Rachel Pinto
Os encândalos envolvendo a empresa JBS e a operação Carne Fraca deflagrada pela Polícia Federal tiveram um impacto forte na economia brasileira, sobretudo no mercado de carne. Alguns países suspenderam as exportações e aos poucos estão retomando-as. Em Feira de Santana, a situação da longa estiagem que afeta a região prejudicou mais do que escândalo envolvendo a JBS, resultando em reflexos negativos e a queda de preço do boi gordo.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
O comércio de gado, uma das bases econômicas da cidade, assim como é um dos fortes elementos históricos e culturais, contextualizado através das feiras de animais está passando por uma fase difícil. Muitos produtores lamentam os prejuízos, mas não perdem a esperança de dias melhores.
O pecuarista Miguel Pinto, em entrevista ao Acorda Cidade, comentou sobre esses impactos e contou como está atualmente o mercado de carne em Feira de Santana. Para ele, os prejuízos causados pelos escândalos da JBS e da operação Carne Fraca foram maiores em relação à exportação.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“O mercado teve obviamente um impacto forte. Mas, referente à questão da Carne Fraca, ela foi esclarecida porque obviamente alguns países suspenderam no primeiro momento as exportações. No entanto, como viram que a situação não era bem aquilo que foi colocado, eles retomaram. Internamente para o Brasil isso foi uma posição boa, demonstrando que a carne do Brasil está sendo colocada no mundo por um todo. Nós somos o segundo maior produtor de carne mundial e temos o maior rebanho comercial do mundo. Estamos aptos à exportação e eu acho que as exigências que existem da exportação são bem maiores do que as exigências internas. E isso refletiu de uma forma, eu acredito que positiva porque houve de imediato o retorno desses países que compravam carne. A outra questão da JBS é uma questão mais delicada, porque existe hoje um domínio, um percentual alto da participação da JBS a nível de Brasil e ninguém sabe como vai ficar. Há especulações e a gente não pode fazer nenhum prognóstico, só esperar acontecer”, afirmou.
Miguel Pinto observa que o mercado de carne no Brasil é um mercado que atua como um todo e varias regiões estão relacionadas. Um problema ou situação que acontece em determinado local pode interferir em outras regiões, assim como foi o caso de Feira de Santana. Ele acrescenta ainda que em Feira de Santana o caso é mais grave devido ao momento da estiagem.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“O nosso caso é mais grave e eu entendo porque é o momento da grande estiagem que nós estamos atravessando. Isso sem sombra de dúvidas é muito mais prejudicial ao mercado, do que até o problema da JBS. Feira de Santana é a porta do semiárido. Se você for olhar o semiárido de toda a Bahia, ele está passando por dificuldades estúpidas. Falta água, alimentação e então a pecuária está bastante debilitada. Em outras regiões da Bahia, do sul e do oeste da Bahia, há situações já ajustadas na parte da falta de chuva. Obviamente esse impacto dessa questão da JBS atinge diretamente o produtor. A gente sabe disso e em situações momentâneas favorece o comprador da carne. O comprador final, obviamente que aí vai ter a questão de quem faz esse negócio, que existe uma previsão da manutenção de preços por vários fatores. Essa manutenção de preços vai gerar sem sombra de dúvidas uma especulação de preços melhores, ou seja, preços melhores para o consumidor final. Se isso está ocorrendo ou não, não depende da gente levar a frente essa posição”, disse.
Preço do boi gordo
O pecuarista está confiante que a situação da JBS terá um fim, assim como podem melhorar as chuvas. Ele observa que vários setores sofreram os reflexos desse contexto e o setor frigorífico, que é um grande setor de emprego e que está embutido no agronegócio no Brasil, tem perspectivas de melhoras. De acordo com ele, o preço do boi gordo que chegou a ser de R$170 a arroba, caiu para R$145.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“O preço caiu aqui na nossa região e isso atrelado ao consumo, que é um fator determinante. A falta de animais na região, tudo isso vem fazendo o momento econômico que nós passamos, porque atingiu todas as camadas, todo mundo está sendo prejudicado com esse momento econômico e obviamente que uma série de fatores influencia. Mas, eu entendo que essa questão da JBS terá um fim. Esse fim pode sofrer um trauma no início, mas no final, nós precisamos gerar. O setor frigorífico, é um grande gerador de emprego. Quem vem equilibrando o Brasil é o agronegócio, no qual o setor frigorífico está embutido nesse processo e eu vejo assim como muita perspectiva de a coisa não ir para o fundo do poço porque o Brasil precisa se alimentar e fornecer carne para o mundo, como é o caso que ele faz hoje”, salientou.
Em Feira de Santana não há unidades de abate da JBS
O pecuarista Miguel Pinto explica que na região de Feira de Santana não há influencia de abates do frigorífico JBS. Há influência no estado da Bahia, especialmente da região de Itapetinga.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“Na nossa região não temos influência de abates do frigorífico JBS em nenhuma unidade. Temos no estado da Bahia, na região de Itapetinga, que provavelmente, com a diminuição do abate e que não foi só lá, nas outras regiões produtoras como o oeste do Brasil, o centro-oeste do Brasil, o sul do Brasil, as informações que chegam é que realmente houve uma diminuição de abate. Havendo essa diminuição de abate existe uma sobra de animais. Logicamente, que o criador vendo essa situação, ele também não quer fazer negociações a prazo com ninguém. Não é só a questão do JBS, qualquer frigorífico que dá alguma dificuldade, nenhum criador, quer vender os animais, a não ser à vista. Eu não sei como está a compra, mas até onde eu sei, no município de Itapetinga está tendo essa retração grande de abate, por causa exatamente do JBS”, ressaltou.
Rebanho sofre com a estiagem
Em Feira de Santana, Miguel Pinto destaca que o mercado de carne está sendo abastecido especialmente por animais que vêm de fora. Na região, não há pastagens e os poucos rebanhos mantidos são em processos de confinamento ou outras tecnologias da pecuária. Também falta água, mas os produtores não perdem as esperanças da chegada das chuvas e até agosto ou setembro a situação melhore.
Foto: Ed Santos/Acorda Cidade
“Hoje o município de Feira de Santana é abastecido por animais que vêm de fora, poucos animais. Muito pouco; existem alguns confinamentos, modernizações que estão sendo implantadas na pecuária. Lógico que isso favoreceu muito a atividade pecuária. Mas, na hora que você não tem o volumoso, que é o que o animal precisa ter no pasto, que é o capim, para ele servir de complemento de alimentação para ele, você não pode manter esses animais nessas regiões. Há a falta de água, e não temos previsões corretas das chuvas. Porém, isso pode mudar e eu não acredito que a gente tem que entender que tudo está acabado. A gente tem que ter esperança, porque é a última que morre, finalizou.
Com informações do repórter Ed Santos do Acorda Cidade.