A crescente prática de esportes em Feira de Santana, como ciclismo, corrida, skate e patins, trouxe à tona um desafio urgente: a necessidade de maior segurança nas principais avenidas da cidade. Têm sido frequentes os casos de assaltos nesses locais, principalmente em áreas com intenso movimento de pessoas praticando esportes ou lazer.
Um caso recente de extrema violência foi a morte de Vinícius Moreira de Souza, de 28 anos, vítima de latrocínio enquanto pedalava na Avenida Noide Cerqueira. Ele levou um tiro na cabeça e teve morte cerebral dias depois.
Liderando um movimento para enfrentar essa situação, Bráulio Soledade de Araújo, gestor de negócios e projetos, tem trabalhado em iniciativas para proteger quem utiliza esses espaços. Ele destacou que, além da segurança, é preciso haver mais educação no trânsito.
“Buscar ações que promovam a segurança de quem pratica esportes, não só ciclistas. É uma cidade que tem vias que possibilitam fazer isso, entre outras práticas. Buscamos, dentro das vias, ter uma segurança com relação a não ter ou diminuir a possibilidade de assaltos, de latrocínio e promover uma segurança no trânsito também, onde essas pessoas possam fazer a prática esportiva ou de lazer e os motoristas que estão com os veículos automotores possam realmente respeitar isso,” afirmou em entrevista ao Acorda Cidade.
O grupo propõe três linhas de ação para melhorar a segurança para quem utiliza as ruas e avenidas da cidade. Confira:
- Monitoramento e presença policial
Instalação de câmeras de segurança e maior circulação de viaturas ou pontos fixos de apoio na Avenida Noide Cerqueira e na Fraga Maia. - Faixas temporárias para treinos
Criação de faixas exclusivas para atividades esportivas em horários de baixo fluxo de veículos (das 19h às 7h) na Avenida Noide Cerqueira, entre o Posto São Gonçalo e a BR-324. - Infraestrutura adequada
Melhoria das vias de acesso às ciclofaixas e ciclovias, incluindo avenidas como Maria Quitéria, Getúlio Vargas e João Durval.
Educação e conscientização no trânsito
Outro ponto crucial é o respeito no trânsito. Bráulio enfatiza que bicicletas também são veículos e devem ser tratadas com seriedade. “Se os motoristas respeitam carroças e tratores na faixa da direita, por que não respeitar bicicletas, que estão a 40 km, 50 km por hora?”, questionou.
Ele reforça que é fundamental conscientizar tanto ciclistas quanto motoristas sobre as regras de trânsito e a convivência pacífica nas ruas. Inclusive, isso pode ajudar a reduzir o número de acidentes na cidade, que é alto entre motociclistas.
Durante o São João de 2024, por exemplo, o Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA) registrou 47 vítimas de acidentes com moto, número maior do que o de queimaduras típicas da época. Em entrevista ao programa Acorda Cidade, um médico cirurgião do HGCA também informou que mais da metade dos acidentados por moto chegam à unidade sob efeito de bebidas alcoólicas.
“Portanto, é preciso rever atuações que visem educar e conscientizar as pessoas, para além de punir quando o erro já aconteceu, fazendo vítimas,” alertou Bráulio.
Ciclismo em Feira de Santana
Para Bráulio, Feira de Santana possui características geográficas que favorecem o ciclismo. Boa parte da cidade é plana, o que facilita tanto o deslocamento quanto a prática esportiva. Além disso, o município atrai pessoas de outras regiões para trilhas e competições, sendo berço de campeões regionais e até mesmo nacionais.
“A gente tem que fazer um esforço para trazer cada vez mais as pessoas para essa atividade que faz um bem enorme para a saúde, faz um bem para a alma e faz um bem para o município também, porque é um transporte mais limpo e é um transporte que desafoga o trânsito.”
Segundo Bráulio, o mercado de bicicletas no Brasil movimenta cerca de R$ 10 milhões por ano. Apesar disso, ele destaca que a falta de segurança ainda preocupa, principalmente pela facilidade com que criminosos atuam.
“O que chama a atenção é aquela possibilidade de pegar um bem num lugar que não está tendo segurança. A questão toda: o ladrão que comete o delito não vai pegar bicicleta num lugar que tenha movimento, que tenha monitoramento. Ele vai pegar num lugar que não tem vigilância, porque ele vê facilidade,” explicou.
Espaços para treinos e desafios nas ciclofaixas
Bráulio, que também pratica atividades esportivas, ressalta que as ciclovias e ciclofaixas das avenidas Fraga Maia e Noide Cerqueira são destinadas ao lazer e deslocamento, mas não atendem às necessidades de treinamento de alta performance.
“As bicicletas podem chegar a 60 km por hora numa faixa plana como essa. Elas têm que utilizar, conforme o Código Nacional de Trânsito, a faixa onde os veículos automotores vão, a faixa da direita. Aqui nós não temos uma área para treinamento de alta performance. Então, as bicicletas para atividade esportiva circulam na faixa onde os veículos automotores circulam.”
Ao Acorda Cidade, Carlos Henrique Santos Barreto, conhecido como “Rei” no meio do ciclismo, também comentou sobre a situação. Segundo ele, há 40 anos as pessoas não tinham o costume de comprar bicicletas roubadas, mas esse cenário mudou com o tempo.
“Uma melhor educação para o trânsito e para o ciclista em geral e como a gente trazer esses momentos de insegurança, que normalmente essas coisas pontuais acontecem em determinados horários na avenida que todo mundo pedala, dificilmente dias e horários nesses momentos acontece esse tipo de ação. Então, assim, isso deveria ser um pouco mais divulgado.”
Com propostas claras e o envolvimento de diversos setores, o grupo acredita que é possível reduzir os riscos e criar um ambiente mais seguro para esportistas e moradores da cidade.
“Eu acho que são coisas muito pontuais, mas o que é que tem acontecido: as pessoas têm se assustado com esse último assalto em que a pessoa foi a óbito. Isso acaba trazendo um transtorno muito grande para toda a classe ciclística. Mas, pessoalmente, eu acho que a nossa cidade é extremamente tranquila ainda e isso pode permanecer por muito tempo,” concluiu Barreto.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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