Feira de Santana

Impacto das migrações e mudanças sociais: doutora em Geografia analisa resultados do Censo em Feira de Santana

Segundo Nacelice Freitas, a tendência é haver uma diminuição no ritmo de crescimento, por conta da média de filhos por casais.

Feira de Santana
Foto: Reprodução/Secom

Os primeiros resultados de População e Domicílios do Censo Demográfico 2022 foram divulgados na última quarta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Segundo os dados iniciais da pesquisa, a cidade de Feira de Santana permanece na posição de segunda maior cidade do estado da Bahia com 616.279 habitantes. Em termos absolutos Feira teve um acréscimo de +59.637 habitantes. E o estado baiano possui 14.136.417 habitantes, sendo considerado a quarta maior população do Brasil.

Com base nesses resultados, após ouvir o coordenador de Área do Censo em Feira de Santana (confira aqui) e com a finalidade de sabermos quais os próximo passos e o que ainda falta ser apurado no Censo realizado pelo IBGE, o Acorda Cidade conversou com a professora, doutora em Geografia, Nacelice Freitas, da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs).

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“O Censo Demográfico traz um síntese da realidade. E o primeiro objetivo dele é a contagem da população. Saber o percentual de população idosa; da população jovem; população feminina; masculina; a taxa de crescimento; o ritmo de crescimento… saber sobre esses fatores é fundamental para a definição de políticas públicas, para saber quais projetos e planejamentos devem ser feitos. Por exemplo, se houve uma diminuição da população rural, temos que saber como é que fica essa relação com a cidade, o plantio, a produção de alimentos. O Censo Demográfico é fundamental, assim como os Censos Econômicos são fundamentais para trazerem um retrato do país, do município, do estado, para sabermos o que fazer do ponto de vista econômico, social, na saúde, e qual tipo de política pública deve ser aplicada naquele lugar”, informou.

Os números apurados pelo Censo Demográfico são 100% confiáveis, segundo a professora Nacelice. São dados oficiais.

“A preocupação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é exatamente trazer todas as informações. Nós temos a síntese do país através de uma média estatística. Se não temos condição de ter um país inteiro em mãos para uma análise, para estudos, pesquisas, naquele momento em que temos dados estatísticos podemos dizer como se apresenta um estado, município, sob o ponto de vista econômico, do crescimento demográfico, observando as questões sociais”, explicou.

Crescimento Vegetativo

O crescimento vegetativo é uma diferença da taxa de natalidade com a taxa de mortalidade e esses dados ainda não foram obtidos, indicou a especialista.

“É preciso saber quantas pessoas nasceram e quantas morreram. Fazendo a relação desses dois dados, a gente tem uma média, um percentual do ritmo de crescimento daquela população. No momento nós não temos ainda esses dados, nós só temos números absolutos. O IBGE ainda não concluiu suas taxas sobre crescimento vegetativo, ainda não temos as taxas de urbanização, porque o Censo ainda está em fase de conclusão”, salientou.

Tratamento de dados

Os dados do Censo foram levantados e agora eles precisam ser tratados.

“Observando o tamanho da população urbana e o tamanho da população rural nós vamos poder dizer o percentual da população urbana de Feira de Santana. Por exemplo, no último Censo a taxa de urbanização de Feira de Santana era 91,74%. Estou muito curiosa sobre esse dado, pois acredito que Feira está muito próxima de 100% de população urbana. Mas ainda não temos esses dados de forma objetiva, podemos ter a partir de agora quando se tem os números absolutos e a gente precisa fazer o tratamento para chegarmos aos números relativos”, ressaltou.

Até o momento, o Censo revela o crescimento absoluto da população. “Nós tínhamos em 2010, 556.642 habitantes em Feira de Santana, hoje nós temos 616.279 habitantes. Esses 59.950 é a diferença entre o Censo de 2010 para o Censo de 2022”, sinalizou.

Número de filhos por casais diminuiu

A doutora em geografia afirmou durante a entrevista ao portal Acorda Cidade, que houve crescimento na cidade de Feira de Santana, mas a tendência é haver uma diminuição no ritmo de crescimento, por conta da média de filhos por casais.

“Nós já tivemos momentos em que a média era de cinco filhos por casal, hoje a média é de dois. A tendência é diminuir, por diversos fatores, como questões sociais. As mulheres passaram a ir para o mercado de trabalho e isso implica na dificuldade de criar filhos, tendo dois, três filhos já é preciso colocar em creches, escolas de qualidade, e infelizmente, nós não temos isso. Nós não temos escolas públicas de qualidade, creches públicas de qualidade para atenderem mães que vão para o mercado de trabalho”, destacou.

Cada vez mais mulheres vão para o mercado de trabalho e muitas vezes esse movimento está associado a questões econômicas do país, relatou a especialista.

“Temos crises econômicas e para se ter uma vida razoável é preciso que o marido saia para trabalhar e que a mulher também. Uma tendência crescente é a diminuição no número de filhos”, enfatizou.

Por isso, Nacelice considera que o crescimento de Feira ainda é expressivo, principalmente ao ser comparado com o crescimento de outras cidades baianas.

“Se compararmos com Itabuna que perdeu um pouco mais de 17 mil habitantes, Salvador perde mais de 250 mil habitantes e a gente não sabe para onde foi essa população. A gente percebe que não há somente saída da população, mas também uma diminuição no número de nascimentos, mas ainda não temos esses dados para afirmar com muita certeza”.

Dos 417 municípios do estado da Bahia, apenas 15 municípios têm uma população com mais 100 mil habitantes.

“Quando você analisa esses dados, muitos municípios da Bahia não possuem esse tamanho populacional, então considero o número significativo de crescimento em Feira de Santana”.

Migrações

Feira de Santana possui uma característica de atrair a população, principalmente a partir da década de 70 com a instalação do Centro Industrial do Subaé (CIS), principal centro industrial da Região Metropolitana de Feira e considerado um dos maiores da Bahia.

“Quando implantou o Centro Industrial Subaé em 1970 para 1980, um terço do crescimento populacional foi resultado das migrações. O fato de ser a única cidade, de todo Norte e Nordeste, que não é capital e tem um Centro Industrial; o fato de ter o maior entroncamento rodoviário do Norte e Nordeste faz com que Feira de Santana se destaque em nível nacional e atraia a população. Eu tenho quase que absoluta certeza que grande parte desse crescimento populacional foi resultado das migrações”, frisou a doutora Nacelice Freitas.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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