Dia dos Pais

Fisioterapeuta relembra luta do pai contra a covid-19 e parceria na reabilitação das sequelas deixadas pela doença

Amor e muito cuidado definem essa linda história.

Laiane Cruz

O companheirismo e a cumplicidade sempre fizeram parte do relacionamento da fisioterapeuta Monaliza Uzeda com o pai, Claudionor Uzeda, 66 anos. Desde a infância dela, os dois sempre foram muito apegados e isso nunca mudou. O que a profissional de saúde não imaginava era que toda essa dedicação iria além da parceria entre pai e filha, mas os ajudaria também a trilhar o caminho da cura e da reabilitação corporal.

Claudionor, que é taxista há quase 40 anos, se infectou com a covid-19 em junho do ano passado e precisou ser intubado. O estado do paciente foi considerado grave, e os profissionais de saúde que cuidaram dele à época acreditavam que ele não iria resistir às complicações provocadas pela doença.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Fez um ano agora que o trouxemos para casa, no dia 4 de agosto. Foi um paciente de covid grave, mas voltou pra gente. Ficou internado 30 dias na UTI, intubou, fez traqueostomia, mas eu tinha plena convicção que ele iria voltar pra casa e que nós iríamos passar o domingo dos pais juntos, desde o ano passado. Ele foi levado para Salvador, em um período que não tinha vaga nenhuma de UTI em Feira e conseguimos uma na capital. Foi um paciente praticamente desacreditado por todos da equipe, e a preocupação das pessoas da área de saúde no meu local de trabalho era como eu iria ficar se meu pai viesse a óbito na minha frente, porque eu estava à frente de tudo junto com o pessoal, e ele era um paciente de extrema gravidade”, relembrou Monaliza, com lágrimas nos olhos.

Ela contou que inicialmente o pai não apresentou os sintomas clássicos da covid, apenas um leve desconforto abdominal. Foi levado ao médico, e a doença foi descartada pelo profissional. Mas, ainda desconfiada, ela enviou um oxímetro para casa e pediu à mãe que medisse a saturação do pai, que já estava com dificuldade para respirar. Quando saiu o diagnóstico, a fisioterapeuta sentiu muito medo de nunca mais ver o pai, em um período em que se sabia pouco sobre a infecção.

“Senti medo quando saiu o diagnóstico, porque foi naquele momento que pouco se sabia e ele estava grave. Senti muito medo porque eu não queria ficar longe do meu pai. Foi um momento muito sofrido, porque é uma doença cruel, de solidão. Temos uma família muito unida, e é um momento em que você está sofrendo e não pode estar com a família. Mas eu pude contar com o apoio dos meus colegas de trabalho, com meu marido, porque sozinha eu não iria aguentar. Minha relação com meu pai é de uma ligação muito forte, uma união muito grande, uma parceria muito forte desde a minha infância. É como se eu ainda fosse a menina dele, e por ser filha única isso é ainda mais latente”, revelou.

Foto: Arquivo Pessoal

Além de Claudionor, a esposa dele e o marido de Monaliza também foram infectados pela covid-19, menos ela. E quando o pai precisou ser transferido para uma UTI em Salvador, Monaliza decidiu escrever uma carta para os profissionais de saúde da unidade e outra para o pai, pois ela tinha fé que ele iria sobreviver a essa fase difícil.

Foto: Arquivo Pessoal

“A fase mais difícil da luta contra a covid foi quando meu pai teve que ser levado para Salvador. Enquanto ele estava aqui em Feira, não ficava longe dos meus olhos, mas quando ele foi pra Salvador, que eu o entreguei à equipe de lá, pedi uma folha de ofício, rasguei ao meio e fiz uma carta pra meu pai porque ele foi intubado aqui em Feira, mas em Salvador ele iria acordar em um lugar desconhecido, sem saber onde estava. Pedi a eles que cuidassem do meu tesouro e que quando ele acordasse lessem a carta que eu tinha escrito, contando tudo que aconteceu e a gente estaria em casa esperando por ele.”

Reabilitação

Claudionor Uzeda venceu a covid-19, mas ainda restaram sequelas e durante o último ano ele precisou contar com todo o apoio e carinho da filha. O taxista teve escaras profundas e limitações dos movimentos, por conta do período em que ficou intubado. Monaliza vem auxiliando o pai em todo esse processo de reabilitação corporal, na luta para que ele possa recuperar a qualidade de vida que tinha antes.

Foto: Arquivo Pessoal

Feliz pela recuperação do pai, ela afirmou que irá passar o Dia dos Pais coladinha a ele, pois para ela o significado dessa relação vai além do amor.

Vou passar o Dia dos Pais coladinha ao meu pai. Tenho muita gratidão a Deus e a todos que nos ajudaram, porque foi uma rede extensa, além de amigos, família. Eu amo meu pai e faria tudo novamente se fosse preciso. A palavra pai tem um significado muito forte em minha vida: é amor, renúncia, dedicação, companheirismo, cumplicidade, é extenso, vai além do amor. Que todos aproveitem seus pais em vida, porque homenagens e declarações de afeto têm que ser feitas em vida”, ressaltou a profissional de saúde.

Gratidão

Para Claudionor Uzeda, o sentimento que ficou por tudo que ele passou também é de gratidão, por ter tido a chance de sobreviver e voltar para os braços da família.

Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Minha relação com minha família sempre foi de muita união e muito amor. Sempre fomos unidos. Quando contrai a covid, minha família toda se envolveu, ficou todo mundo preocupado, só minha mãe que não podia saber, porque era idosa, mas todos os outros ficaram muito comovidos e muito assustados. Quando eu retornei, minha família estava toda à minha espera. Então eu sinto muito gratidão, pois Deus me deu essa chance de estar aqui hoje. E minha filha Monaliza é um amor, tenho muito a agradecer”, afirmou.

Segundo ele, por conta das dores que ainda sente por conta das escaras, decidiu dar entrada na aposentadoria, mas ainda aguarda uma decisão. “Ainda não estou 100%. Tive uma escara profunda na região sacra e levei muito tempo fazendo curativo. Cicatrizou, mas está muito sensível e eu não aguento ficar muito tempo sentado. Foi uma ferida muito dolorosa”, disse.

O que o pai de Monaliza deseja a todos os outros pais é que, assim como ele, tenham uma vida de muito amor, ao lado da família e dos filhos.

 

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.
 

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