A recente declaração do prefeito José Ronaldo sobre um suposto déficit de 15 mil carteiras escolares na rede municipal de ensino de Feira de Santana gerou reações acaloradas entre a gestão anterior e a atual. Durante entrevista ao programa Acorda Cidade na manhã desta terça-feira (4), a ex-secretária de Educação, professora Anaci Bispo Paim, contestou a informação e apresentou uma análise detalhada sobre o assunto.
Anaci afirmou que a necessidade de mais de 15 mil carteiras só existiria caso houvesse mais de 33 mil novas matrículas. Segundo ela, dizer que esse foi um déficit deixado pela gestão anterior é uma inverdade.
“Esse número não pode existir a não ser que tivesse mais de 30 mil alunos novos na matrícula agora, depois do dia 14 de janeiro. Então, o prefeito falou algo que ele recebeu a informação de que há necessidade dessas 15 mil carteiras. Se quer comprar 15 mil carteiras, é uma coisa. Agora, dizer que tem déficit, não é aceitável”, afirmou Anaci.
A ex-secretária destacou que todas as escolas inauguradas durante sua gestão foram equipadas com carteiras novas, de acordo com a demanda da época. “Se a matrícula cresceu mais 33,6 mil alunos novos na rede, é que iria precisar ter 15 mil carteiras. Então, comprar é uma coisa, ter a necessidade de repor é outra”, frisou.
“Se tivesse, a imprensa seria a primeira a fazer a cobertura, teria espaço na mídia com facilidade, porque seria uma atitude não digna. Nós compramos carteira para as escolas novas, todas que nós inauguramos foram com carteiras novas, remanejamos cadeiras usadas, consertamos diversas, compramos várias. Agora, no final do ano passado, as aulas terminaram no dia 20. Hoje são 4 de fevereiro. A escola não foi usada em janeiro com aluno, e está faltando cadeira para 34 mil alunos? É uma matemática incompreensível. Eu não julgo se é importante, se é necessário, se não é, porque é incompreensível”, acrescentou.
Durante a gestão do antigo prefeito Colbert Martins, 35 novas escolas foram construídas, segundo Anaci. Entretanto, foram repostas as carteiras conforme o número de matrículas que já estavam previstas.
“Todas estavam funcionando. Agora, tinham as carteiras de acordo com a matrícula da época. Eu distribuía de acordo com a matrícula. Por exemplo, a João Marinho Falcão tem uma capacidade que pode chegar, em dois turnos, a oitocentos alunos? Ela precisa de oitocentas carteiras? Não. Por quê? Porque as mesmas que são usadas pela manhã são usadas à tarde”.
Contudo, o atual secretário de Educação, Pablo Roberto, rebateu as afirmações e confirmou a necessidade das novas aquisições. Segundo ele, a deficiência de carteiras escolares foi relatada por diretores e gestores escolares, além de um levantamento feito pela própria secretaria este ano.
“Quando a secretária diz que todas as escolas foram inauguradas com a totalidade de carteiras, isso não aconteceu. Todos sabem disso, os diretores, os gestores sabem disso, a equipe da secretaria sabe disso. Algumas escolas foram, inclusive, inauguradas com carteiras emprestadas, portanto, precisam ser retornadas. Quando o prefeito fala, quando a equipe da secretaria fala que precisa de 15 mil cadeiras, é uma realidade. Está aí, eu desafio quem quiser nos acompanhar. Como em muitas visitas que tenho feito, são carteiras que não têm condições de uso. Unidades escolares, sim, funcionaram o período do ano passado sem carteiras, alunos, inclusive, não indo à escola”.
O secretário também destacou que cerca de 3 mil novas matrículas justificam parte da necessidade, enquanto 9 mil carteiras seriam para reposição de unidades danificadas e outras 3 mil para novas escolas em construção.
“O processo que está sendo feito de 15 mil carteiras é porque aproximadamente 3 mil matrículas novas, então, automaticamente, 3 mil carteiras precisam ser compradas. Nove mil, aproximadamente, são números de um checklist que nós mandamos para todos os gestores escolares, que responderam até o dia 20 de janeiro. E as outras 3 mil carteiras são para unidades escolares que serão entregues ainda este ano, como, por exemplo, a unidade da Asa Branca e do Aviário, e outras ampliações também. Então, eu não quero ficar aqui transformando essa questão da forma que está acontecendo. […] Não tem como a gestão, neste momento, se negar a esclarecer a falta de carteiras, a falta de material didático, a falta do fardamento também, que o processo não foi licitado. Então, é uma série de questões que nós estamos tendo, até aqui, com muito cuidado, muita tranquilidade em fazer essa discussão. Mas eu também não posso, de forma alguma, permitir que, neste momento, a secretária Anaci e a secretaria assumam um posicionamento de contradizer um fato que é real e que está público”.
Diante do impasse, Anaci reiterou sua posição e afirmou que a realidade apresentada não condiz com os fatos.
“Não posso deixar, Pablo, de contestar, porque essa realidade não existe, de cadeiras emprestadas, de alunos que não tinham onde sentar, de rodízio de aluno porque não tinham onde sentar. Isso não existe. Infelizmente, a informação está chegando de alguma origem que não tem a comunicação verdadeira. Se tem 3 mil matrículas novas, como Pablo falou aqui agora, significaria que ele iria precisar, para essas 3 mil matrículas novas, de menos de 500 carteiras, porque saíram os alunos do 9º ano. Portanto, é uma vaga nova que está sendo disponibilizada de um aluno que não está mais na escola. Então, se você tivesse 3 mil matrículas novas, no máximo, você teria que ter 500 carteiras novas. Se tem carteiras quebradas, é fazer o levantamento. Mas os alunos sentaram o ano inteiro de 2024. Esse somatório de 9 mil realmente é espantoso”.
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