Daniela Cardoso
Entrevista
Militante destaca a luta e as vitórias da população negra no Brasil
De acordo com a Mestra em História Social, Karine Teixeira Damasceno, que é militante do Movimento Negro Unificado e da Frente Negra Feirense, o 20 de novembro é uma referência de luta da população negra na experiência, que é a partir da escravidão no Brasil.
O Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro, no Brasil é dedicado a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. Para falar sobre o assunto, a Mestra em História Social, Karine Teixeira Damasceno, que é militante do Movimento Negro Unificado e da Frente Negra Feirense, esteve no programa Acorda Cidade desta terça-feira (20). De acordo com ela, o 20 de novembro é uma referência de luta da população negra na experiência, que é a partir da escravidão no Brasil.
Quem foi Zumbi?
Zumbi foi um líder negro do Quilombo de Palmares, que foi destruído. Nesse Quilombo as pessoas tinham uma experiência de organização diferente da sociedade escravista. A população tinha condições de viver a sua religiosidade e de poder compartilhar de tudo que era produzido, além disso, se tratava de uma experiência que não acolhia somente os negros. Existia também uma população branca e podre, que era excluída da sociedade. O nome de Zumbi aparece sempre muito forte trazido pelo movimento negro, sobretudo a partir dos anos 70 e 80. Além de Zumbi, temos também Luiza Main, que é uma referência feminina. Se sabe muito pouco sobre ela, mas enfim, foram personagens fundamentais para essa luta.
Qual a importância dessa data?
Essa data inicialmente é um dia da Consciência Negra e passa a se tornar feriado em torno de 800 municípios brasileiros, não é o caso de Feira de Santana nem da capital baiana, Salvador, que tem a maior população negra fora do continente africano, mas o movimento está crescendo. Nós estamos até avaliando uma repaginação no 20 de novembro. Estamos pesando no mês negro para uma discussão mais ampla.
Como você vê a situação atual do negro no Brasil?
Temos percebido muitos avanços, está aquém do que precisa ser feito, mas conseguimos perceber essas melhorias. Nos anos 2000 podemos citar a aprovação da lei que torna obrigatória o ensino da história e cultura africana. O único problema é a aplicabilidade, que é fundamental e existe um nó em torno da lei. Outra vitória, é a adesão da lei de cotas em várias universidades públicas. E agora recentemente foi aprovado que universidades estaduais e institutos federais reservem essas vagas. São conquistas importantes.
De onde você acha que vem a valorização da beleza negra?
Tem haver com essa luta que temos travado no Brasil inteiro. Temos nos fortalecido e se olharmos para Feira de Santana, o debate traz esse saldo. Esse debate faz com que as pessoas comecem a se repensar dentro da diversidade que se forma a sociedade brasileira. Isso é extremante positivo.
O negro se auto-descrimina?
Temos uma cultura racista e no movimento negro não entendemos que não o racismo pelos próprios negros. O branco é educado a achar que é superior e os negros no sentido inverso, então por conta dessa opressão e dessa relação tensa que existe, a nossa postura tem sido algumas vezes agressivas. Desse ponto de vista nós não entendemos o negro como racista.
O sistema de cotas não é racismo?
Não. A ideia não é o racismo as inversas, porque para a pessoa ter acesso ao sistema de cotas, ela tem que ser aprovada no vestibular. Queremos garantir o acesso a universidade, reconhecendo que existe uma desigualdade de oportunidades, pois escola pública não da conta de preparar, e os negros estão na escola pública majoritariamente. Queremos que a disputa seja feita no mesmo pé de igualdade dos alunos da escola particular, que são na sua maioria brancos. É uma política que tem a perspectiva de reduzir as desigualdades.
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