Laiane Cruz
Diante do aumento no número de casos das doenças infecciosas transmitidas pelo mosquito Aedes Aegypti, o Acorda Cidade entrevistou a médica infectologista Normeide Pedreira. Ela esclareceu as principais dúvidas da população sobre como se dá a transmissão da dengue, zika e chikungunya, diagnóstico e tratamento.
AC – Como se transmite a dengue, a chikungunya e zika?
Normeide Pedreira – Essas doenças precisam de um vetor para ser transmitidas. São doenças causadas por vírus, mas tem que ter alguém que leve o vírus para a pessoa, e esse alguém é o mosquito, que transmite as três doenças, o Aedes Aegypti. Existe também outro da mesma família que transmite essas doenças, mas o que predomina mesmo é o Aedes Aegypti.
AC- E no caso das pessoas que sofrem de artrite e artrose?
Normeide Pedreira – O risco que essas pessoas têm é de complicações quando tem a febre chikungunya. Essas que previamente tem artrite, elas podem ter piora dos sintomas da artrite e uma doença um pouco mais intensa.
AC- Quais são os sintomas que cada uma dessas doenças apresenta?
Normeide Pedreira – Essas doenças são muito semelhantes entre si. Todas três podem começar com febre, dor de cabeça, dor nos olhos, muscular e nas articulações. O que vai diferenciar é a intensidade dessa dor, e mais a localização e mais algumas coisas, por exemplo as manchinhas da pele. Com a dengue, apenas 30% das pessoas vão manchar a pele; com a zika, a quase totalidade das pessoas, mas tem algumas que não vão ter manchas na pele; e chikungunya também não são todas as pessoas. As manchas de pele na chikungunya podem ser de vários formatos diferentes, inclusive pode ter bolhas, outros tipos de manchas que não vermelhas, mas são situações menos frequentes. A febre é de intensidade variável e geralmente é mais alta na dengue e pode ser alta e persistente nas três doenças. Para a febre chikungunya o que chama a atenção é a intensidade de dor nas articulações e o inchaço. Essa dor pode ser de capacidade variável, mas pode incapacitar a pessoa temporariamente para execução de tarefas muito simples, como pentear o cabelo, escovar os dentes e calçar um sapato. Mas isso não é permanente, depois vai se recuperar.
AC- Por quanto tempo deve durar essa dor?
Normeide Pedreira – Na maioria dos casos, ela dura poucos dias e depois a pessoa se recupera. Mas pode levar semanas, meses e há relatos de outros países até de pacientes com dor há anos, mas isso não é o habitual. Isso varia de acordo com as pessoas. Algumas prolonga a doença, e outras se recuperam em dias.
AC- Há risco de morte por alguma dessas três doenças?
Normeide Pedreira – Existe, dependendo muito da pessoa que está com essas doenças e se vai ter complicações. Entretanto, entre as três doenças, o risco de morte é maior para a dengue, cujo risco é de 0,2%. As formas mais graves da dengue podem chegar a 2% de mortalidade. No caso da Zika e chikungunya, não se tem dados de mortalidade como os da dengue, elas são doenças que têm mais morbidade. Elas têm mais intensidade de sintomas, mais interferência na qualidade de vida da pessoa enquanto está doente e outras complicações. Lembrar que as três são doenças em que as pessoas devem ter o diagnóstico precoce, para poder fazer o manejo adequado, porque se não tiver o diagnóstico precoce o risco de complicação de qualquer doença se eleva. O que a população deve evitar é banalizar as doenças e não achar que porque está todo o mundo tento Zika, não é nada.
AC- Muitas pessoas estão fabricando repelentes caseiros. Eles são efizazes?
Normeide Pedreira – O que a gente sabe é que as medidas realmente efetivas são aquelas de evitar os criadouros dos mosquitos para impedir que eles se reproduzam. O uso de repelente em algum momento auxilia e em outros momentos se torna ineficiente. Por exemplo, os repelentes que se passam na pele tem um tempo de duração desse efeito e se a pessoa toma um banho, tem que passar de novo. Se a pessoa transpira, há aquele suor e depois a pessoa se enxuga aquele suor, já anulou o efeito do repelente. Então ele é muito bom, mas tem suas limitações.
AC- É correto afirma que está existindo algum de tipo de mutação no mosquito?
Normeide Pedreira – Existe possibilidade de mutação nos vetores, mas isso ainda requer uma comprovação científica para o tipo de mutação.
AC – Como é feito o tratamento dessas doenças e qual o medicamento utilizado?
Normeide Pedreira – Não existe nenhum medicamento para tratar dengue, zika nem chikungunya. O tratamento é basicamente repouso, hidratação e medicação sintomática, que são os analgésicos e antitérmicos. A quantidade de líquido ideal deve ser orientada pelo médico ou equipe de saúde e qual será o analgésico e antitérmico melhor para cada paciente vai ser definido pelo médico.
AC – O que é síndrome de Guillain-Barré?
Normeide Pedreira – A Síndrome de Guillain-Barré é uma inflamação em uma parte do sistema nervoso e que vai comprometer basicamente os movimentos do corpo da pessoa. Essa inflamação vai propiciar o aparecimento de dormência, que geralmente começa nos membros inferiores, nos pés e nas pernas, e que vai progredindo do pé para o restante do corpo. Ela pode varia de intensidade também, tem casos mais graves e casos menos graves. Mas geralmente ela vai subindo e pode chegar aos músculos respiratórios e a pessoa não ter como respirar e precisar da ajuda de aparelhos. O que a gente recomenda é que o tratamento deve ser precoce. Quando as pessoas começarem a sentir dormência, não conseguirem ficar de pé, devem procurar assistência médica imediata, principalmente se tiver tido alguma doença infecciosa nas últimas semanas. Porém, existem outras possibilidades da síndrome de Guillain-Barré, que não só doenças infecciosas.
AC- A síndrome pode levar à morte?
Normeide Pedreira – Pode. Agora o habitual é a pessoa se recuperar.
AC – Ela tem alguma ligação com o zika vírus?
Normeide Pedreira – Na verdade, a síndrome Guillain-Barré pode ocorrer depois de várias doenças infecciosas. Como nós tivemos muitos casos de zika vírus nós estamos vendo uma frequência maior da síndrome, mas basta ressaltar que Guillain-Barré existe há mais de um século. Então a gente não pode dizer que é uma doença nova, que veio junto com a zika. Ela está associada a doenças infecciosas desde sempre, até mesmo uma pneumonia, porém não é frequente.
AC – Qual o tratamento para a síndrome de Guillain-Barré?
Normeide Pedreira – São tratamentos hospitalares, se usa imunoglobulina venosa e dá o suporte que o paciente necessita. O tratamento é individualizado, mas é hospitalar. Não é para tratar em casa.