Laiane Cruz
Após voltarem a ocupar os dois sentidos da Rua Marechal Deodoro, onde são realizadas obras de requalificação do projeto Novo Centro, os feirantes que trabalham no local continuam insatisfeitos com a forma como a prefeitura continua conduzindo o processo de reformulação do espaço e com ameaça de remoção das barracas dos vendedores.
Em entrevista ao Acorda Cidade, a vendedora Edneide Ribeiro criticou o fato de o prefeito Colbert Martins se recusar a receber os feirantes da Marechal para tratar do assunto.
Foto: Paulo José/Acorda Cidade
“A gente vem tentando um diálogo com a prefeitura. Já fizemos seis pedidos oficiais de audiência com o prefeito, e ele nos ignora, não atende os feirantes. Tivemos algumas reuniões com secretários, mas não resolve nada, porque no final eles dizem que a decisão é do prefeito. E também tem a questão do projeto alternativo de permanência na Marechal, que é viável. Nosso apoiador é Alan Pimenta, professor de arquitetura e urbanismo, que apresentou esse projeto. Mas até agora a prefeitura não nos dá nenhuma resposta”, reclamou.
A comerciante de frutas e verduras Sheila dos Santos Silva declarou que os feirantes voltaram a ocupar os dois lados da via, porque a obra não teve andamento pela empresa responsável.
“A prefeitura dizia que estávamos embargando a obra, então nós saímos para o lado onde a obra estava pronta para deixar o espaço livre. Porém não apareceu nem trator, nem ninguém para fazer a obra, e voltamos para o nosso lugar. Mas estamos aqui abertos a conversar com as autoridades. Temos aqui um projeto com barracas padronizadas, com lixeiras, com banheiros. Nessa Marechal com toda essa largura, o prefeito poderia fechar um lado da via e fazer um comércio ao ar livre, com barracas bonitas e padronizadas. Outras cidades e até fora do Brasil, que nós já pesquisamos, tem esse projeto”, ressaltou.
Foto: Paulo José/Acorda Cidade
A feirante disse ainda que o Centro de Abastecimento é um local inviável para os ambulantes da Rua Marechal Deodoro e que espera um retorno do prefeito acerca da situação deles.
“No Centro de Abastecimento não cabe mais ninguém, está um tumulto enorme lá. Quantos vendedores tem aqui, pais e mães de família, para eles quererem nos levar para o Pau da Miséria, um lugar sombrio. Quem conhece, sabe, e lá não cabe mais ninguém. O que nós queremos é que o prefeito sente conosco e nos dê um parecer. Eles nos ignoram, pois falam que o projeto é um TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). E a população pensa que somos nós que estamos embargando a obra”, disse a feirante ao Acorda Cidade.
Foto: Paulo José/Acorda Cidade
Na última segunda-feira (1º), o GT de comunicaão dos feirantes divulgou mais uma carta aberta repudiando a situação. Confira:
Segunda Carta Aberta à Sociedade Feirense
Quem acompanha as notícias sobre a luta dos trabalhadores e das trabalhadoras da Feira da Marechal sabe que, desde o início, o nosso objetivo é abrir o diálogo com a prefeitura. Sempre tentamos construir uma solução que garanta a requalificação da área, mas também a permanência organizada da Feira. Em entrevista, o secretário Carlos Brito teve que reconhecer nossa boa vontade e a existência do nosso projeto alternativo para a rua Marechal Deodoro e redondezas. Porém, apesar do nosso esforço, não se pode dizer que exista boa vontade nem honestidade por parte do governo municipal no trato com a gente.
Para garantir que as obras continuassem, já que a alegação era que nós é que “atrapalhamos”, reorganizamos a Feira da Marechal na área onde o serviço foi terminado. Comunicamos isso publicamente e, de novo, pedimos um momento de diálogo com a prefeitura. A resposta foi não só desconsiderar a nossa boa vontade, mas a mesma repetição de ameaças de expulsão de qualquer jeito por parte do secretário Pablo Roberto! Pela postura desrespeitosa e mesmo de desprezo do governo municipal, retomamos o conjunto do espaço da rua Marechal Deodoro. Já que de nada adiantou o nosso ato de boa vontade, decidimos que o comércio popular de rua volta a ocupar os espaços de sempre.
No dia 1º de outubro, em solidariedade aos trabalhadores e às trabalhadoras do tal Shopping Popular, tomamos parte da grande manifestação realizada no centro da cidade. Depois de muita luta, uma comissão foi recebida na prefeitura e tivemos uma representante. Falaram pelo governo municipal, o chefe de gabinete do prefeito e os secretários Moacir Lima e Denilton Brito. Apresentamos as nossas duas reivindicações mais urgentes: que o nosso projeto para a permanência organizada da Feira da Marechal fosse analisado e que acontecesse uma reunião diretamente com o prefeito Colbert Martins Filho. O governo se comprometeu a dar resposta até o dia 05 de outubro e, até agora, nem sequer um “não” recebemos. Mostra não só o tipo de “diálogo” feito pela administração do município, mas que não honram nem a palavra dada!
Seguiremos resistindo, mas na esperança que o prefeito aceite negociar em nome do bem comum. O que não aceitaremos é o governo municipal continuar fazendo, como nos últimos dias, intimidação através de capangas que chegam a todo momento espalhando boatos que esse ou aquele dia a prefeitura vai usar a "força" para "tirar todo mundo de qualquer jeito”. Inclusive, esse tipo de ação ilegal já vem sendo investigada por autoridades. Também pedimos que quem concorda nossa luta se aproxime, denunciando esses abusos e manifestando apoio para que a Feira da Marechal fique!
Nossa determinação em permanecer na Marechal não é capricho, nem intransigência. Além da nossa Feira ser um patrimônio cultural da cidade, é uma necessidade real de sobrevivência que está em jogo. Ao invés de analisar o nosso projeto para a área, o prefeito e os secretários insistem em nos jogar para lugares inviáveis sem estrutura, sem segurança e longe de nossa clientela tradicional. Ainda mais em meio à pandemia de Covid-19, não aceitaremos que neguem o nosso direito ao trabalho digno. Mais que nunca, nossa disposição é levar essa luta até onde for preciso!
Feira de Santana, 01 de novembro de 2021
Com informações do repórter Paulo José do Acorda Cidade