Entrevista

Psicólogo fala sobre caso em que garoto é acusado de matar família

Ele afirmou que apesar do garoto ter apenas 13 anos, ele tinha treinamento virtual para cometer os assassinatos, devido aos jogos de videogame que, segundo as investigações, ele jogava.

Daniela Cardoso
 
Um crime que aconteceu na madrugada de segunda-feira (5), em São Paulo, está chocando e intrigando a polícia e a sociedade brasileira. O garoto Marcelo Pesseghini, de 13 anos, é o principal suspeito de matar os pais policiais militares, a avó e a tia-avó. Ele teria ainda ido à escola no período da manhã e se matado após retornar para casa. 
 
O psicólogo especialista em saúde mental, coordenador e autor do Projeto do Núcleo de Psicologia da Polícia Militar da Bahia, Alfredo de Moraes Neto, esteve na manhã desta quarta-feira no programa Acorda Cidade onde debateu o assunto. Ele afirmou que apesar do garoto ter apenas 13 anos, ele tinha treinamento virtual para cometer os assassinatos, devido aos jogos de videogame que, segundo as investigações, ele jogava.
 
Acorda Cidade – Esse tipo de caso tem explicação?
 
Psicólogo – Existe um abalo dos brasileiros com relação a esse caso, uma criança de 13 anos cometer um crime nesse porte, mas a gente tem que ver os viesses desse acontecimento. Pelo que eu vi em reportagens, ele tem na capa do Facebook o personagem de um jogo de videogame chamado ‘Assassino’, que tem várias versões e algumas vezes são distribuídas gratuitamente em revistas de games. Hoje vivemos uma crise de abstração. O que a criança e o adolescente são? O que a família se tornou nessa modernidade? Quais são os papéis dos pais na modernidade, onde muitas vezes eles não estão em casa e a criança é criada por instituições ou por babás? Isso é o mundo da abstração, que muitas vezes é vivida pela internet, pelo celular… Pelas relações que não existem mais. Temos relações pontuais na escola, onde não dar muito para conversar, pois a maior parte do tempo a criança passa estudando. Quando a criança chega em casa, não ver a figura dos pais e com isso tem a educação via videogame. 
 
AC – Pode existir uma relação do assassinato com o fato dele jogar esse game?
 
Psicólogo – Nesse jogo específico, o personagem principal é um grande matador. No game você mata e depois joga de novo, porque ressuscita. Numa analise subjetiva, a criança entrou em casa, assassinou a família, foi pra escola e quando voltou viu que a família estava morta. Ele passou do abstrato para o real de imediato e se matou.   
 
AC – As crianças estão sem limites?
 
Psicólogo – Hoje os pais têm uma culpa imensa por não estarem dentro de casa e o reforço é sempre positivo. O filho cometeu um erro e ganha um presente, porque o pai se culpa por não está em casa. O erro foi deturpado. Os adolescentes estão queimando etapas. Hoje temos pequenos adultos. As relações sociais estão mudadas, é tudo muito imediato. Não houve tempo para a maturação desse adolescente.
 
AC – É possível que esse adolescente já tivesse planejado o crime?
 
Psicólogo – Sim. Há a informação de que ele teria falado com um colega que queria matar os pais, pegar o carro e ser um matador de aluguel. Nós temos uma crise enorme de informações de filmes e até de alguns meios de comunicação irresponsáveis, onde mostra a morte banalizada. O irmão do pai da criança, afirma que acha muito difícil alguém da ROTA ter sido surpreendido por um a garoto de 13 anos. Ele duvida que o garoto tenha cometido esse crime. Porém o garoto pode ter surpreendido os pais, pois ele tinha esse treinamento virtual. 
 
AC – É possível os pais controlarem esses games?
 
Psicólogo – É muito difícil esse controle. Os pais perderam a responsabilidade pela criação dos filhos. Hoje os pais acham que a culpa da escola. Os valores mudaram. Controlar o que os filhos assistem é responsabilidade dos pais.
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