Laiane Cruz
Pela primeira vez em 22 anos, a pedagoga Carolina Karla Menezes Melo Leite, de 42 anos, vai passar o Dia das Mães, comemorado neste domingo (8), longe da filha mais velha. A jovem estuda na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e conseguiu uma bolsa de estudos na Alemanha. Por outro lado, a mais nova lhe fará companhia, ao lado do esposo.
Em entrevista ao Acorda Cidade, a mãe relembrou momentos marcantes que passou durante o nascimento das garotas, a mais velha tem 22 e a caçula tem 1 ano. E essa história explica todo o aperto no peito quando imagina que ficará longe de uma delas.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
Foi na primeira gravidez que Carolina Karla descobriu que sofria com problemas renais. Segundo ela, os exames mostraram alterações e foi descoberto que ela só possuía um dos rins funcionando. O outro já estava atrofiado.
“Como durante a gestação não pude fazer nenhum exame mais preciso para saber o que tinha acontecido, logo após o parto eu fiz os exames mais específicos, como cintilografia, tomografia, e aí foi diagnosticado que eu tinha um refluxo plurilateral, que tinha afetado os dois rins, dando atrofia renal no rim esquerdo, e já com as sequelas no outro rim. Após o nascimento da minha filha, quando ela já tinha dois anos, eu fiz uma cirurgia em Salvador, para a correção desse refluxo”, relatou Carolina.
Foto: Arquivo Pessoal
Segundo a pedagoga, durante 16 anos ela teve uma vida normal somente com um dos rins. Após esse período, ocorreram complicações e Carolina precisou decidir entre passar pelo procedimento de hemodiálise ou realizar um transplante.
“Um médico cardiologista que era amigo do meu esposo, que também é médico, disse: 'não, você é muito nova para começar uma hemodiálise ou diálise. Por que você não tenta um transplante? Você tem muitos irmãos, tem muitas pessoas amigas, tenho certeza que dentro da sua família, você vai achar um doador'. E na mesma hora ele ligou para um colega, e me encaminhou para um urologista. E eu fui na mesma semana, chegando lá encontrei outro anjo, que é uma médica que tinha acabado de chegar de São Paulo, o hospital Dom Pedro estava acabando de voltar a fazer transplantes. Ela sentou comigo, sentou com meus irmãos, explicou todo o processo e ela começou a trabalhar, passando todos os exames para poder adiantar, correr contra o tempo, para que eu pudesse fazer transplante ao invés de fazer a diálise, e graças a Deus deu tempo. Esse processo durou oito meses e eu consegui fazer o transplante sem precisar entrar no processo de diálise”, recordou.
O transplante de Carolina Karla ocorreu em 2016, e o doador foi um de seus irmãos, o mais jovem da família. Para ela, aquela foi uma fase de milagres em sua vida, em que viu tudo se encaixando da melhor forma, tanto que passado um longo período, após o nascimento da sua primeira filha, a pedagoga sentiu o desejo de encarar uma nova gestação.
Foto: Arquivo Pessoal
“A gente só tem a gratidão a Deus e a meu irmão por esse gesto nobre. E graças a isso eu puder ter minha segunda gestação, tanto que quando eu quis engravidar, a primeira pessoa que eu fui falar, que eu fui contar dessa minha vontade foi a ele, perguntei o que ele achava e a resposta dele foi: 'você está esperando o quê? Já passou do tempo'. Graças a Deus eu tenho uma família maravilhosa, nós somos unidos e graças a Deus tudo deu certo, como a gente pesou e sempre esperou”, destacou.
Conforme Carolina, após a decisão de engravidar novamente, veio outro período de desafio e teste da sua fé. Foram oito anos tentando a segunda gestação. E quando já estava próxima de desistir, um novo milagre aconteceu.
“Eu sempre tive muita vontade, sempre acreditei, mas teve um momento que eu achei que isso não seria possível, pois foram 8 anos tentando. E chegou a uma fase que eu fiz três fertilizações In Vitro, antes da minha filha vir, e ela veio naturalmente. Eu acho que para quem passa por esse processo de tentar fertilizar e não dar certo, de tentar natural, e ver o tempo passando e não conseguir, acho que passa na cabeça aquela frase, ‘Deus não quer, não é para mim, já passou’. E de repente, quando eu relaxei, quando praticamente desisti, chegou. E eu digo que a minha primeira filha veio para me salvar, que foi quando eu descobri meu problema, e a minha segunda filha veio como um milagre, porque depois de tantos anos tentando, ela chegou graças ao meu transplante, porque eu só pude ter por conta disso, pois sem isso eu não teria. E como um milagre ela veio em uma fase que eu já tinha praticamente desistido”, afirmou.
E é por esse motivo que a pedagoga se emociona ao falar da filha mais velha, que este ano ficará longe, e também da mais nova, pois para ela, as duas representam todo o amor e entrega que alguém pode ofertar neste mundo.
Minhas filhas significam tudo, é o amor divino, é amar além de você. É se abdicar de tudo, é um amor sem explicação, de doação, querer o melhor sempre e tudo que você pode dar ao outro, acima de você. Elas me completam, são tudo para mim e nelas eu me realizo. Deus me deu tudo que eu queria. Mas ao mesmo tempo, me sinto realizada por minha filha mais velha estar realizando o sonho dela, pois lutou muito por essa bolsa e está pensando no futuro dela. Como mãe também não posso ser egoísta e mãe tem que se realizar no sonho dos filhos. Que nenhuma mãe desista dos seus sonhos, que não desistam de fazer, por mais impossível que elas achem, que elas tenham fé, botem o joelho no chão e acreditem. Peçam ajuda, conversa, porque buscar apoio também é preciso”, declarou.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade
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