Setembro Amarelo

Encontro pela Vida: 1ª Caminhada Ame-se luta contra o suicídio em Feira de Santana

Em 2023, foram 902 casos de suicídios na Bahia, um aumento de 6,2% comparado ao ano de 2022 segundo dados da SEI.

Caminhada Ame-se
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Viver a vida, assim como ela é, e acreditar que isso vale a pena foi uma afirmativa da 1ª Caminhada Ame-se, neste domingo (29), em Feira de Santana. Organizada pelo Conselho Municipal da Mulher Empreendedora e da Cultura (Cemec) com apoio da Acefs, o evento reuniu mulheres e homens para fechar o Setembro Amarelo, mês dedicado à prevenção do suicídio, realizando um apelo pela vida.

No último dia 24, a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) apresentou a atualização do painel de dados sobre suicídios no estado. O estudo mostrou que os homens têm um maior risco de vitimização. Em 2023, em termos proporcionais, 83,3% das vítimas eram homens, enquanto as mulheres representavam 16,7%. Quando analisada a idade da vítima, os adultos (de 30 a 59 anos) eram a maior parte dos casos (54,3%), seguidos de jovens (25,6%), idosos (19,2%) e crianças (0,9%). Veja aqui.

Em 2023, foram 902 casos na Bahia, um aumento de 6,2% comparado ao ano de 2022. Os números revelam que o sofrimento psíquico e emocional das pessoas é um problema sério, real e que tem afetado muitas vidas. Por isso, o primeiro passo para combater o silêncio que existe em torno da saúde mental é falar sobre o assunto.

Caminhada Ame-se
Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Na manhã deste domingo (29), mesmo com chuva, as pessoas foram às ruas para dizer que saúde mental importa, viver importa e que você, pessoa que está passando por momentos difíceis, não está sozinha. Matheus Buttinohe, psicólogo, explicou que o evento tem o objetivo de conscientizar as pessoas da possibilidade de buscar ajuda, mas também para oferecer apoio a quem está precisando.

Matheus Buttinohe | Ney Silva/Acorda Cidade

“Sabemos que tem muito preconceito na busca de ajuda profissional, tanto psicólogo como psiquiatra, e esse autocuidado fica negligenciado, fazendo com que as pessoas acabem adoecendo sem procurar o cuidado devido para melhorar a sua saúde mental e ter uma vida mais feliz e de qualidade.”

Segundo o psicólogo, biologicamente, algumas pessoas possuem uma estrutura psíquica um pouco mais frágil. As experiências acumuladas em vida também podem ser motivos que levam ao descontrole mental.

“Desde criança, nós vamos amadurecendo os fatores psíquicos e emocionais, aí está a importância da escola, trabalhar a inteligência emocional e, no decorrer da vida, nós chegamos a um momento em que às vezes não conseguimos enxergar saídas ou novos modelos de existência. Com a ajuda profissional, conseguimos nos adaptar, porque o ser humano é adaptável. Mas quando nos isolamos, não ouvimos e não somos ouvidos, a tendência ao adoecimento e achar que nada tem jeito é muito forte. Mas sempre há uma saída. Então, quem está me ouvindo, não escute aquelas pessoas que dizem que psicólogo ou psiquiatra é para maluco. Maluco é quem não procura.”

Ney Silva/Acorda Cidade

Genildo Melo, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Feira de Santana (Acefs), participou do evento. Ao Acorda Cidade, ele falou sobre a importância de entidades como o Cemec promoverem essas discussões.

Genildo Melo | Ney Silva/Acorda Cidade

“É um grande orgulho acolher o Cemec. O Cemec é o braço de empreendedorismo feminino que nós temos dentro da nossa Associação Comercial. Ele tem feito um trabalho extraordinário, não apenas no sentido de atrair mulheres empreendedoras, pessoas que estão iniciando os seus negócios agora, dando esse apoio extremamente necessário, mas principalmente com ações como essa, com o Setembro Amarelo, onde existe essa empatia da Associação em proteger o outro, proteger as pessoas.”

