Entrevista

'Acredito que com a política posso ser útil para o reino de Deus', afirma Irmão Lázaro

Ele ainda falou sobre o trabalho de ressocialização com dependentes químicos e sobre o trabalho musical.

Daniela Cardoso

O cantor gospel Irmão Lázaro, que anunciou recentemente sua pré-candidatura a deputado federal, esteve no programa Acorda Cidade, onde falou sobre o trabalho de ressocialização com dependentes químicos, sobre o trabalho musical e também sobre a decisão de entrar na carreira política. Confira a entrevista na íntegra.

Acorda Cidade – Quantas pessoas são atendidas no centro de recuperação?

Irmão Lázaro – O número de pessoas varia muito. Às vezes estamos com 20, às vezes com 40. O jovem quando se vicia em crack, se não tiver muita força de vontade, até vai para o centro de recuperação, mas infelizmente não tem força para dá continuidade ao tratamento.

AC – O tratamento é voluntário?

Irmão Lázaro – Sim. Não temos como obrigar ninguém a ficar. O centro de recuperação quer ajudar as pessoas que realmente tomaram a decisão e querem apostar em uma mudança. Isso atinge de forma positiva a família, pois durante o tempo que a pessoa fica conosco, é como se a família tirasse férias do desespero. Eu tenho uma livraria evangélica e sempre estou recebendo mães, que às vezes desmaiam de sofrimento. Tenho visto pessoas terem crises por causa do sofrimento que os filhos drogados provocam. Não só com a intenção de tentar ressocializar as pessoas, mas também queremos levar esse tempo de refrigério para as famílias.

Eu conheço os transtornos da droga, pois também me viciei. A sensação que a gente tem quando se liberta, é que realmente a gente estava matando os entes queridos. A minha mãe teve problemas terríveis de depressão, o cabelo dela caiu de tristeza. Hoje como sei o efeito que uma pessoa drogada causa em uma família, eu me coloquei a disposição para tentar ajudar o maior número de pessoas possível.

AC – A decisão de deixar as drogas é difícil?

Irmão Lázaro – É muito difícil, pois no começo é farra, é diversão. Mas chega um momento, por exemplo, no caso da maconha e da cocaína, que a pessoa percebe que a vida dela está indo para o buraco. Com o crack é mais grave, pois a pessoa se transforma. É como se a pessoa virasse um animal. Tudo que ela aprende com seus pais, vai sendo destruído. A pessoa perde o valor moral e ético, esquece da educação que recebeu. A droga é uma coisa extremamente diabólica, mas estamos aqui para tentar ajudar e reverter esse quadro.

AC – Por qual motivo o termo zumbi é utilizado para se referir a pessoas que usam drogas?

Irmão Lázaro – A pessoa drogada perambula durante a noite e também perde a consciência. A droga rouba a sensibilidade da pessoa, rouba a alma. Uma pessoa drogada mata outra sem nenhum ressentimento. A pessoa drogada rouba os familiares, estupra, perde a consciência completamente. A minha oração é para que o poder público se sensibilize com tudo isso e ajude as comunidades terapêuticas. Quando se tira um cidadão drogado da rua, se diminui uma média de cinco assaltos por dia. Se tivermos 100 pessoas internadas, são 500 assaltos a menos por dia. Às vezes a pessoa não se recupera, mas o tempo que ela passa no centro de recuperação, a quantidade de coisas ruins que o marginal provoca na cidade diminui.

AC – O índice de recuperação é bom?

Irmão Lázaro – Ainda é muito baixo, por falta de estrutura. Com o que eu ganho com a música ajuda o psicólogo, o obreiro, que não me cobram, dou apenas uma ajuda de custo. Mas, a gente precisa de mais. Cada comunidade precisaria de um hospital, ou pelo menos um médico, enviado pelo governo.

AC – A sua instituição recebe apoio do governo?

Irmão Lázaro – Não. A gente recebe apoio da família que algumas vezes colaboram com R$ 200, R$ 300. Desse modo a gente vai comprando o que mais precisa.

POLÍTICA

AC – Porque você entrou para a vida política?

Irmão Lázaro – Infelizmente existem algumas situações, principalmente na questão das drogas, que só vamos conseguir ajuda através da política. Estão querendo legalizar a maconha com a maquiagem de que legalização não é liberação. Eu tenho um centro de recuperação e já fui drogado. Eu sei o que é que a maconha faz com a pessoa. Enquanto estamos aqui, leis absurdas estão sendo aprovadas. Então eu acredito que com a política eu posso ser útil para o reino de Deus.

AC – Inicialmente o senhor era candidato a deputado estadual, porque mudou para federal?

Irmão Lázaro – Em reuniões com pastores, com as pessoas que mexem com a política brasileira, chegamos à conclusão que em Brasília eu poderia ser muito mais útil para a causa. A causa da igreja não é legislar em defesa própria e sim em favor da sociedade. Se a igreja como instituição filantrópica está preocupada com a sociedade, a gente tem que interferir nas leis desse país para melhorar a vida das pessoas.

AC – O senhor vai concorrer com Fernando Torres?

Irmão Lázaro – Não. Feira de Santana pode eleger três deputados federais. A gente precisa de mais representantes, precisamos valorizar quem está aqui. São 300 mil eleitores na cidade e pode eleger até três deputados. Eu não vou competir com Fernando, pelo contrário, Feira vai ter seus representantes em Brasília.

MÚSICA

O senhor está com CD novo?

Irmão Lázaro – Sim. O novo CD que se chama O Mundo é Crazy trata dessas questões sociais, e já está nas lojas.

AC – O senhor também tem feito shows no exterior?

Irmão Lázaro – Sim. Tem mais ou menos 10 dez que cheguei dos Estados Unidos. Já levei a banda para Israel, para Europa. Estamos viajando praticamente os quatro continentes. Já fomos à África também.
 

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