Feira de Santana

HGCA amplia leitos de covid-19, mas já tem fila de espera por vagas

Nas últimas semanas houve um aumento considerável no número de doentes graves e da demanda por vagas de UTI.

Rachel Pinto

Na última terça-feira (16), o governo do estado pôs em funcionamento no Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA I) mais dez leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), exclusivos para pacientes com covid-19. De terça para quarta-feira seis leitos foram imediatamente ocupados. No HGCA II são 40 leitos, totalizando 50. No entanto, praticamente nenhuma vaga fica disponível.

A médica neurologista e intensivista, Renata Nunes, falou sobre essa alta taxa de ocupação na unidade hospitalar e a gravidade dos pacientes internados. Segundo ela, nas últimas semanas houve um aumento considerável no número de doentes graves e da demanda por vagas de UTI. Por isso, a necessidade de abrir estes leitos em caráter emergencial.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Já tínhamos 40 leitos e vínhamos com a taxa de ocupação de 100% nas últimas três semanas. Na última semana, após a abertura dos novos leitos, continuamos com uma demanda muito alta de doentes graves. A cada manhã, começamos o dia com a taxa de ocupação superior a 90, 95% e sempre com os leitos disponíveis liberados para que os doentes graves das unidades mais próximas cheguem até as UTI’s”, informou a médica ao Acorda Cidade.

A intensivista comentou sobre o HGCA II, que anteriormente não tinha a proposta de atender de forma prioritária pacientes de covid-19, mas diante da situação pandêmica enfrentada, precisou se adequar e dar assistência principalmente aos doentes infectados pelo vírus.

“Hoje o HGCA II tem 40 leitos de UTI para doentes com a infecção pelo coronavírus. Além disso tem outras atividades do hospital que funcionam nessa unidade, mas prioritariamente as UTI’s são para pacientes com covid-19”, pontuou.

Fila de espera para internamento em UTI

Renata Nunes contou ao Acorda Cidade como funciona a fila de espera para os pacientes de covid-19 que precisam de internamento em UTI. Ela disse que um número alto de pacientes sempre fica no aguardo de uma vaga que surge e no momento que um leito é disponibilizado a tela da Central Estadual de Regulação é atualizada. Essa atualização ocorre diariamente e quando um leito é disponibilizado, se tem um doente em Feira de Santana a equipe médica tenta trazê-lo inicialmente. Mas, há doentes nas cidades ao redor. São 127 municípios que o HGCA assiste. Através da regulação, o hospital pode receber doentes de qualquer lugar da Bahia. Ela informou ainda que atualmente, cerca de 50% dos pacientes são de municípios circunvizinhos não são necessariamente de Feira de Santana.

Rotina de trabalho pesada

Renata Nunes revelou que a rotina de um médico intensivista é árdua há muito trabalho e que as equipes dão mais plantão do que poderiam dar pela condição e necessidade de mais profissionais. De acordo com ela, o número de UTI’s em Feira de Santana, tanto na rede pública, quanto na rede privada, aumentou absurdamente no último ano e esse aumento não foi acompanhado do aumento da quantidade de profissionais. Ela destaca que os profissionais estão realmente desgastados e cansados.

“Abrir mais leitos é uma demanda, uma necessidade. Precisamos de gente para cuidar desses doentes, e isso tem sido uma dificuldade constante”, afirmou.

Abalos emocionais

Renata enfatizou que trabalhar com doentes de covid-19, além do desgaste físico, há o desgaste emocional de ver o sofrimento tanto dos pacientes, como dos familiares, que ficam privados do contato, de visitas e há um sentimento grande de solidão. Ela frisou que nunca imaginou passar por um momento na vida de dizer que um familiar não poderia entrar na UTI para visitar seu ente querido.

“Isso é muito difícil para nós, ver o doente ali dentro sem acesso a sua família, ver famílias que chegam e entregam o seu familiar, seu ente querido em uma situação de gravidade, com risco de morte, para nós e que passam dias e até semanas sem poder chegar perto do seu ente querido, sem poder tocar nele, sem dar o conforto, o alívio das palavras, de ter alguém seu perto. Isso é uma coisa que nem consigo descrever o sentimento que gera em nós profissionais da assistência que estamos ao lado do paciente todos os dias”, lamentou.

Doença crítica

Renata Nunes avaliou a covid-19 como uma doença crítica que tem o potencial de causar fraqueza generalizada, de causar um grau de perda de forças, seja no doente mais grave ou no doente menos grave. O paciente, segundo ela, pode ficar muito debilitado tanto no período mais crítico, quanto no pós-covid.

A médica finalizou a entrevista chamando atenção para que as pessoas se cuidem, usem máscaras, higienizem as mãos e que acreditam que a covid-19 é realmente muito grave.

“Tem comprometido cada vez mais pessoas, cada vez pessoas mais jovens. Tudo o que está acontecendo é real, então se cuidem, cuidem da sua família”, concluiu.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.
 

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