Cordelistas na Flifs

Literatura de Cordel promove arte, crítica social e a cultura nordestina na Feira do Livro

A praça do cordel na Flifs evidencia obras de poetas e escritores de diversas regiões do nordeste.

Foto: Kaio Vinicius/Acorda Cidade
Foto: Kaio Vinicius/Acorda Cidade

Nesta quinta-feira (1), a praça do cordel abraçou todos os visitantes do 15º Festival Literário de Feira de Santana, levando a arte, a cultura, a crítica social e o intercâmbio de ideias, temas e saberes.

A cultura popular mantém viva a memória coletiva, com seu próprio conjunto de simbologias, recupera tradições, mitos e narrativas do povo que preenchem e constroem o imaginário popular.

O cordel, também chamado de folheto ou livro de feira, representa todo o material poético, típico do nordeste e que colocou a cultura brasileira em um outro patamar.

Foto: Kaio Vinicius/Acorda Cidade

A historiadora Cristiana Barbosa de Oliveira Ramos, que trabalha na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), integra a comissão organizadora da Flifs, sendo responsável pela organização da praça do cordel.

“Desde 2010, a gente dedica parte da programação da Flifs e um espaço físico na Feira à praça do cordel, para os cordelistas, no sentido de evidenciar e valorizar a literatura popular, em especial a literatura de cordel e os seus produtores que são os poetas cordelistas, a perspectiva é dar evidencia, ao mesmo tempo que promovemos um elemento importantíssimo na cultura popular,” disse.

Foto: Kaio Vinicius/Acorda Cidade

Cristiana Barbosa conta ao Acorda Cidade que a representação desta literatura na Flifs só tem crescido.

“No primeiro ano começamos com quatro cordelistas e nomeamos a praça com o nome do saudoso poeta Antônio Alves da Silva, na época ele ainda era vivo, felizmente, e a partir daquele ano o número de participantes só tem aumentado. Para você ter ideia, nós temos cordelistas de Feira de Santana e de outras regiões, a exemplo de Irará, Coração de Maria e Riachão do Jacuípe. Temos cordelistas que virão da região sudoeste, do litoral sul, e temos cordelistas que virão de outros estados, a exemplo de Recife e Sergipe,” conta a historiadora.

Foto: Kaio Vinicius/Acorda Cidade

O cordelista José Carlos Paulo da Silva, 59 anos, morador de Cipó, na Bahia, também conhecido como Carlos Silva, participa da Feira Literária de Feira de Santana pela quarta vez.

“Conheci a literatura de cordel há 50 anos, quando estudei no primário, fazendo aqueles versinhos. E minha mãe, quando vinha para salvador, ela comprava livretos de cordel e levava para a gente para nos ensinar,” relata.

Carlos Silva conta ao Acorda Cidade que começou sua vida artística produzindo e escrevendo seus trabalhos em 1996. “Hoje já tenho mais de 200 livretos escritos, produzi 68 livros, mas ainda tenho muitos para lançar.”

Foto: Kaio Vinicius/Acorda Cidade

A professora Daniela Amorim da Silva, 42 anos, que participa do Núcleo de Leitura e Multimeios da Uefs, conta que está imersa totalmente na Flifs.

“Por eu gostar de literatura, a Flifs já faz parte da minha vida, descobri bem novinha a Flifs.”

Daniela Amorim relata ao Acorda Cidade que um dos seus gêneros literários preferidos é a crônica. E relata também a sua paixão pelo cordel.

“Sou extremamente apaixonada, acho importante, acho que deve ser divulgado como um instrumento que incentiva a leitura, por ter um formato diferenciado, curto. O cordel é muito bacana para atrair a galera jovem.”

Foto: Kaio Vinicius/Acorda Cidade

A professora ressalta como é difícil escolher uma coisa só na Flifs, pois tem muita coisa boa, e diz que um dos pontos-chave da Feira do Livro é a conversa com o escritor, que o aproxima do seu público.

“É difícil escolher uma coisa, mas em todas as edições eu sempre gosto da praça do cordel, da diversidade de editora. Podemos estar em contato com várias editoras, comprar o livro diretamente com elas ou com os escritores,” expõe.

Foto: Kaio Vinicius/Acorda Cidade

A cordelista de Ilhéus, mestre Lainha, conta ao Acorda Cidade que fez uma palestra sobre a Consciência do Negro na Literatura de Cordel, e diz que está orgulhosa de estar compartilhando seus saberes e fazeres na Flifs.

“A Flifs é uma oportunidade para mostrar o nosso trabalho, para valorizar o nosso povo e a nossa gente, fazer intercâmbio entre cidades, porque a gente precisa saber o que é produzidos, o que está em evidencia e o que é valorizado nesse tempo,” relata a mestre.

Para Carlos Silva, o cordel significa falar sobre aspectos da vida de forma moderna e atual.

“O cordel é vida, saberes, fazeres, respeito, integridade da literatura, da língua do sertanejo, principalmente, porque a nossa literatura tem o cunho de falar sobre o homem do campo, a dificuldade da seca. Hoje com a modernidade falamos sobre vários temas, como política, então a literatura de cordel procura sempre estar atualizada.”

Foto: Kaio Vinicius/Acorda Cidade

A estudante do curso de Letras na Uefs Paloma Campos de Cerqueira diz que é a terceira vez que participa da Flifs. “Estou adorando.”

A também estudante de Letras na Uefs Geovana Barros Andrade conta ao Acorda Cidade que observa a literatura de cordel como uma arte nostálgica da infância.

“A gente sempre via apresentações e as histórias e eu acho que é uma literatura muito importante para o movimento cultural da cidade. Acho que é uma literatura que precisa ser revivida o tempo inteiro. É importante a gente ter figuras mais velhas contando essas histórias de um jeito tão bonito que cativa as pessoas”, descreve.

A cordelista Lainha diz que na Flifs ela observa que não está sozinha e que existem pessoas que possuem o interesse de debater e aprender sobre os temas que ela busca expressar por meio da sua fala e arte.

“Eu não estou só, existem outras pessoas que tem interesse nesse tema. Chega de racismo, preconceito e discriminação, o negro merece o seu lugar, merece oportunidade, inclusive em espaços de poder”, frisou. Lainha acrescenta que percebe a valorização da literatura de cordel, porém observa que é preciso políticas públicas focadas na cultura popular.

O cordel é valorizado, mas “é importante que se oportunize, por meio de políticas públicas para cultura popular, a gente entende que vem vindo bons tempos com a Lei Aldir Blanc 2 e com a Lei Paulo Gustavo. O sistema de cultura só nos fortalece, mostrando a nossa arte,” destacou.

Foto: Kaio Vinicius/Acorda Cidade

O cordelista Carlos Silva argumenta que a Feira do Livro é necessária para que o estado perceba que somente a leitura e a cultura podem salvar o povo.

“Não adianta você ter riqueza material se você não tiver essa riqueza espiritual que é a literatura como fonte de aprendizado e que você vai levar para o resto da sua vida. A maior riqueza que uma pessoa pode ter no mundo é o conhecimento, é o saber. E é isso que a Feira do Livro na sua 15ª edição proporciona a todas as pessoas que estão visitando os estandes e participando desta festa maravilhosa,” concluiu.

Com informações do estagiário Kaio Vinicius.

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