Infectologista tira dúvidas sobre a febre amarela

_{Daniela Cardoso}

Com o registro de casos de febre amarela em algumas regiões do Brasil, tem aumentado a preocupação com a doença, assim como a busca pala vacina e também as dúvidas. No estado da Bahia, nenhum caso de febre amarela em humanos foi confirmado, porém com a confirmação da morte de macacos infectados pelo vírus, a procura pela vacinação aumentou muito.

Para falar sobre causas, sintomas, contágio, vacinação, contraindicações, entre outras coisas, médica a infectologista Melissa Falcão esteve no Programa Acorda Cidade. Confira a entrevista:

Acorda Cidade – Existem dois tipos de febre amarela. Quais as diferenças?

Melissa Falcão – Temos a febre amarela silvestre, que é o que está acontecendo agora aqui no Brasil e nesse caso a diferença é que o transmissor são os humanos não primatas e o vetor também é outro. No ciclo urbano, nós humanos somos os hospedeiros e o transmissor é o aedes aegypti. No caso da febre amarela silvestre, o humano é um hospedeiro acidental. Por exemplo, quando entra na mata para fazer ecoturismos, para trabalhar, pode acabar sendo picado por esses mosquitos e adquirir a febre amarela.

AC – Podemos afirmar que as cidades já estão com a febre amarela, já que foram encontrados macacos mortos?

Melissa Falcão – Não existe o risco real de epidemia. Existe um alerta de que pode acontecer. Até o momento só foram confirmadas febre amarela em macacos, mas todas as medidas necessárias estão sendo tomadas com o combate ao vetor e a intensificação da vacinação.

AC – A doença é transmitida pelo macaco?

Melissa Falcão – A doença não é transmitida diretamente pelo macaco e sim indiretamente. O transmissor é o vetor, o macaco serve como alerta. Estão é importante que os macacos fiquem vivos, pois eles lançam o alerta de que a febre amarela está chegando. Eles são o indicador da doença. Eles são altamente sensíveis a febre amarela, então eles vão morrer em quase 100% dos casos, se forem infectados pelo vírus.

AC – Quem deve ser vacinado?

Melissa Falcão – Desde 2014 que a Organização Mundial de Saúde (OMS) começou a recomendar uma única dose, sendo que em junho de 2016, isso foi publicado oficialmente. Muitos países, desde o ano passado, que já começaram a usar esse critério de vacinação e o Brasil manteve as duas doses, com o reforço depois de 10 anos. Há dois dias o Ministério da Saúde fez um comunicado de que o Brasil também ia adotar esse modelo e mudar para uma única dose durante toda a vida. Então quem já usou uma dose, não precisa usar nunca mais. Então quem precisa da vacina são as crianças com nove meses de idade. Quem tomou com nove meses, tem que tomar uma dose de reforço com quatro anos de idade. Essa é a única recomendação para repetir. Quem se vacinar após os cinco anos de idade, será essa única dose para o resto da vida.

AC – Existe também a possibilidade de diminuir a quantidade da vacina?

Melissa Falcão – Na África teve uma epidemia grande e não se tinha quantidade de vacina suficiente e houve o fracionamento dessa vacina. O que significa isso? A vacina é 0,5 ml para aplicação em uma pessoa, lá foi fracionado para 0,1 ml para usar a vacina em cinco pessoas. Isso foi feito para dar conta da proteção temporária da população. O que muda com isso? Ao invés dessa proteção para 10 anos, com a dose fracionada, a proteção seria apenas de um ano. Por enquanto isso não vai ser feito no Brasil. O governo está apenas estudando essa possibilidade, caso tenha uma epidemia.

AC – Quem está curado do câncer pode tomar a vacina contra a febre amarela?

Melissa Falcão – Isso depende do tempo que a pessoa tenha encerrado o tratamento. A pessoa que está fazendo tratamento contra o câncer, como quimioterapia e radioterapia, não pode tomar a vacina. Após o término da quimioterapia, tem esperar um período de três meses para tomar a vacina.

AC – Quem não deve tomar a vacina?

Melissa Falcão – Menores de nove meses de idade. Em casos de epidemia a partir de seis meses a gente pode adiantar a vacina, mas menos que isso nunca. Também não podem ser vacinadas mulheres gestantes, que estão amamentando, pessoas que estão em tratamento contra o câncer e quem usa qualquer dose imunossupressora, como, por exemplo, quem tem artrite reumatoide. Pacientes que tem HIV e estão com a imunidade muito baixa não podem usar a vacina. Quem tem alergia a ovo também não pode tomar a vacina, quem tem qualquer doença do timo também não pode, além das pessoas acima de 60 anos de idade.