Na noite desta terça-feira (17), Jorge Barbosa de Oliveira, o Jorge do Licuri, recebeu o Título de Cidadão Feirense aos 67 anos. A honraria foi concedida em solenidade na Câmara Municipal de Vereadores. Jorge é paraibano, mas mora em Feira de Santana há 41 anos. Desde que se tornou Jorge do Licuri, ele é uma referência cultural da cidade, deixando estampadas as raízes e tradições que marcam o povo feirense.
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“Todos que me olharam me viram como uma pessoa que era amiga de todos, porque eu sempre soube atender as pessoas, responder, fazer perguntas, vender tudo ao gosto das pessoas, não ao meu gosto”, disse Jorge ao Acorda Cidade.
Após tantos anos nas ruas e avenidas de Feira de Santana, Jorge é consagrado hoje como um cidadão do município, um dia antes do aniversário de Feira de Santana (18 de setembro), que completa 191 anos de emancipação política. Um presente para ele e para a representação dos feirenses, da terra ou do coração, que ajudaram a construir e desenvolver a Princesa do Sertão.
A família esteve presente na solenidade, além dos vereadores e convidados que foram homenageá-lo. Pai de seis filhos, com 16 netos, quatro bisnetos, quatro genros e duas noras, todos orgulhosos do reconhecimento dos anos de trabalho e dedicação dele.
O vendedor agradeceu pelo reconhecimento.
“É uma grande honra. Agradeço primeiramente a Deus, à imprensa, agradeço ao Acorda Cidade que também trouxe para mim essa grandiosa visão, me viram como uma pessoa que seria um cidadão feirense, mesmo ainda não tendo alcançado um título, mas seria um cidadão feirense pelo meu trabalho, pelo meu jeito de conversar com as pessoas, pelo meu jeito de gostar das pessoas. Então todos gostavam de mim e eu contei minha história. Não é uma história muito grande, mas mostra que eu sou uma pessoa que gosta de Feira como gosto de mim mesmo”.
Ao Acorda Cidade, o vereador Flávio Arruda (Galeguinho SPA – PSB) falou sobre a iniciativa de homenagear trabalhadores que fazem parte da cidade de Feira de Santana. Ele deu entrada com o pedido desde 2020 e disse estar grato por conseguir homenagear Jorge ainda em seu mandato.
“A gente percebe muitas pessoas sendo homenageadas na Casa, pessoas importantes, conhecidas, médicos, empresários, etc., mas no perfil de seu Jorge são poucos. Então é um carinho que eu tenho há muito tempo por ele. Eu comprei muito licuri na mão dele, até hoje também quando estou passando acabo comprando na mão dele. E desde 2014 foi quando despertou esse interesse em fazer algo por ele, e de lá para cá, graças a Deus, hoje, sendo vereador, a gente conseguiu”.
Galeguinho ainda destacou que, além dos anos de serviços prestados por Jorge, ele faz parte da cultura e da identidade local.
“Seu Jorge é uma verdadeira representatividade viva. Eu acho que não tem ninguém na cidade que faça esse papel que ele faz. O bacana e o ideal é homenagear enquanto está vivo, não depois que já vai embora desta vida. Então, para mim, essa homenagem a seu Jorge é mais do que merecida e me deixa bastante gratificado e orgulhoso”, disse o vereador ao Acorda Cidade.
Jorge do Licuri
Ao Acorda Cidade, o vendedor relembrou sua história, desde quando chegou ao estado, em 1970, e seguiu rumo à Princesa do Sertão. Em 14 de janeiro de 1983, ele chegou a Feira de Santana.
“Vim para Feira de Santana descobrindo que seria a maior cidade do Nordeste, seria o entroncamento que levava o povo do norte ao sul, e eu achei que aqui seria importante para construir minha família”.
Foi vendendo pastéis no Centro de Abastecimento que ele encontrou a profissão de vendedor de licuri, uma ação que contou com o desejo de satisfazer as crianças.
Quem já tem alguns anos pode lembrar dos pais chamando para quebrar licuri que trouxeram das feiras livres ou das roças da região. O produto, nativo da caatinga, é uma palmeira que produz um coquinho com aspecto semelhante ao do coco. Além de ser uma delícia, é usado para fazer pratos típicos do estado, como moquecas, doces e bebidas, além de cosméticos, óleos e manteigas. Jorge vende os licuris a partir de R$ 5, dependendo do tamanho.
“Quando cheguei em Feira de Santana, eu trouxe um cilindro para vender pastéis. E vendendo pastéis, cheguei ao Centro de Abastecimento. Vi um senhor já com idade avançada, acima dos 70 anos, com um saco de rosário de licuri. Duas crianças passaram e perguntaram: ‘Quanto custa o licuri?’ Ele deu o preço, compraram. Depois veio mais uma criança, perguntou: ‘Quanto é o licuri?’ Ele deu o preço e a criança comprou e saiu. Eu disse: ‘É bom, é um divertimento para as crianças. E por que não eu trabalhar com esse produto?’”, relembrou.
Sua primeira compra de licuri, naquele dia, foi de 600 rosários (como também são chamados os colares de licuri que Jorge comercializa). A tentativa de empreender foi um sucesso, tornando-se tradição, tanto para crianças quanto para adultos.
“Eu comprei pensando que tinha um jogo na Fonte Nova, entre Brasil e Uruguai. Cheguei lá um pouco antes do jogo, já tinha muita gente e eu comecei a vender. Ao terminar o primeiro tempo, eu já tinha vendido os 600 rosários”, contou Jorge.
Depois do sucesso no jogo do Brasil, Jorge não parou mais. Vendeu nas praias de Salvador, no comércio, e resolveu alavancar o negócio, tornando-se sócio do vendedor que lhe revendia o produto. Uma verdadeira alma empreendedora, não é mesmo?
“Eu contratei a família dele para trabalhar para mim. Fizemos um trato: Eu seguro com vocês esse trabalho, esse comércio, vocês me vendendo, me passando o licuri, e eu nunca mais deixo de viver com vocês nesse trabalho”.
Depois disso, Jorge vendeu na cidade maravilhosa, no Rio de Janeiro, nas praias, feiras e estádios, além de São Paulo, Santos, Aparecida do Norte e muitas outras cidades. Uma tradição que ele pretende continuar.
Foi do licuri que ele tirou seu sustento, criou seus seis filhos e realizou o sonho da casa própria. Ainda em entrevista ao Acorda Cidade, ele contou que vai continuar trabalhando enquanto Deus lhe permitir.
“Eu não pretendo desistir. Se eu puder trabalhar até o último dia da minha vida vendendo licuri, eu vou, mesmo que eu não possa falar e dê só o sinal do valor para que eu possa vender”.
Uma curiosidade que todo mundo que já quebrou licuri tem é: por que o licuri do vendedor sai inteirinho? Jorge revelou o segredo.
“O licuri seco colocamos de molho de um dia para o outro. Ele fica mais úmido e, quando bate, a casca fica mais mole. Quando bate na casca, tem que ser com uma pancada técnica, bater para rachar. Pegamos ele com o dedo polegar e o indicador das duas mãos e abrimos para ele sair inteirinho. Já colocamos na vasilha e depois fazemos o rosário”, contou Jorge.
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Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade
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