Esmeralda Alana destacou a importância da discussão da saúde mental, não apenas neste mês de setembro, mas durante todo o ano.

Esmeralda Alana | Ney Silva/Acorda Cidade

“Precisamos estar atentos aos sinais dos nossos amigos e familiares para que consigamos dar suporte emocional e salvar vidas, que esse é o nosso propósito. O Setembro Amarelo vem com a mensagem de que precisamos acompanhar as pessoas que estão perto da gente para evitarmos o suicídio, que é a forma que, às vezes, a pessoa acredita ser a única solução para a dor que ela vem sentindo e que a gente traga outras formas, outros caminhos, diálogo, e a importância do acompanhamento médico-psicológico justamente para que a gente já evite perder todas as pessoas que amamos.”

Trazendo a responsabilidade para a sociedade, Daniely Santoro destacou a necessidade de toda a população se envolver para combater o mal do século, que é a depressão e que pode levar ao suicídio, assim como outros transtornos psicológicos.

Daniely Santoro | Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“Temos a responsabilidade de nos mobilizar para que as pessoas entendam que não estão sozinhas, que há uma rede de apoio, que vários órgãos estão aí comprometidos para ajudar, e essa é uma responsabilidade de todos. Movimentos como esse têm um papel fundamental de responsabilidade social para despertar as pessoas que, primeiro, o problema não acontece só com elas, e segundo, que não estão sozinhas.”

Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

Buscar ajuda profissional, principalmente médica, é essencial para enfrentar o sofrimento. Entretanto, é importante destacar que as taxas de suicídio também podem estar ligadas a problemas raciais e econômicos. Segundo estudo recém-publicado na The Lancet Regional Health – Americas, desenvolvido pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia), no mundo houve uma redução de 36% no número de suicídios entre 2000 e 2019. No entanto, nas Américas, a situação é oposta, com um aumento de 17% nos casos de suicídio. No mesmo período, no Brasil, os suicídios aumentaram 43%.

As notificações de suicídios e autolesões aumentaram para todas as raças e etnias no Brasil (indígenas, pardos, descendentes de asiáticos, negros e brancos); entretanto, a população indígena apresenta as taxas mais altas, com mais de 100 casos a cada 100 mil pessoas. Para a pesquisadora do estudo, Flávia Jôse Alves, existem barreiras no acesso à saúde que não são iguais. Mesmo com o maior número de notificações, a população indígena apresentou as menores taxas de hospitalização.

A presidente do Cemec, Tatiana Novaes, explicou que, além de chamar atenção para prevenir o suicídio, a caminhada teve o objetivo de arrecadar alimentos para ajudar o Centro Social Monsenhor Jessé, que atende pessoas em vulnerabilidade social. Uma ação importante para ajudar quem mais precisa.

Tatiana Novais | Foto: Ney Silva/Acorda Cidade

“A gente tinha uma expectativa de 210 pessoas (participando), mas estamos vendo que vai muito além disso, porque trocamos todas as camisas e abrimos mão para quem quiser participar, que venham de camisa amarela, de camisa branca, venha como quiser, venham de coração aberto e venham junto a nós participar dessa campanha muito importante.”

Se você considerar que precisa de ajuda ou está em sofrimento psicológico, emocional ou mesmo tem enfrentado muitas dificuldades que apenas você sabe o peso delas em sua vida, procure ajuda. Não pense em resolver tudo sozinho. Você não está sozinho. O primeiro passo é ajuda médica, apoio e orientação. E saiba que tudo passa; nada é eterno.

Veja alguns locais que podem ajudar:

  • Centro de Valorização da Vida, realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. 
  • Mapa da Saúde Mental, que traz uma lista de locais de atendimento voluntário on-line e presencial em todo país. 
  • Pode Falar, canal do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. Também é anônimo e gratuito.

Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade

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