Economia

Economista fala sobre dificuldades financeiras em tempo de crise

Um dos principais fatores que contribuíram para essa alta inflacionária é o da alimentação.

Daniela Cardoso

Muito tem se falado em crise econômica no Brasil. Mas afinal de contas, como começou essa crise? A quais setores ela está afetando? Está realmente interferindo no nosso dia a dia? Para ajudar a esclarecer esses e outros questionamentos, o economista Carlos Rangel esteve no programa Acorda Cidade na última quarta-feira (12) para falar sobre o assunto. Veja a entrevista na íntegra.

Acorda Cidade – O que provocou a crise no país?

Carlos Rangel – Vários fatores provocam uma crise. A economia por si já é um ciclo. Ela tem momentos de crescimento, de recessão, como o que estamos vivendo agora. Uma das razões dessa crise brasileira é a situação do quadro econômico e político, principalmente o político, pois estamos vivendo um embate entre o executivo e o legislativo. Isso contribui para que a crise se agrave mais ainda, já que trava o país.

AC – Por que o mundo todo está com essa dificuldade financeira?

Carlos Rangel – O mundo hoje está interligado. Ninguém hoje vive só. A relação comercial é forte e qualquer coisa que afete um lado do mundo, o outro também vai ser afetado. A China, por exemplo, vinha com um crescimento significativo, chegando a 10%, mas tudo tem limite. Então ela chegou até um determinado ponto onde os recursos já estão aplicados e os investimentos feitos. A tendência é estabilizar e houve uma queda. Como a China é grande, exportadora de muitos produtos no mundo inteiro, ela retrai as importações dela e consequentemente todos os países sofrem.

AC – A origem do aumento do dólar é falta de confiança dos investidores no país?

Carlos Rangel – Não só isso. Os Estados Unidos estão enxugando a emissão de dólares no mundo, o que causa uma escassez e logicamente o preço sobe.

AC – O que é a taxa selic?

Carlos Rangel – É a taxa que o governo utiliza como remuneração dos títulos públicos e é um sinalizador do mercado, então quando o banco central aumenta a taxa selic, até por conta do combate da pressão inflacionária que estamos vivendo, ela sinaliza para o mercado que o dinheiro vai estar mais caro e logicamente que isso reflete para o consumidor. Se amanhã, você vai comprar um televisor, por exemplo, os juros já estarão mais caros. A selic é uma ferramenta que o governo utiliza para combater a inflação.

AC – O ministro da Fazenda Joaquim Levy afirmou que não se combate a inflação sem demissão. Como o senhor avalia essa frase?

Carlos Rangel – É um discurso que não é querente com o governo, que sempre fala o contrário. O Levy, desde que assumiu, tem um discurso contrário ao que prega o partido do governo. Quem se lembra do período antes do plano real, sabe o quão nociva é a inflação para os brasileiros. Ela tem que existir, mas controlada em um nível baixo. Se há uma pressão inflacionária, logicamente que o consumidor passa a consumir menos. Com essa crise, com a redução na atividade econômica, ocorre a demissão. Realmente é um remédio amargo.

AC – Quais os principais setores afetados com a crise econômica?

Carlos Rangel – A indústria é um dos setores bastante afetados. A atividade industrial do país tem caído desde o ano passado e as previsões sinalizam que a crise deve continuar até 2016, que também não deve ser um ano fácil. Então é bom ter cautela.

AC – Ela afeta diretamente o nosso dia a dia de que forma?

Carlos Rangel – Um dos principais fatores que contribuíram para essa alta inflacionária é o da alimentação. Outro fator que contribui forte para a inflação alta são os jogos de azar. Aumentou muito o valor das apostas e isso tem um peso na taxa de inflação.
 

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