Feira de Santana

Fartura na zona rural incentiva mutirão para combater desperdício de frutas

Durante todo o dia, os moradores estão colhendo, selecionando, higienizando, sanitizando e processando frutas que estão dando de monte.

Comunidade da Lagoa Grande
Dona Sônia | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Na comunidade de Lagoa Grande, distrito de Maria Quitéria, em Feira de Santana, um mutirão inédito está ressignificando o destino de frutas, que antes se perdiam pelo chão.

Nesta sexta-feira (14), foi realizado um Mutirão de Aproveitamento de Fruta, iniciativa que busca transformar a ‘fartura’ em oportunidade, incentivando o aproveitamento integral dos frutos da região e promovendo a sustentabilidade entre a agricultura familiar.

Comunidade da Lagoa Grande
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

O evento foi construído graças à primeira mobilização da Associação da Lagoa Grande, no último dia 9 de fevereiro. Durante todo o dia, os moradores estão colhendo, selecionando, higienizando, sanitizando e processando frutas como acerola, siriguela, cajá, umbu, caju e manga. O objetivo é extrair a polpa dos frutos para armazenar em congeladores, prolongando a durabilidade e reduzindo o desperdício.

Ao Acorda Cidade, Sônia Pereira de Jesus Santos, estudante de licenciatura com habilitação em Ciências da Natureza pela UFRB e vice-presidente da Feira da Marechal Deodoro, destacou a sustentabilidade que existe entre as comunidades rurais e que é exemplo para toda a sociedade se espelhar, principalmente os mais jovens, que buscam na cidade uma vida melhor, mas que precisam reconhecer as riquezas que já existem em seus territórios. 

Comunidade da Lagoa Grande
Sônia Pereira de Jesus Santos | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“A importância é que não se perca essas frutas e que as pessoas deem o valor e tenham um meio de sustentabilidade dentro da comunidade, principalmente os jovens. Muitos deles saem da zona rural para a cidade em busca de uma vida melhor, sendo que aqui a gente tem ouro: caju, cajá, manga rosa, espada, carlota, acerola, perde tudo e a gente está dando esse pontapé para reaproveitar”.

Comunidade da Lagoa Grande
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Sônia fez questão de ressaltar que o que existe não é exclusivamente o desperdício, mas sim a fartura de algumas frutas, principalmente em épocas específicas, e que, se não planejar uma colheita organizada e bem direcionada, pode sim acabar desperdiçando os alimentos. 

“A gente quer fazer um processo de como aproveitar, porque a gente sabe que polpa de fruta dá dinheiro e a gente tem tudo nas mãos, nem levando para a feira não dá conta”, disse. Ela sozinha, trouxe da casa dela, acerola, umbu, manga espada, caju e cajá. “Na cidade tudo é comprado e aqui a gente perde muita fruta mesmo”.

Comunidade da Lagoa Grande
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Para Sônia, “catar” e mobilizar os moradores é sempre um desafio, mas no geral o esforço vai valer apena para muitas famílias. Essa é uma ação que pode trazer sustentabilidade, economia solidária entre outros benefícios para a comunidade. 

Do quintal para o futuro

Claudiana dos Santos Pereira, moradora da Lagoa Grande desde que nasceu. Há 44 anos ela sabe bem como reaproveitar os alimentos da roça. São saberes populares como o dela, que hoje ajudam a nortear o mutirão. Na propriedade de Claudiana tem vários “pés” de frutas. 

Claudiana
Claudiana dos Santos Pereira | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Eu pego e coloco em um saco apropriado para alimento, armazeno no congelador e tomo suco. A acerola, por exemplo, eu não tiro a polpa porque ela escurece, então congelo a fruta inteira e o suco sai ótimo, como se fosse colhida na hora”, revelou ao Acorda Cidade. 

Com o umbu, por exemplo, já é diferente. A fruta geralmente é cozida, extraída a polpa e depois congelada. Já a manga é retirada da casca, extraída a polpa do caroço e também armazenada em um saco específico no congelador.

Comunidade da Lagoa Grande
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Com o apoio de capacitações do mutirão, os participantes também vão aprender técnicas para prolongar a vida útil das frutas. “Chega um período que elas amadurecem tudo de vez. Mas esse curso de capacitação vai ser ótimo para a gente ter conhecimento, para não perder frutas. Eu armazeno para consumo próprio”, afirma Claudiana.

Com o objetivo de crescer com o tempo, o mutirão busca incluir outros tipos de produção, como a da mandioca, que é bem forte também na região. A ideia é ensinar o beneficiamento, promovendo oficinas e incentivando a comercialização dos produtos em feiras do município. 

Comunidade da Lagoa Grande
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

A professora de Biologia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA), Luiza Sena, acredita que o mutirão tem um forte potencial para transformar a vida da comunidade, inclusive a dela, que mora na região há 30 anos. Mesmo quem tem poucos pés de frutas em casa, também acabam enfrentando a perda das frutas.

Comunidade da Lagoa Grande
Luiza Sena | Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

“Todo mundo tem muita fruta, mesmo que tenha poucos pés. A gente pensa num beneficiamento. Extrair a polpa de fruta para a gente ter elas no congelador, ocupando menor espaço e por maior tempo. A ideia é essa inicialmente. Existe um potencial de fábrica de polpa de frutas? Existe. Mas neste momento a gente está trabalhando para ver o que a gente tem no nosso quintal”, explicou.

Comunidade da Lagoa Grande
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

As ideias de ampliação se tornam ainda mais possíveis de enxergar com a chegada de uma despolpadora para a comunidade. Apesar de, por ora, a produção ser apenas para consumo próprio, a ideia é crescer.

“A comercialização é um potencial importante e a gente espera que a gente chegue lá, mas a gente precisa seguir todos os protocolos da vigilância sanitária, todos os requerimentos legais e creio que esse é um caminho, mas no momento a gente está fazendo aqui só o benefício próprio”. 

Comunidade da Lagoa Grande
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade

Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade

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