O Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STR) de Feira de Santana promoveu nesta quinta-feira (30) um encontro com trabalhadoras rurais da região do Portal do Sertão, para encerrar o ciclo de atividades em homenagem ao mês das mulheres.
Em entrevista ao Acorda Cidade, Conceição Borges, presidente do STR, fez uma avaliação das atividades promovidas pela entidade durante este período e falou sobre a importância da valorização das mulheres do campo.
“Hoje estamos encerrando, já que foram 30 dias de atividades, em defesa da vida da mulher e pela valorização da agricultura familiar. Fizemos eventos em vários municípios do Portal do Sertão, em todos os distritos de Feira de Santana e também na sede. E hoje o grande objetivo de fazer esse evento foi para cumprir uma tarefa importante, que é a pauta que vem de todas essas comunidades, que serão transformadas em uma carta para ser entregue ao governo do estado da Bahia e ao município, já que na nossa mesa hoje tivemos representantes do governo do estado, do poder público municipal”, informou Conceição Borges.
A programação segue até amanhã, com debates, uma vigília ecumênica, um café da manhã, e a apresentação de todos os documentos produzidos durante o evento para encaminhar ao poder público.
Discriminação contra as mulheres
A presidente do STR refletiu ainda, em entrevista ao Acorda Cidade, sobre a dificuldade de acesso que as mulheres da zona rural têm aos serviços públicos e a discriminação que sofrem na sociedade.
“A discriminação com a mulher da zona rural é pior pelo fato de estarmos na zona rural, e o acesso a qualquer política pública, inclusive, nas questões que dizem respeito à saúde, temos que estar no centro da cidade. Então isso para a gente já dificulta. Na geração de renda e produção de alimentos saudáveis, que é nossa pauta, a gente também precisa investir. Hoje falamos em uma série de violências, e nós do campo temos sofrido a violência, que é não ter acesso ao direito.”
Conceição Borges apontou que a prefeitura de Feira não tem políticas de incentivo para as mulheres do campo produzirem mais.
“A essa altura, praticamente já está todo mundo plantando, e a prefeitura municipal não tem uma política pública de incentivo ao plantio deste ano. No estado, estamos discutindo, mas até então também não apresentou qual é o incentivo real para as mulheres continuarem na produção de alimento e geração de renda. Esse desânimo nos prejudica e nos empobrece.”
Distribuição de sementes
A sindicalista reclamou ainda sobre a política de distribuição de sementes adotada pela prefeitura de Feira.
De acordo com Conceição Borges, a qualidade das sementes tem causado perdas ao plantio anualmente.
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“Nós do sindicato temos uma pauta importante com a prefeitura, que é a não distribuição de sementes, por uma série de fatores. Nos últimos tempos as sementes que são distribuídas não têm se adequado ao nosso solo, porque são sementes que na maioria das vezes vêm do sul do país, que tem um solo e um clima totalmente diferente, e quando chegam aqui ao nosso solo, a gente tem dificuldade. Temos uma germinação boa, mas na hora de produzir temos problemas. O ano passado nossa perda de feijão e milho chegou a mais de 70%. E isso vem ao longo dos anos com essa situação. Nossa pauta com a prefeitura é que não vai distribuir as sementes, porque nós não concordamos com isso, mas também não nos deram nenhuma alternativa que facilite e fortaleça a produção”, informou.
Quintais produtivos
Outra situação que merece um olhar diferenciado por parte da prefeitura é o fortalecimento dos quintais produtivos.
“Hoje na zona rural de Feira de Santana nossa terra é uma quantidade pequena e se transformou em quintais, que para continuarem produzindo, essas mulheres precisam ter algo em seus quintais. Essa pauta já foi discutida com o governo do estado, com o município, e será encaminhada mais uma vez, também para o governo federal”, destacou.
A vereadora Eremita Mota participou do encontro de mulheres do Portal do Sertão para apoiar o evento como mulher e também presidente da Câmara. Ela reafirmou em discurso no evento que é alvo de discriminação e etarismo na Casa Legislativa.
“Vim convidada por esse segmento, que é tão bom e bem estruturado. E dentro desse mês elas trabalharam sobre a questão da valorização da mulher e o respeito, que é muito importante. Infelizmente, eu enfrento discriminação na Câmara. E ao longo dos 20 anos que estou lá, foram muitos ataques morais e psicológicos, mas eu me considero uma mulher forte, pois muitas vezes dentro daquela pressão toda, daquela perseguição, tento dar minhas respostas e me defender sozinha.”
Para Eremita Mota, essa situação poderia ser transformada se mais mulheres buscassem se unir e se envolver na política.
“Eu acho que as mulheres deviam ser mais unidas, dessa forma não teriam 19 homens na Câmara, de 21 vereadores. As mulheres deveriam ser mais presentes nessas ações, tomar parte, para poder se defender. Foi isso que eu disse aqui hoje.”
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade.
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