Acorda Cidade
Diante da pandemia do Coronavírus, as pessoas estão cada vez mais preocupadas com os riscos de infecção, especialmente grupos de risco, como idosos ou quem tem baixa imunidade. Para esclarecer se essas pessoas precisam realmente de cuidados a mais e tirar outras dúvidas sobre o assunto, o Acorda Cidade conversou com a médica reumatologista Teresa Amoedo.
Confira a entrevista na íntegra
Acorda Cidade – As pessoas que tem artrose, osteoporose, que tem gota, fibromialgia, elas são imunossuprimidas?
Ana Teresa Amoedo – Não. Não são doenças que dão uma alteração nas defesas do organismo. Quais são as doenças que a gente tem que se preocupar, porque naturalmente já tem uma alteração na imunidade? O lúpus eritematoso sistêmico, a artrite reumatoide, todas as doenças autoimunes. A esclerodermia, doença mista, espondilite anquilosante, as vasculites e as outras doenças autoimunes como a própria doença inflamatória intestinal, a retocolite, doença de crôn. Todos esses pacientes que tem doença autoimune tem uma imunidade mais comprometida.
Acorda Cidade – O que significa uma pessoa ter uma doença autoimune?
Ana Teresa Amoedo – Autoimune é porque o próprio sistema imune agride o organismo, por isso se chama autoimunidade. Esses pacientes por si só já são imunologicamente comprometidos.
Acorda Cidade – Como é o tratamento dessas doenças?
Ana Teresa Amoedo – O tratamento dessas doenças pode comprometer mais ainda a imunidade. Quem tem artrite reumatoide, quem tem lúpus, geralmente usa o que a gente chama de imunossupressor. O metrotecsate e o grupo de pacientes da terapia biológica, que é uma terapia relativamente recente e que trata doenças autoimunes inflamatórias, também funcionam como imunossupressor. Todos esses pacientes que fazem o uso de terapia biológica, que fazem o uso dessas medicações do tratamento de artrite, de lúpus, são imunologicamente comprometidas e precisam utilizar todas as medidas gerais e mais um pouco. Devem evitar aglomerações e contato próximo. Quanto ao uso da máscara, é o pouco controverso. A gente sabe que as máscaras estão em falta na cidade. A máscara pode ser uma faca de dois gumes, porque ela deve ser usada para quem está com risco de contaminar as pessoas e não para a pessoa não se contaminar. Às vezes, a manipulação errada é muito pior do que não usar a máscara. Os grupos de risco, a população que está exposta aos pacientes de coronavírus, o ideal é que usem máscara. A gente tem a máscara AN95, que é mais eficaz, mas a máscara comum também pode ser usada, porque a gente não encontra a outra com facilidade.
AC – A pessoa que fez cirurgia de tireoide com câncer maligno, é de baixa imunidade?
Ana Teresa Amoedo – O próprio processo de doença neoplásica, de câncer, pode também comprometer a imunidade, independente do tratamento. Os pacientes que fazem quimioterapia também ficam imunocomprometidos. Esses pacientes que fazem tratamento de câncer estão no mesmo grupo dos pacientes de imunossupressão e precisam ter um cuidado redobrado. Outra dúvida que tem surgido com frequência é se a pessoa pode viajar, se pode ficar se deslocando de uma cidade para a outra. As pessoas precisam entender que quando a gente fala “fiquem em suas casas, quem puder”, realmente é para sair somente em casos de necessidade. As crianças estão sem aula, não é para ficar se encontrando com outras crianças, não são férias. As pessoas estão confinadas em suas casas para se proteger e proteger os outros.
AC- Quem tem a doença de Crohn está mais vulnerável ao Coronavírus e quais os cuidados que devemos ter?
Ana Teresa Amoedo – A doença de Crohn é uma doença inflamatória intestinal, inclusive em que pode ser utilizada a terapia biológica. Essa paciente deve ter mais de 40 anos, então já é um grupo de risco e com a doença de Crohn, mais ainda. Realmente precisa ter os cuidados necessários, inclusive de evitar exposição desnecessária.
AC – Quem tem hipotireoidismo é autoimune?
Ana Teresa Amoedo – Em relação ao hipotireoidismo, geralmente é consequência de alguma doença da tireoide. A gente chama de tireoidite hasimoto. Ela é uma doença autoimune e como toda doença autoimune, pode comprometer o sistema imunológico, embora seja numa proporção muito menor do que outras doenças mais inflamatórias sistêmicas, como por exemplo, o lúpus, a artrite e a própria doença de Crohn.
AC – Pessoas que são operadas de bariátrica tem uma imunidade baixa?
Ana Teresa Amoedo – A bariátrica realmente mexe com os nutrientes dos pacientes e pode, de certa forma, deixar ele mais susceptível. Mas, a princípio, não é uma doença autoimune ou uma doença imunossupressora.