Municipal de Feira de Santana para tornar público as dificuldades e ausências que estão enfrentando em relação ao atendimento e tratamento de seus filhos no município.
Cris Almeida, estudante do curso de Direito e mãe de uma criança autista de 9 anos, se pronunciou na tribuna livre da Câmara Municipal e relatou ao Acorda Cidade sobre a necessidade da criação de um Centro de Atendimento e Emergência Especializado.
“Eu recorri ao poder judiciário por conta dessa ineficácia no atendimento e no tratamento. Eu não consigo tratamento para o meu filho em Feira de Santana, não sei quais são os critérios de seleção, e é uma prova de que a demanda é grande e não suporta. O juiz deferiu uma liminar determinando que fosse providenciado uma clínica para essas crianças, mesmo sendo particular, porque é um direito que existe em lei. E até o momento a liminar está sendo descumprida,” revelou.
Ao Acorda Cidade, Cris compartilhou que a causa de crianças autistas precisa ser tratada com mais atenção no município.
“Eu acho que a causa precisa ser vista com um olhar mais humano e empático por parte da organização, dos gestores e criar meios de tratar as nossas crianças com dignidade, criar um Centro de Atendimento, porque quando uma criança está em crise, eu mesma como mãe não sei como lidar, às vezes, eu fico perdida, não sei para onde levar, ou onde posso receber esse atendimento,” disse.
Em uma das crises do seu filho, Cris expôs que uma por falta de direcionamento, teve que levá-lo ao Lopes Rodrigues.
“Meu filho tem crises de amanhecer gritando, se batendo, se machucando e a gente não tem para onde levar nessas situações. Já ocorreu um triste e lamentável episódio que eu tive que levar meu filho ao Lopes Rodrigues para ser amarrado e contido com uma sedação na veia. E isso é um absurdo, porque pai nem mãe alguma quer ver o seu filho em uma situação dessa, e é uma falta de responsabilidade, de respeito, porque são crianças que têm os seus direitos fundamentais que estão sendo violados. Meu filho tá sem tratamento e tem outras mães que estão vivendo na segregação, no isolamento, não tem uma rede de apoio para atender a essas mães, não tem uma rede que venha dar um atendimento qualificado para que essas mães consigam conduzir e ter um cuidado melhor com o seu filho. Tá deixando muito a desejar,” descreveu.
O Centro de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil (CAPSi), segundo Cris, não consegue atender a demanda de crianças autistas em Feira de Santana.
“No CAPS infantil não tem terapia ocupacional. Nós contamos apenas com um médico cirurgião que atende para passar as receitas, os encaminhamentos e observar os nossos filhos em um período que acredito ser muito pouco. Quatro meses para aguardar uma consulta é uma prova de que a demanda em Feira de Santana está grande e está tendo uma lacuna muito grande nessa parte de olhar e tratar nossas crianças,” pontuou a mãe.
Cris destacou que o presidente da Câmara se sensibilizou com a causa.
“Fernando Torres se sensibilizou com a situação e me deu lugar de fala para que eu levasse para a população essa informação que é de relevância,” concluiu.
Jaqueline Borges Brito, também estudante do curso de Direito, possui um filho autista de 10 anos e disse ao Acorda Cidade que o sofrimento enfrentado é muito grande.
“Infelizmente enfrentamos, diariamente, não só a segregação como também a incompreensão, não só do poder público, como também de muitas instituições particulares, relacionada à causa do autismo,” ressaltou.
Jaqueline Borges disse que a dificuldade é vivenciada em todos os setores.
“Na educação, geralmente, a gente chega às escolas e pergunta se existe vaga para tal série, encontra-se a vaga e quando dizemos que os nossos filhos são autistas, simplesmente o que acontece é que a vaga desaparece. Eles relatam que não têm como acolher a criança ou que não tem profissional que ajude na sala de aula e sempre inventam uma desculpa,” expôs.
A mãe pede que seja inserida a verdadeira inclusão nas escolas.
“Há um tempo foi falado que era para se criar uma escola única para autista. Mas eu acredito que esse tipo de escola, em vez de incluir, vai segregar. Porque a verdadeira inclusão é tratar os diferentes como iguais, e não tratar os diferentes como diferentes. De segregação já estamos cheios, de segregação já estamos fartos e saturados,” salientou.
Além disso, Jaqueline observou que a sociedade precisa ter um olhar de empatia para o autismo.
“Quando nossos filhos estão em crise ou encontram-se doentes e chegamos a uma Emergência dita como normal, nós percebemos vários olhares e julgamentos. Então acredito que falta, tanto do poder público, quanto da sociedade civil, um pouco mais de empatia sobre o autismo,” frisou.
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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