Daniela Cardoso
A Associação Brasileira do Sono realiza a Semana do Sono 2018, em comemoração ao Dia Mundial do Sono. A médica do sono Carolina Grinfeld e a dentista do sono Eliane Martins falaram ao Acorda Cidade sobre a programação em comemoração ao Dia do Sono e também esclareceram sobre problemas que afetam o sono, além de dar dicas para melhorar a qualidade dele.
Acorda Cidade – Por que foi criado o Dia Mundial do Sono?
Eliane Martins – Existe uma grande preocupação com o sono. Há 10 anos, não se tinha tanta preocupação como se tem hoje, então foi criada a Associação Brasileira do Sono, que é lembrado essa semana. Participamos da Liga Baiana do Sono, em Salvador, que está promovendo em todo o estado o Dia Mundial do Sono. Aqui em Feira de Santana, as ações vão acontecer nesta sexta (16) no Shopping Boulevard, das 10h às 21h, onde vamos esclarecer todas as dúvidas sobre o sono.
AC – Onde a odontologia entra no processo do sono?
Eliane Martins – A odontologia tem caminhado lado a lado com a medicina do sono. O dentista pode ver a questão craniofacial, a anatomia dos ossos do paciente. Pacientes que têm o queixo para trás no perfil chamado Noel Rosa, crianças que têm o palato muito estreito, podem ser sinais da necessidade da colocação de um aparelho ortodôntico para melhorar essa estrutura. O bruxismo do sono também é uma coisa muito frequente nas nossas clínicas diárias, onde é observado o desgaste dental. No caso específico das doenças do sono, a odontologia entra para tratamento da apneia leve e moderada. Apneia seria interrupções do sono, microdespertares em torno de 10 segundos e é detectada no exame de polissonografia. O dentista não tem capacitação para indicar o tratamento, então a pessoa que tem o problema do sono, para ser diagnosticado, precisa procurar o médico do sono. O dentista capacitado pode fazer o aparelho intraoral para tratamento do ronco e da apneia.
AC – O que é bruxismo?
Eliane Martins – É o apertamento dental noturno, que clinicamente é detectado com o desgaste do dente. Normalmente com origem na ansiedade e estresse, mas também algumas doenças neurológicas geram a doença do bruxismo.
AC – O ronco é uma doença?
Carolina Grinfeld – O ronco é sinal de alerta, um sinalizador de que pode ter algo errado com o sono do paciente. O que preocupa mais, realmente, é a apneia do sono, que são as paradas respiratórias que o paciente apresenta à noite e que trazem diversas consequências à vida do paciente. Ele dorme, mas ainda se sente cansado e no dia seguinte fica desatento, às vezes irritado, cochilando em qualquer lugar. A apneia do sono pode gerar problemas ao paciente, como aumento de pressão, o desenvolvimento de uma diabetes tipo dois, disfunção erétil. Então se o paciente ronca e sente que está tendo um sono com qualidade ruim, deve procurar um especialista do sono para investigar.
AC – A apneia do sono dá uma parada respiratória de quanto tempo?
Carolina Grinfeld – A pessoa para de respirar pelo menos por 10 segundos. Alguns ficam sem respirar por mais de um minuto. É perigoso, pois deixa de ir oxigênio para os órgãos.
AC – O que a gente precisa para ter um sono profundo?
Carolina Grinfeld – Geralmente todo mundo tem esse sono profundo. Algumas pessoas que têm algumas doenças, têm o sono profundo antes da hora. Outras pessoas podem diminuir a quantidade do sono profundo. Para regularizar a quantidade do sono profundo, precisamos saber se a pessoa tem algum distúrbio do sono que esteja gerando problemas.
AC – O que causa a insônia?
Carolina Grinfeld – A insônia tem muito a ver com a correria que vivemos hoje em dia. A luz do celular também prejudica muito, pois faz com que a pessoa produza uma quantidade menor de melatonina, que é o hormônio do sono, então as pessoas ficam no celular até tarde e esperam que o sono chegue, mas isso não vai acontecer. O sono não vai chegar. Quem tem essa dificuldade para dormir, tem que limitar a hora para ficar no celular e depois tentar fazer uma atividade relaxante, meditar, não pensar em nada, dormir em um ambiente escuro, diminuir a ingestão de cafeína após o almoço, além de usar roupas confortáveis.
AC – Para as pessoas que só dormem à base de medicamentos, tem como mudar esse quadro?
Carolina Grinfeld – As pessoas, às vezes, tem um problema e já recorrem ao uso de medicamentos. Alguns desses remédios viciam os pacientes, então a pessoa tem que analisar se ainda necessita utilizar esse medicamento, conversar com o médico que prescreveu, ver se o medicamento pode ser retirado e o mais importante é sempre tentar fazer a higiene do sono e o medicamento deve ser a última escolha.
AC – Existe um tempo ideal de sono?
Carolina Grinfeld – Não existe um tempo definido para cada pessoa. Existem os chamados longo dormidores e curto dormidores. Tem pessoas que precisam de 10 horas de sono, tem outras que dormem cinco horas e acordam dispostas. O paciente deve dormir, marcar o horário e acordar no outro dia sem despertador. Ela repete isso por alguns dias, desse modo vai avaliar quantas horas de sono necessita. Os estudos dizem que a média são 8 horas, mas isso é muito individual.
AC – O que é o sonambolismo?
Carolina Grinfeld – O sonambolismo é uma doença benigna, não evolui para maiores consequências e tende a se resolver até os 13 anos de idade. Os pais devem ter alguns cuidados como evitar objetos cortantes. Quando persiste na idade adulta, tem que ser investigado. Tem que estudar a patologia para poder tratar.