Rachel Pinto
A pandemia do coronavírus (Covid -19) trouxe muitas mudanças para o mundo inteiro. O distanciamento social, apontada em pesquisas como uma das formas mais eficazes para evitar o contágio da doença gerou novos hábitos, comportamentos e aprendizados para as pessoas.
A rotina mudou completamente e tudo que faz parte dela precisou se adaptar às novas modalidades de convivência. A Igreja Católica, instituição religiosa que por milhares de anos reuniu muitos fieis em nome da fé e da oração, também está vivendo mudanças diante deste cenário. O próprio Papa Francisco, maior autoridade da igreja, precisou alterar a forma de realizar as celebrações e a tecnologia, assim como a internet têm sido grande aliada nesse processo.
As missas e outras atividades religiosas que eram feitas de forma presencial agora são realizadas virtualmente. Mas, isso não diminui em nada a importância dos ritos, uma vez que a fé é o alimento do espírito e da esperança de dias melhores.
Em Feira de Santana, várias igrejas e grupos religiosos estão realizando as suas atividades e mantendo o contato com os fieis de forma de virtual. A igreja dos Capuchinhos é um exemplo dessa realidade e o frei Mário Sérgio, pároco da igreja contou ao Acorda Cidade como tem sido vivenciar essa experiência. Ele frisou que a igreja de todo o mundo está seguindo as orientações das autoridades sanitárias, da Organização Mundial de Saúde (OMS), os decretos municipais e estaduais e entendendo que neste momento o mais importante é a preservação da vida.
“A preservação dessa vida implica no distanciamento social, implica na ausência física dos fieis dentro dos templos e houve uma reunião com o bispo no mês de março, onde se definiu que nós íamos acolher radicalmente a ideia do distanciamento social e então a igreja continuaria aberta para a visitação dos fieis, respeitando todas as orientações sanitárias e as missas seriam presididas e aconteceriam com o mínimo de pessoas para fazer a liturgia acontecer. Todas as missas continuaram sendo celebradas com as portas fechadas, das igrejas ou capelas e em nenhum momento a igreja ficou sem celebrar a eucaristia nessas paróquias das nossa arquidiocese”, disse.
Segundo o frei, a o distanciamento social não é um comportamento novo da Igreja Católica. Ele explicou que o distanciamento social faz parte da história da igreja e da fé cristã primitiva dos séculos I e II e a igreja naquela época se configurava como uma igreja doméstica. Na opinião dele, o formato virtual que muitas igrejas estão adotando não está afastando os fieis, pelo contrário, muitas pessoas têm reagido positivamente e apesar do distanciamento social, o sentimento é de acolhimento.
“Até o século II, de quando a igreja nasce, nasce perseguida, nasce nas catacumbas, nasce no escondimento de algumas casas. Era uma igreja doméstica e então o início da igreja já foi o início de distanciamento, de isolamento, e isso está no DNA da igreja cristã, da igreja católica. Claro que depois que a igreja se torna oficializada pelo estado romano, as pessoas começam a sair das catacumbas e das igrejas domésticas e começam a congregar em templos físicos a própria igreja. A igreja já fechou ao longo de 2 mil anos praticamente, três vezes. Mas, com a tecnologia que hoje é a nossa grande aliada, a igreja tem chegado de forma quente, de forma visceral, na vida dos nossos paroquianos, dos nossos fieis. Claro que a nossa cabeça ainda é extremamente analógica, a gente só se sente bem se tiver dentro do templo, rezando naquele momento, recebendo de fato o sacramento . Essa é a nossa relação afetiva com o nosso templo. Mas, os fieis não se sentem abandonados e dão o feedback para as missas que fazemos e são transmitidas pelo rádio, pela TV e pela internet. Cada padre, cada pastoral explora os meios de comunicação para chegar mais próximo dos corações dos fieis”, afirmou ao Acorda Cidade.
Frei Mário Sérgio comentou que a as missas na paróquia dos Capuchinhos têm seguido seus ritos normalmente, mesmo sem a participação dos fieis. As celebrações são transmitidas pela rádio Sociedade News FM 102.1 e também pelo Youtube da Web TV Capuchinhos. A paróquia já tinha essa prática de utilizar os meios de comunicação para transmissão das missas, mas com a pandemia, o número de ouvintes e espectadores tem aumentado a cada dia mais. Ele informou que o canal da paróquia no Youtube antes da pandemia tinha um número pequeno de inscritos e após a pandemia e as restrições do distanciamento, o número de inscritos está chegando a quase 5 mil.
“Cresceu muito o número de pessoas que querem participar dos nossos atos litúrgicos pela Web TV. Na Semana Santa, por exemplo, durante a Páscoa, nós tivemos mais de cem mil visualizações no canal. Muitas pessoas estão nos procurando. Têm missas em vários lugares, mas o povo quer ouvir o seu pároco, a sua realidade. O povo quer rezar os seus cantos, quer ver a sua igreja. Essa relação afetiva tem se mostrado cada vez mais necessária também para nós sacerdotes. A igreja orientou que não se faça nenhum sacramento, por exemplo, casamento, batizado, confissões se forem feitas, devem ser com muito critério, mas os outros sacramentos como rezar pelos defuntos, visitar um enfermo em caso de necessidade, isso nós podemos fazer e devemos fazer por um ato de amor, de caridade. As celebrações continuam acontecendo normalmente com toda alegria, com todo entusiasmo, apenas os fieis não estão dentro do templo”, comentou.
O pároco disse ainda que utilizar algumas plataformas de comunicação foi um desafio para algumas igrejas, mas aos poucos cada uma vai avançando e se adaptando como pode. Ele observou que foi preciso também se adaptar às linguagens das diferentes mídias.
“É um desafio enorme para a igreja nesses tempos. Também ficar atenta para que o fiel não se sinta afastado da igreja. O Papa lembrou que a igreja virtual não pode suplantar a igreja presencial. E um desafio para que as pessoas não se acomodem. É um momento crítico da vida da história do mundo, a igreja se entende capaz de responder a esses desafios, como sempre foi”, pontuou
Aprendizados
Na opinião do frei Mário Sérgio, a pandemia do coronavírus, além de mudar o comportamento das pessoas em muito sentidos, trouxe aprendizados em aspectos de saúde, solidariedade e enquanto seres humanos. Aprendizados de vida e lições de amor ao próximo que foram pregadas pelo próprio Jesus Cristo.
“O ser humano não é essa potência toda que ele imaginava. O vírus invisível mostrou absurdamente a nossa nudez em relação aos desafios do mundo. Temos a arrogância, a empáfia, prepotência, dilações de pessoas, grupos e movimentos. Mas, ele veio nos dizer: ‘Cuidado, sua vida é muito frágil’. Outra lição é: ‘Sozinho eu não consigo sair dessa’. É uma lição de solidariedade, minha com os meus próximos e entre as nações e que ninguém vai sair desse buraco sozinho. Trouxe lições de solidariedade, partilha, o cuidado com a vida, promover a vida, a saúde para todos. Os cuidados sanitários, de lavar as mãos, cuidado com o que toca, de fazer a quarentena, guardar-se um pouco mais. Cuidar dos idosos, pessoas com comorbidades, grupos de risco. Lição de amor maior e eu temo que algumas pessoas não aprendam nada com isso. Tem gente que vai sair dessa indiferente. O apelo que eu faço é que sejamos mais simples , mais humildes, partilhemos mais, sejamos mais solidários e cuidemos- nos uns dos outros, a vida pede passagem”, encerrou.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.