Laiane Cruz
Esta semana, em entrevista ao Acorda Cidade, a dona de casa Adriana Batista de Jesus, mãe de João César de Medeiros Neto, 13 anos, e José Adriano de Jesus Medeiros, 11, fez um apelo pedindo doações de medula óssea para os seus dois filhos, que sofrem de aplasia medular (doença caracterizada pela alteração no funcionamento da medula óssea) e necessitam urgente do transplante.
O médico José Rogério Carneiro Cordeiro, responsável pelo Banco de Sangue do Hemoba, explicou no Acorda Cidade, como é o procedimento para realizar a doação.
Acorda Cidade- O que é a medula óssea?
José Rogério – A medula óssea é a indústria do sangue do organismo da gente; fazendo uma analogia, é como se fosse o tutano de dentro do osso. Essa indústria vai fabricar os componentes do sangue: as hemácias, os leucócitos e as plaquetas. A hemácia é responsável por levar o oxigênio no organismo da gente. Quando você respira, o oxigênio vai para o sangue e é carreado por essas células para todas as partes do corpo e entra em diversas reações químicas, responsáveis por dar energia. Se tiver algum problema de fabricação dessas células, não vai haver essas reações químicas e o paciente começa a ficar um pouco debilitado. Os leucócitos são como se fossem os soldados de defesa do nosso organismo. Então se a medula não estiver funcionando bem, não vai ter esses soldados, e se a pessoa pegar alguma infecção vai haver uma situação grave. O terceiro componente são as plaquetas, que são os operários, que se houver qualquer sangramento, eles vão tentar tapar o buraco de onde está surgindo. Uma medula que não funciona bem tem propensão a ter sangramentos. E você tem que ter uma nova indústria para ser colocada lá. E como é feito isso? É uma doação de medula óssea.
Acorda Cidade– Quais são os procedimentos necessários para quem quer fazer essa doação?
José Rogério – O primeiro passo é a pessoa se cadastrar num banco de doação de medula óssea. Nós fazemos esse trabalho no Hemoba, vizinho à emergência do Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA). Pode ser qualquer pessoa de 18 a 54 anos, que esteja gozando de boa saúde e que leve um documento de identidade como foto para ser cadastrado. Esse é o primeiro. Aí o que vai ser feito: vai ser retirado 5ml, apenas, do sangue, para estudar o sangue desse doador, pois o sangue da gente tem diversas proteínas inerentes a cada pessoa. Esse estudo é colocado no banco de sangue e quanto tiver um receptor compatível com ele, esse doador será chamado novamente no banco de sangue, e nós vamos repetir o texto. Aí sim, ele será enviado- o governo paga esse deslocamento- até onde está esse receptor, que precisa da doação.
Acorda Cidade – Sobre o processo de doação, o que é retirado: o sangue ou o tutano?
José Rogério – Vai depender da estrutura do local onde está o paciente. Tem alguns centros mais avançados, onde você vai ficar sentado numa cadeira, vai colher o sangue por meio de uma pequena agulha e esse sangue vai passar por uma máquina, que vai filtrar as células que seriam uma parte da indústria do sangue. E quando tiver uma quantidade suficiente, geralmente 15 ml, então encerra o processo. O mais comum, pois não são todos os centros são tão avançados, o paciente será submetido a uma anestesia geral, e o médico vai utilizar uma agulha um pouco mais grossa que irá perfurar o osso da bacia, e vai fazer algumas punções até ficar com a quantidade suficiente para se fazer o transplante. E aí faz o curativo e no outro dia a pessoa vai para casa.
Acorda Cidade – Por que tem que ser tirado da bacia. É lá que é o setor da produção?
José Rogério – É onde está a indústria do sangue. Como essa indústria é uma coisa tão importante, então existe esse arcabouço para proteger a medula óssea.
Acorda Cidade – E as chances de compatibilidade são grandes ou pequenas?
José Rogério – Esse é o problema. Por isso precisamos que o banco de dados de medula óssea seja cada vez maior. Quando um paciente que precisa da doação tem um irmão, a chance de ser compatível gira em torno de 25 a 35%. Não sendo um parente próximo, ele vai ter de 1 a 100 mil para encontrar um doador. É por isso que nós trabalhamos para que cada vez mais pessoas se cadastrem para poder doar, para ver se nós encontramos um doador compatível.
Acorda Cidade – Quem se cadastra passa a fazer parte de um cadastro nacional, não é isso?
José Rogério – Isso. Nacional e mundial.
Acorda Cidade – E quanto aos hospitais. Aqui no Clériston e em Salvador faz? Como é a rede para fazer isso?
José Rogério – Esses pacientes que tem problemas hematológicos e mais complicados, aqui em Feira de Santana nós ainda não temos a estrutura para fazer a doação de medula óssea. Existem hospitais de referência e esses pacientes são conduzidos para lá.
Acorda Cidade- A colocação da medula no paciente é um procedimento simples também?
José Rogério – É simples também, pois é venoso. O problema do receptor é que ele vai ser submetido a um processo que vai destruir por completa aquela indústria dele. E vai ter medicamentos para poder tirar. Só que à medida que ele faz isso, ele vai ter a reserva dele, só que isso demora certo tempo. E qualquer infecção pode ser fatal.