Feira de Santana

Cerca de 250 veículos com carga perigosa passam por Feira diariamente

Para falar sobre as consequências ambientais de um acidente que repercutiu no país, o técnico de segurança do trabalho Sérgio Aras esteve no programa Acorda Cidade.

Daniela Cardoso

Uma carreta carregada com 35 mil litros de óleo diesel tombou e explodiu na manhã de quarta-feira (29), no viaduto do bairro Cidade Nova, em Feira de Santana. Para falar sobre as consequências ambientais deste acidente que repercutiu no país, o técnico de segurança do trabalho e fiscal ambiental da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Sérgio Aras, esteve no programa Acorda Cidade na manhã desta quinta-feira (30).

Acorda Cidade – Quais são as consequências ambientais de um acidente como esse?

Sérgio Aras – Está muito mais perto de ocorrer um novo acidente, pois são 250 veículos por dia saindo do Polo Petroquímico de Camaçari por via rodoviária e todos passam por Feira de Santana. Então, são 250 oportunidades de algo acontecer. As pessoas poderiam dizer: "Como é que pode acontecer?". Não vou, nesse momento, usar a minha opinião, vou usar dados do 6º Diagnóstico de Condições de Segurança do Transporte Rodoviário de Produtos Perigosos, que de uma forma direta, mostra que o grande problema está nas condições de segurança do motorista transportando produtos perigosos. Ou seja, temos nesse instante, motorista dirigindo há mais de 13 horas, motoristas que usam anfetaminas para conseguir ter condições de ficar acordados – isso tudo são informações contidas no diagnóstico feito por 14 órgãos em Feira de Santana. Temos motoristas que precisam usar óculos e não usam, motoristas que por razões diversas não fazem nem o curso Mopp (curso de movimentação para produtos especiais) nem a atualização.

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Um grande detalhe que eu gostaria de informar é que temos no Brasil, pela legislação, nove classes de produtos perigosos, essas nove classes possuem procedimentos de abordagem devidamente definidos. Porém, também está entre esses 250 veículos que transitam por Feira de Santana uma condição chamada Produto Não Classificado, ou seja, em uma determinada empresa o produto A se misturou ao produto B que se misturou ao produto C e que acabou não sendo nem A, nem B, nem C, então esse produto tem que ser transportado, muitas das vezes, para ser incinerado. Para esse produto não existe um procedimento específico de atendimento de emergência. Um produto como esse pode, por exemplo, reagir com água. Se você jogar água, ele vai piorar a situação ao invés de resolver. Um produto como esse pode ter uma condição de criar um impacto ambiental significativo, formando uma pluma no ar e essa pluma se deslocar ao sabor do vento. Quem for absorvido por essa pluma pode ter sérios problemas ou até a morte.

Eu acho que o acidente ocorrido requer uma reunião extraordinária do Gabinete de Gestão Integrada Municipal (GGI). Há uma necessidade do Gabinete se reunir para que as autoridades cheguem às medidas de prevenção necessárias. O Conselho Municipal de Defesa Civil – que foi muito bem dirigido pelo Coronel Prudente – também deveria fazer uma reunião extraordinária para avaliar, pois nós temos duas situações: ou aprendemos com a nossa própria experiência, com acidentes, danos e vítimas ou aprendemos com a experiência alheia. Por esse motivo, nós precisamos evoluir, olhar a coisa com transparência, porque o grande problema hoje são 250 oportunidades de acidentes envolvendo transporte de produtos perigosos. Precisamos, em Feira de Santana, exigir dessas empresas que instalem de modo permanente uma base que possa dar atendimento com tempo/resposta inferior a cinco minutos.

AC – Essa base é composta de que?

Sérgio Aras – De pessoal, equipamentos e plano que sejam simulados, ou seja, há uma necessidade, inclusive, de se fazer uma simulação para saber, por exemplo, no Anel de Contorno quanto tempo será preciso de atendimento.

AC – Essa base consta em lei ou é questão de bom-senso?

Sérgio Aras – O que consta em lei é responsabilidade do embargador, do transportador e do receptor, em toda e qualquer questão envolvendo o transporte de produtos perigosos. Cabe ao município de Feira de Santana, que tem as autoridades, que faça a reunião extraordinária do GGI, para que se faça uma ata e essa ata seja enviada às empresas dizendo que queremos que elas estejam presentes, pois temos um impacto de 250 veículos por dia e não queremos passar despercebida sobre essa questão.

AC – Haverá algum tipo de punição à empresa dona da carga ou ao motorista?

Sérgio Aras – É muito importante que fique claro que estou aqui atendendo uma determinação do Secretário municipal do Meio Ambiente, Roberto Tourinho, porém o órgão que é licenciador de veículos transportando produtos perigosos é o Inema. Pelo Inema eu não posso responder – teria que ser consultado o Dr. Pacheco, responsável pelo Inema em Feira.

AC – É preciso, a partir de agora, um esquema de fiscalização em Feira?

Sérgio Aras – Não só a fiscalização, como também uma base, que permita o atendimento adequado a emergências. Existe a necessidade de roupas especiais, como o exemplo de ontem, que o produto queimou. Mas poderia ser outro produto que a característica não é queimar, como a Amônia, que é transportada em estado líquido para poder ser viável o transporte e quando ela passa do líquido para o gasoso, se amplia 600 vezes, então eu teria uma pluma de 600 vezes 30 toneladas, aí tranca e a pessoa pode morrer por asfixia. Eu não gostaria que esse assunto fosse esquecido. Quando foi feita a blitz, em um determinado momento, um motorista foi abordado, entrevistado e levado para fazer a anamnése. Esse motorista estava dirigindo a tanto tempo que ele estava atordoado e não sabia dizer de onde vinha e pra onde iria. Esses motoristas dividem a estrada com todos nós.

AC – A que órgão deve ser feita a denúncia quando esses veículos estacionam em bairros da cidade?

Sérgio Aras – As autoridades de trânsito que são responsáveis por essa fiscalização.

 

Colaborou o estagiário Thiago Mascarenhas.
 

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