Feira de Santana

Ex-presidente do Inpe diz que discurso de Bolsonaro incentivou ocupação ilegal na Amazônia

Ele participou de uma conferência em Feira de Santana na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), na abertura das aulas dos cursos de graduação, pós graduação e doutorado na última terça-feira (3) .

Rachel Pinto

Exonerado no ano passado pelo presidente da república Jair Bolsonaro, o ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais(Inpe) Ricardo Galvão, disse que os discursos do presidente Bolsonaro serviram para incentivar invasões ilegais na Amazônia. Ele participou de uma conferência em Feira de Santana na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), na abertura das aulas dos cursos de graduação, pós-graduação e doutorado na última terça-feira (3) .

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Ricardo Galvão foi escolhido em 2019 pela Revista Nature entre os dez maiores pesquisadores do Brasil. Em entrevista ao Acorda Cidade ele comentou sobre a situação atual da Amazônia e o episódio que envolveu ele e o presidente. De acordo com ele, o desmatamento e as queimadas na Amazônia já ocorrem há muito tempo, porém agora, aumentaram substancialmente. Para ele, em discurso realizado o ano passado Bolsonaro incentivou a ocupação ilegal na Amazônia, o desmatamento, queimadas e mineração.

“A primeira coisa importante que todos nós temos que saber é que a Amazônia não pega fogo espontaneamente. Na Amazônia se desmata primeiro e quando a madeira seca se queima para poder extrair a madeira. A Amazônia é uma floresta extremamente úmida que não pega fogo espontaneamente. Eu estive visitando um local de queimada lá e é impressionante ver os barris de combustível que existiam para colocar incêndio na Amazônia. E então é um problema bastante sério. Houve um discurso bem claro. Existe a invasão enorme de mineradores. Todos ilegais. O governo declarou que não haveria mais o controle do desmatamento como houve no ano passado, só para ter uma ideia , um dos picos do desmatamento na Amazônia foi ainda no governo Lula em 2004, quando se desmatou mais de 27 mil quilômetros quadrados de desmatamento. Mas, Marina Silva, atuou imediatamente, usando os dados do INPE e começou a atuar com fiscalização forte e de 2004 a 2012 o desmatamento caiu de 27 mil quilômetros para um pouco mais de 4 mil metros quadrados. Houve uma ação clara do governo para coibir o desmatamento ilegal da Amazônia e infelizmente no governo Dilma já não houve mais e continuou a aumentar e no governo Bolsonaro aumentou substancialmente”, comentou.

Ricardo Galvão esclareceu sobre a sua exoneração do cargo de presidente do Inpe, assim como toda a sua equipe. Ele afirmou Bolsonaro fez um ataque muito sério ao Inpe que repercutiu inclusive internacionalmente.

“Foi muito sério. Porque ele estava em uma conferência internacional para a imprensa internacional e disse que os dados do Inpe eram mentirosos e que eu estaria a serviço de uma organização estrangeira, contrária ao Brasil. Isso para comunidade científica é terrível. A pior coisa que pode acontecer para um cientista é ser acusado de estar publicando dados falsos . Eu também fiquei aborrecido e que o povo não sabe é que desde janeiro do ano passado, quando entrou o governo, o Inpe estava continuamente fornecendo informações ao governo, alertando do que estava acontecendo, alertando sobre o desmatamento em terras indígenas, alertando para o desmatamento enorme e o governo simplesmente não fazia nada. Aí quando ele atacou violentamente, eu entendi aquilo como o ataque ao Inpe que é uma grande instituição, respeitabilissima no cenário internacional . Eu dei uma resposta contundente e sabia que seria exonerado. Mas, acredito que foi muito importante porque despertou não só na população brasileira, mas internacionalmente atenção para o problema”, destacou em entrevista ao Acorda Cidade.

O professor e pesquisador Ricardo Galvão explanou sobre o aquecimento global e considerou o fato como um problema muito complexo que tem o efeito do homem, no desenvolvimento econômico e no uso de combustíveis fósseis baratos.

“Queimamos combustível em uma quantidade enorme. Essa maneira do progresso econômico, isso vai ter que mudar. Nós não podemos mais no futuro está produzindo tanto gás de efeito estufa como fazíamos, porque todos nós seremos afetados, ricos, pobres todos nós seremos afetados e aí que vem a grande importância da Amazônia. A Amazônia e outras florestas tropicais são importantíssimas para dissolver o gás carbônico da atmosfera e evitar o aquecimento global”, explicou.

O professor Evandro do Nascimento Silva, reitor da Uefs considerou muito importante a participação do pesquisador Ricardo Galvão na conferência e opinou que o tema do evento “Ciência e Políticas Públicas”, abre a reflexão sobre as políticas ambientais e o manejo dos recursos naturais.

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“É um tema bastante relevante e o professor Ricardo Galvão veio nos brindar aqui com a sua conferência, sobre ciência e políticas públicas aplicadas especialmente para as questões da Amazônia e do aquecimento global. É uma abertura das aulas de todos os cursos de pós graduação da Uefs de mestrado, doutorado e especialização inicialmente propostas pelo mestrado em ciências ambientais, da área de modelagem e ciências da terra e do ambiente que foi abraçado por todos os programas de pós graduação como momento importante de discussão. Sobretudo porque o professor Ricardo Galvão f oi eleito pela Revista Científica Nature, como um dos dez cientistas mais importantes no ano de 2019 , sobretudo porque ele tem se tornado uma voz contra o obscurantismo e o negacionismo da ciência”, afirmou.

Evandro disse que há um movimento mundial de negação de dados científicos, de tomadas de decisões, inclusive na esfera de políticas públicas, que ignora as evidências produzidas pela ciência.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.
 

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